O novo coronavírus está na origem da atual pandemia mas, antes da Organização Mundial da Saúde ter declarado a COVID-19 como uma pandemia, ela foi considerada um surto, uma epidemia e, só depois, uma pandemia.
Porém, mais recentemente, Michael Ryan, diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde, declarou que esta doença se pode tornar numa endemia. Sabe o que isso significa? Vamos apresentar-lhe este conceito e as suas possíveis implicações na forma de lidarmos com o novo coronavírus.
Surto, epidemia, pandemia e endemia: o que significam mesmo estes conceitos?
Antes de explicarmos o significado de endemia, é importante apresentar outros conceitos como surto, epidemia e pandemia, todos eles relacionados com o comportamento e propagação de um vírus.
Eis as definições gerais, tendo por base os esclarecimentos do Serviço Nacional de Saúde (1):
- Surto: refere-se a uma doença que afeta um número inesperado de pessoas numa dada região. No Brasil, são frequentes os surtos de dengue que atingem determinado bairro ou área da cidade.
- Epidemia: designa-se por epidemia uma doença que afeta um número elevado de pessoas em determinada região e espaço de tempo. Em 2017, em Portugal, houve uma epidemia de sarampo.
- Pandemia: dá-se o nome de pandemia a uma epidemia que se dissemina por mais do que dois continentes, como está a ser o caso da COVID-19. Anteriormente, em 2009, a Organização Mundial declarou a gripe A (gripe suína) uma pandemia.
- Endemia: chama-se endemia a uma doença que afeta um dado número de indivíduos, de modo contínuo e expectável, numa determinada localização geográfica. Em Portugal, a leishmaniose canina é uma doença endémica.
Importa frisar que a mesma linha de definição é seguida pelo Centers for Disease Control and Prevention.
Em traços gerais, isto significa que a endemia corresponde a uma doença que vai continuar a existir a um nível indefinido. A sua prevalência vai ser constante ou, pelo menos, regular na população, principalmente em determina área geográfica.
Endemia e COVID-19: qual a relação?
Como é sabido, neste momento, a Organização Mundial da Saúde considera a COVID-19 uma pandemia. Porém, a palavra endemia entrou no léxico recente de muitos de nós quando, a 13 de maio, na conferência de imprensa da Organização Mundial de Saúde, Michael Ryan, diretor-executivo da Organização, declarou que este vírus se pode tornar num vírus endémico e que pode não desaparecer (3).
Ryan estabeleceu, ainda, um paralelismo com o VIH, um vírus endémico que também não desapareceu, mas com o qual, segundo o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde, aprendemos a viver, descobrindo formas de prevenção e terapias e tratamentos para os doentes.
De acordo com Ryan, mesmo com a descoberta de uma vacina, a COVID-19 só poderá ser, eventualmente, erradicada, se essa vacina for altamente eficaz e for tomada por um número significativo de pessoas em todo o mundo.
Para o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde, é fundamental que, perante a descoberta de uma vacina, ela seja amplamente distribuída e as pessoas se mostrem disponíveis para tomá-la. Porém, como conclui Ryan, não há certezas, nem datas, no que respeita à evolução e progressão da COVID-19.
Dr. Maria Van Kerkhove, também presente nesta conferência de imprensa da Organização Mundial da Saúde, acrescentou ainda que é da maior importância que os países e os seus habitantes continuem a apostar em medidas de prevenção da transmissão do vírus, pois tal é fundamental para ajudar a controlá-lo.
Conclusão
Se a COVID-19 deixar de ser uma pandemia e passar a uma endemia, isso significa que poderemos ter que adotar, durante bastante tempo, algumas das medidas de prevenção da transmissão que já estamos atualmente a pôr em prática.
O uso de máscara em certos locais e contextos, a higienização das mãos e o cumprimento da etiqueta respiratória podem ser alguns dos hábitos que vão perdurar na nossa rotina. Porém, a Organização Mundial de Saúde recusa-se a fazer previsões, pois o futuro é incerto e depende não só do comportamento do vírus, como da capacidade humana em contê-lo.
Para já, devem seguir-se as recomendações de entidades de saúde credíveis como a Organização Mundial de Saúde e o Centers for Disease Control and Prevention e, em termos nacionais, o Serviço Nacional de Saúde e a Direção-Geral da Saúde.
Neste momento, essas instruções assentam na prevenção do contágio pelo novo coronavírus, através das medidas enunciadas atrás, sem nunca esquecer uma outra muito importante: o distanciamento físico.
- Serviço Nacional de Saúde. Pandemia. O que é? Qual a diferença de epidemia e endemia? Disponível em: https://www.facebook.com/sns.gov.pt/posts/826863481158040/
- Centers for Disease Control and Prevention. Lesson 1: Introduction to Epidemiology. Section 11: Epidemic Disease Occurrence. Level of disease. Disponível em: https://www.cdc.gov/csels/dsepd/ss1978/lesson1/section11.html
- World Health Organization. COVID-19. Virtual Press conference, 13 May 2020. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/transcripts/who-pressconference-13may2020.pdf?sfvrsn=ee0d2cde_2