A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por uma predisposição duradoura para gerar crises convulsivas recorrentes (duas ou mais, separadas, por um intervalo superior a 24h ou uma crise única associada a um risco elevado de nova ocorrência), súbitas e imprevisíveis, as crises epiléticas. Acarreta consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais (1, 2).
A epilepsia e convulsões podem desenvolver-se em qualquer pessoa e idade. Contudo, são mais frequentes em crianças pequenas e idosos. Segundo os dados da Epilepsy Foundation, a epilepsia é a quarta condição neurológica mais comum e afeta mais de 65 milhões de pessoas em todo o mundo (3).
Após os 55 anos, a taxa de novos casos de epilepsia começa a aumentar. O desenvolvimento de derrames, tumores cerebrais ou doença de Alzheimer, podem causar epilepsia (3).
Epilepsia e crises epiléticas: principais diferenças
A epilepsia, como referido, é uma doença que se expressa através de crises epiléticas recorrentes súbitas e imprevisíveis, ou seja, são incontroláveis pelo indivíduo.
Uma crise epilética é quando existe a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas devidos a uma atividade neuronal excessiva ou síncrona (atividade rítmica ou repetitiva) no cérebro, com duração variável, entre alguns segundos a vários minutos (2).
Esta atividade elétrica excessiva que falamos é causada por alterações químicas e complexas que ocorrem nas nossas células nervosas fazendo com que haja um desequilíbrio ocorrendo assim, uma convulsão.
Epilepsia: causas
A causa da epilepsia varia de acordo com a idade da pessoa e nem sempre é conhecida. Das condições conhecidas temos as genéticas, as estruturais e metabólicas como (1, 3):
- Lesão cerebral
- Acidente vascular cerebral
- Infeção cerebral
- Anormalidades estruturais do cérebro
- Fatores genéticos
Outras que poderão ser fatores desencadeantes são:
- Stress
- Privação do sono
- Hipoglicemias
- Toma de medicamentos (antidepressivos, anestésicos, entre outros)
Epilepsia: tipo de crises
Temos a crise epilética generalizada, convulsões que afetam os dois lados do cérebro ou grupos de células e ao mesmo tempo. Pode incluir:
- Crise generalizada tónico-clónica: nesta há perda de consciência. Manifesta-se também através de movimentos involuntários dos membros. Morder a língua, espumar pela boca e incontinência urinária.
- Crise generalizada de ausência: a pessoa fica imóvel com o olhar fixo, durante 10 a 15 segundos. É mais comum em crianças e adolescentes e tende a desaparecer com a idade.
As convulsões focais/parciais, crises que iniciam em uma área ou grupo de células e afetam um dos lados do cérebro. Incluem:
- Convulsões parcial simples: quando uma pessoa está acordada e consciente durante uma convulsão – convulsão focal consciente
- Convulsão parcial complexa: quando uma pessoa está confusa ou sua consciência é afetada
E as convulsões desconhecidas, quando o início de uma convulsão não é conhecido, ou seja, não existem correlatos que a testemunhem (3).
Convulsão: como identificar?
Existem alguns tipos de convulsões e uma mesma pessoa pode ter crises distintas. Estar atento aos sintomas mais comuns durante uma convulsão permitir-lhe-á melhor identificar uma crise e consequentemente ajudar a equipa médica a obter um diagnóstico mais preciso.
Vamos citar algumas das mudanças que podem ocorrer (3, 4):
Mudanças de consciência, sensoriais, emocionais ou de pensamento como:
- Perda de consciência, inconsciente ou desmaio
- Períodos de esquecimento ou lapsos de memória
- Incapaz de ouvir
- Perda de visão ou incapacidade de ver
- Alucinações visuais (objetos ou coisas são vistas quando realmente não estão lá);
- Dormência, formigamento ou choque elétrico como sensação no corpo, braço ou perna
- Sentimento de pânico, medo, destruição iminente (sentimento intenso de que algo ruim vai acontecer)
Mudanças físicas:
- Dificuldade para falar (pode parar de falar, fazer sons ou falar sem sentido);
- Incapaz de engolir, babar-se
- Piscar repetidamente, os olhos podem se mover para um lado ou olhar para cima ou olhar fixamente
- Rigidez muscular
- Tremores, contrações ou movimentos bruscos (podem ocorrer em um ou ambos os lados do rosto, braços, pernas ou corpo inteiro)
- Automatismos (movimentos repetidos e sem propósito) envolvem o rosto, os braços ou pernas
- Movimentos repetidos das mãos, como torcer, brincar com botões ou objetos nas mãos
- Perder o controle da urina ou das fezes inesperadamente
- Sudorese
- Mudança na cor da pele (parece pálida ou corada)
- Mordedura da língua
- Dificuldade para respirar
Diagnóstico e tratamento
As convulsões podem ser pouco frequentes e esporádicas, portanto, difíceis de diagnosticar. Daí ser importante estar atento, caso esteja presente, ao que acontece durante uma crise.
Por norma é o médico que faz o diagnóstico clínico, recolhendo um conjunto de informações detalhadas da histórica clínica e recorrendo ao exame físico, exames radiológicos (Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM)) e Eletroencefalograma (EEG) (1, 3).
O principal objetivo do tratamento para a epilepsia é a redução e/ou evitamento de crises.
A medicação é o principal tratamento para a epilepsia sendo que esta é ponderada segundo fatores como: idade, sexo, tipo de convulsão e risco de voltar a ter, estilo de vida e efeitos colaterais. É usada para controlar as crises e com uma eficácia em 70% dos casos (3).
Mas, como nem todos os indivíduos respondem da mesma forma existem outras abordagens, nomeadamente (3, 4):
- Cirurgia
- Dieta específica em que há um maior aporte de alimentos ricos em gordura – dieta cetogénica
- Neuroestimulação (as crises são controladas através desta estimulação intermitente do nervo vago de forma a regular a atividade elétrica cerebral
- Terapias complementares (produtos naturais; meditação; relaxamento, entre outras)
1. Serviço Nacional de Saúde. Epilepsia: o que é causas e tratamento. Disponível em: http://hff.min-saude.pt/epilepsia-o-que-e-causas-e-tratamento/
2. Sociedade Portuguesa de Neuropediatria (2017). Disponível em: https://neuropediatria.pt/index.php/pt/para-os-pais/o-que-e-a-epilepsia
3. Epilepsy Foundation (2012). Disponível em: https://www.epilepsy.com/
4. Better Health (2018). Epilepsia. Disponível em: https://www.betterhealth.vic.gov.au/health/conditionsandtreatments/epilepsy