Share the post "Endometriose: o que é, como se manifesta e qual o tratamento"
O endométrio é uma das camadas que constitui o útero e corresponde ao seu revestimento interno. Durante o ciclo menstrual, o endométrio é regenerado ciclicamente através de um processo de descamação e regeneração. Esta descamação corresponde à menstruação e ela permite a renovação de todos os elementos do tecido do endométrio.
Ora, a endometriose é uma doença inflamatória, crónica e benigna, que resulta da presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. Durante o ciclo menstrual as células, glândulas e vasos sanguíneos proliferam, como se estivessem no útero. Estima-se que a endometriose afete 10% das mulheres em idade fértil e em Portugal, estima-se que existam 350.000 mulheres com esta doença.
Em 93% dos casos a endometriose localiza-se na zona pélvica, ou perto, mas é possível encontrar em outras zonas, como por exemplo:
- Parede do útero;
- Trompas de Falópio;
- Ovários;
- Bexiga;
- Intestinos;
- Umbigo;
- Pulmões.
Endometriose: principais causas
A origem da endometriose não é totalmente conhecida e, por isso, são apontadas várias possíveis causas, nomeadamente:
- Refluxo do conteúdo menstrual
- Componente genética, se a mãe e a tia têm, o mais provável é a mulher da geração seguinte também ter (em caso de irmãs gémeas, a doença manifesta-se em ambas)
- Fatores hormonais (níveis elevados de estrogénios), raciais (risco mais elevado na mulher caucasiana), ambientais (substâncias tóxicas) ou sociais (stress)
- Disfunção do sistema imunitário
- A menstruação retrógrada através das trompas, fenómeno comum em muitas mulheres, pode facilitar a implantação de tecido do endométrio na zona pélvica e, por isso, desenvolver a endometriose
Como se manifesta a endometriose?
A endometriose, de uma forma geral, provoca o aparecimento de sintomas, sendo que a dor é a principal manifestação da doença. A dor da endometriose é incapacitante e tem um impacto negativo socioeconómico na mulher.
A sua forma de apresentação é muito variável e depende da gravidade da doença e da localização dos focos de endometriose, podendo manifestar-se como:
- Dismenorreia (dor menstrual) ou dor pré-menstrual
- Dispareunia (dor na relação sexual)
- Disquézia (dor ao evacuar)
- Disúria (dor ao urinar)
- Dor inguinal (canal de Nuck)
- Dor torácica
- Dor difusa ou crônica na região pélvica
- Fadiga crónica e exaustão
Outros sintomas para além da dor, que podem manifestar-se isoladamente ou ao mesmo tempo, são as hemorragias e a infertilidade.
Cada mulher é única e difere nas formas de apresentação e sintomatologia da doença, sendo importante salientar que não existe uma correlação entre a intensidade ou a tipologia dos sintomas e o grau de gravidade da doença.
Como se diagnostica a endometriose?
A história clínica da mulher, os sinais e sintomas e o exame médico são importantes no diagnóstico da endometriose. No entanto, na ausência de lesões localizadas de endometriose, são poucos os métodos de diagnósticos não invasivos capazes de detetar a doença.
A ecografia transvaginal (ETV) e a ressonância magnética são os mais eficazes. Estes exames de diagnóstico complementar, têm como objetivo o diagnóstico, a localização e extensão da endometriose, de forma a promover um melhor planeamento da terapêutica à mulher.
Dependendo das queixas e da localização da endometriose, pode ser necessário efetuar uma cistoscopia, retosigmoidoscopia, um clister opaco ou uma tomografia computorizada. Contudo, o método ideal, quer para o diagnóstico quer para o tratamento da doença, é a laparoscopia.
Com uma adequada preparação e planeamento cirúrgico, o médico poderá identificar e tratar a endometriose realizando apenas uma cirurgia.
Como se previne a endometriose?
O desenvolvimento da endometriose não é possível de prevenir, mas essa possibilidade pode ser diminuída através de uma redução dos níveis de estrogénios no organismo.
Nesse sentido, é importante escolher o método de contraceção mais adequado a cada mulher, praticar exercício físico regularmente, de modo a reduzir a massa gorda (fonte de estrogénios) e evitar o consumo excessivo de álcool e de cafeína.
Tratamento
A endometriose é uma doença em que o tratamento é orientado para o alívio da dor e dos outros sintomas, aumentar as possibilidades de gravidez e reduzir o aparecimento dos focos de endometriose.
O tratamento médico consiste no controlo da dor, com a utilização de analgésicos, anti-inflamatórios ou terapêutica hormonal.
O tratamento cirúrgico consiste na remoção dos focos de endometriose por laparoscopia. Sempre que possível, tenta-se eliminar apenas esses focos. Quando não é possível, como acontece nos casos mais extensos, a cirurgia implicará a excisão dos órgãos pélvicos afetados. Em alguns casos, é possível recorrer ao tratamento por laparoscopia, com laser.
Na mulher grávida a doença desaparece, podendo ficar inativa ou reaparecendo num ano e meio depois. Na menopausa, a endometriose tende a ficar inativa, pois a concentração de estrogénio como de progesterona diminuem.
Para além do tratamento convencional, é importante referir a importância da intervenção de outras especialidades, nomeadamente a nutrição, a psicologia, a fisioterapia do pavimento pélvico e as terapias complementares.
Nos casos de infertilidade em que a paciente deseje engravidar, a fertilização in vitro é o método mais eficaz.
A endometriose, quando não diagnosticada e tratada, tem tendência a progredir, invadindo outros tecidos, por isso é importante salientar e reforçar a necessidade de um diagnóstico e tratamento precoce, para evitar complicações.
- CUF. Disponível em: https://www.saudecuf.pt/mais-saude/doencas-a-z/endometriose
- Hospital Lusíadas. Disponível em: https://rotasaude.lusiadas.pt/doencas/sintomas-e-tratamentos/6-factos-importantes-endometriose/
- Sociedade Portuguesa de Ginecologia. (2015). “Consenso sobre Endometriose”. DisponÍvel em: http://www.spginecologia.pt/noticias-da-spg/consenso-livro-endometriose-2015.html