Se é a primeira vez que está a ler um artigo sobre este tema, importa relembrar alguns conceitos para que melhor possa compreender do que trata a Epilepsia Refratária.
A Epilepsia é uma doença cerebral definida por qualquer uma das seguintes condições:
- Pelo menos duas crises epiléticas ou reflexas, ocorrendo com mais de 24 horas de intervalo;
- Uma crise não provocada e uma probabilidade de novas crises semelhante ao risco geral de recorrência (pelo menos 60%) após duas crises espontâneas, no decurso dos 10 anos seguintes;
- Diagnóstico de uma síndrome epilética.
Uma crise epiléptica é definida como “a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas secundários a atividade neuronal cerebral anormal excessiva ou síncrona”.
Já a convulsão é um termo popular (que já não faz parte da classificação, mas que ficará no uso), ambíguo, usado para significar a atividade motora substancial durante uma crise. Tal atividade pode ser tónica, clónica, mioclónica ou tónico-clónica (1).
Epilepsia refratária: o que é?
De acordo com as novas classificações da Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE), importa referir que alguns dos termos antes usados caíram em desuso para que melhor se possa diagnosticar e haver uma linguagem percetível entre todos os clínicos. Contudo, ao longo do artigo, são usados termos que podem ser melhor entendidos por si e que explicamos de seguida.
Designamos de Epilepsia Refratária quando as convulsões não são controladas com medicamentos. No entanto, pode já ter ouvido falar em outros termos, também usados, como: “não controlada”, “intratável” ou “resistente a medicamentos” (2).
A Liga Internacional Contra Epilepsia (ILAE) sugere a substituição do termo “Epilepsia Refratária” por Epilepsia Resistente a Medicamentos propondo a seguinte definição:
“A epilepsia resistente a medicamentos ocorre quando uma pessoa não consegue permanecer livre de convulsões com ensaios adequados de dois medicamentos para convulsões (chamados antiepileptic drugs (AEDs))” (1).
Contudo, como a capacidade de resposta de um indivíduo ao medicamento da epilepsia deve ser considerada como um processo dinâmico e não como um processo fixo, esta designação/diagnóstico pode ser válida apenas no momento da avaliação e não implica necessariamente que o paciente nunca ficará livre de convulsões após uma manipulação adicional da terapia com AED.
Epilepsia Refratária: o que fazer perante uma crise?
No caso de estar presente quando alguém tem uma crise de Epilepsia Refratária, deve seguir alguns procedimentos (3, 4), a saber:
- Mantenha-se calmo e acalme quem estiver no local;
- Coloque a pessoa de lado com a cabeça baixa, de modo a que a saliva possa escorrer para fora da boca;
- Desaperte a roupa à volta do pescoço;
- Ponha qualquer coisa macia debaixo da cabeça ou ampare-a com a sua mão, impedindo-o de bater no chão ou contra objetos;
- Não tente acordar, não force a levantar;
- Não coloque nada na boca da pessoa;
- Não lhe dê de beber;
- Permaneça junto da pessoa até que volte a respirar calmamente e comece a acordar;
- Ofereça-se para ajudar no regresso a casa ou chamar algum familiar.
Epilepsia refratária e qualidade de vida
A qualidade de vida dos indivíduos com epilepsia está no geral bastante afetada: existe comprometimento do funcionamento intelectual e físico, risco elevado de acidentes e lesões e efeitos colaterais negativos de medicamentos antissépticos (4).
Paralelamente, os estudos apontam para uma maior taxa de desemprego face às suas limitações (1).
Indivíduos com diagnóstico de epilepsia refratária são frequentemente subdiagnosticados com Depressão e Ansiedade. Nestes pacientes, podem ser utilizados tanto medicamentos inibidores da recaptação sináptica da serotonina como ansiolíticos.
Deve-se evitar o tratamento da epilepsia com medicação que pode induzir perturbações afetivas, e preferir a que pode ter efeito estabilizador do humor.
Tratamento
O foco no tratamento é sempre de ajudar os pacientes a ter menos convulsões, reduzir a quantidade de medicamentos e melhorar a sua qualidade de vida pelo que é sempre aconselhado que recorra a um médico especializado no tratamento da epilepsia.
Indivíduos com possível diagnóstico de epilepsia refratária devem dirigir-se a médicos especialistas em Neurologia/Neurocirurgia.
Devem ser avaliados segundo critérios de diagnóstico específicos, onde também é avaliada a duração e a monitorização do tratamento, bem como, é feita a verificação periódica das doses prescritas e dispensadas e a adequação de uso de medicamentos, caso seja necessário (5).
Para a maioria dos indivíduos, a medicação ajuda a controlar as convulsões, mas para outros, procurar outras opções de tratamento pode ser útil. Por exemplo, avaliar a hipótese de recorrer a cirurgia, a terapia de VNS (estimulação do nervo vago) ou realizar uma dieta específica, juntamente com a terapêutica medicamentosa (6).
Aliada a esta componente não devemos esquecer que a intervenção deve ser uma combinação do bem-estar físico, mental e social de cada indivíduo e não apenas a ausência de doença pelo que outros profissionais devem estar implicados (6, 7).
Em suma…
Um diagnóstico precoce, pode ser útil para que se possa recorrer a intervenções preventivas da epilepsia e de aparecimento de comorbilidades. Ao prevenir lesões físicas e consequências sociais evita-se a repetição de crises em indivíduos com alto risco de recorrência (8).
Nem todas as crises não controladas são consideradas refratárias ou resistentes a medicamentos. Por exemplo, se o diagnóstico for corrigido e as convulsões puderem ser controladas com um tratamento diferente, elas não serão consideradas refratárias.
Quando uma epilepsia está resolvida, isso significa que essa pessoa já não tem epilepsia, mas não garante que não a possa voltar a ter.