A embolia cerebral, também chamada de Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Há dois tipos de embolia cerebral (1), o AVC isquémico (enfarte), que acontece quando uma artéria entope, impedindo o oxigénio e alimento de chegar a uma zona do cérebro; e o AVC hemorrágico (hemorragia), que acontece quando uma artéria rompe, causando um hematoma no cérebro.
Embolia cerebral: como se manifesta?
Depende do local do cérebro afetado, o doente pode ficar subitamente com (2):
- Fraqueza ou paralisia do braço, perna ou face, de um lado do corpo
- Desvio da face (“boca ao lado”)
- Fala dificultada ou não entender as palavras que ouve
- Diminuição do equilíbrio e instabilidade
- Perda de visão, visão dupla, visão turva
- Dor de cabeça intensa e súbita, incomum
Às vezes os sintomas de um AVC são difíceis de reconhecer. Infelizmente, a falta de conhecimento pode levar a uma tragédia que poderia ser evitada ou reduzida. Três perguntas simples podem ajudar na identificação de um AVC (3 F’s):
- Fala: pedir à pessoa que diga uma frase. Foi capaz de dizer a frase e com as palavras claramente pronunciadas?
- Face: pedir para sorrir. Fica com a boca simétrica ou de um lado não mexe tão bem, ficando com a boca torta?
- Força nos membros: pedir que levante os braços. Foi capaz de levantar os dois e mantê-los esticados para a frente de forma igual, ou um tem tendência a cair?
Factores que aumentam o risco de embolia cerebral
1. Hipertensão arterial
A tensão arterial alta não se sente, razão pela qual deve medir a tensão arterial (deve ser menor que 140/90). Se for hipertenso, cumpra a medicação passada pelo seu médico – não reduza nem pare de a tomar se a tensão arterial ficar normal com a medicação. Consulte regularmente o seu médico, coma pouco sal, normalize o peso e faça exercício.
2. Fibrilação auricular (arritmia) e outras doenças do coração
Fibrilação auricular é a arritmia mais comum, e a sua frequência aumenta com a idade. Desenvolve-se geralmente em doentes que sofrem de outras doenças cardíacas (como insuficiência cardíaca, doença da válvula do coração ou aterosclerose coronária).
Esta arritmia diminui a contração eficaz das aurículas do coração. Sangue que flui de forma anormalmente lenta tende a coagular e a causar trombos de sangue que podem ser depois conduzidos ao cérebro, entupindo artérias e causando uma embolia cerebral.
3. Tabagismo
Cinco anos após deixar de fumar, o risco de embolia cerebral é igual ao de um não fumador. Fumar é um acelerador para o desenvolvimento da aterosclerose, e para o aumento dos níveis de coagulação no sangue. Também aumenta os danos causados às paredes dos vasos sanguíneos do cérebro.
4. Diabetes
A diabetes desequilibrada pode levar à obstrução de pequenos vasos sanguíneos em várias partes do corpo, tais como os intestinos e rins, bem como ao bloqueio dos vasos sanguíneos do cérebro, resultando numa embolia cerebral.
5. Obesidade
O risco de sofrer uma embolia cerebral é maior em pessoas obesas. A investigação médica descobriu que alguns dos fatores de risco estão interrelacionados: a obesidade leva a altos níveis de gordura no sangue, hipertensão e resistência à insulina (que leva ao desenvolvimento de diabetes tipo 2).
Por outro lado, a perda de apenas 5% a 10% do peso do corpo pode conduzir a uma redução de 30% da gordura abdominal, resultando em melhoria significativa no perfil de risco do indivíduo para sofrer de doenças cardiovasculares (2).
6. Colesterol elevado
É particularmente importante para manter níveis baixos de “mau” colesterol (LDL) e níveis elevados de colesterol “bom” (HDL). É importante assegurar que o nível total de colesterol no sangue não exceda 190 mg/dl. O limite de LDL recomendada é de 100 mg/dl para as pessoas saudáveis
7. Alcoolismo
Beber em excesso é um fator de risco para a embolia cerebral, mas o consumo de vinho – especialmente o vinho tinto – em pequenas quantidades pode proteger contra um Acidente Vascular Cerebral.
8. Sedentarismo
O sedentarismo pode levar a obesidade, que aumenta o risco de sofrer uma embolia cerebral.
Como prevenir a embolia cerebral?
Segundo a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, é essencial ter um estilo de vida saudável (1), nomeadamente:
- Praticar exercício físico regular
- Ter uma alimentação equilibrada, pobre em sal, açucares e gorduras saturadas
- Manter o peso adequado
- Consumir álcool apenas de forma ligeira
- Não fumar
Além disso, deve procurar o seu médico de família para vigiar e controlar regularmente:
- Tensão arterial
- Diabetes
- Colesterol
- Ritmo cardíaco, com a realização de electrocardiograma
A embolia cerebral aconteceu, e agora?
Um familiar ou amigo teve uma embolia cerebral de forma súbita (1):
- Deite-o de lado, certificando-se que respira bem
- Ligue o 112 e calmamente responda às perguntas que lhe forem colocadas, referindo a hora exata do evento; obtenha os dados possíveis sobre a história médica do doente; a presença de outras doenças, os hábitos (tabágicos, alcoólicos e alimentares) e medicação em curso
A janela de oportunidades para o tratamento dura poucas horas, em muitos casos até 4 ou 5 horas. Portanto, ir a um hospital imediatamente é obrigatório! Após o diagnóstico, e de acordo com a indicação médica, é possível injetar na veia um produto que ajuda a desfazer o trombo que entupiu uma artéria cerebral (trombólise), ou se necessário fazer um cateterismo urgente para desobstruir a artéria (trombectomia mecânica).
Estes tratamentos podem salvar vidas e prevenir deficiências! Se cumpridos, aumentam em 30 a 50% as hipóteses de a pessoa ficar sem sequelas, ou com sequelas insignificantes (1)!
Tratamento da embolia cerebral
A reabilitação é um processo que requer a colaboração do doente, da família e de uma equipa multidisciplinar de profissionais da saúde. Neste processo, os esforços são feitos para recuperar, tanto quanto possível, as funções que sofreram lesões provocadas pela embolia cerebral.
O processo de reabilitação começa no momento em que o paciente é admitido no hospital. No entanto, nas primeiras horas, a intervenção é muito cautelosa, dado que, provavelmente, a situação do doente ainda é instável (1).
Após um período de hospitalização, e quando o doente tiver estabilizado as suas condições de saúde, poderá ser realizada uma avaliação, que se pode traduzir no regresso a casa ou na transferência para uma unidade especializada na reabilitação.
Se a deficiência for ligeira, pode ser considerada a reabilitação a partir do domicílio. Além disso, a capacidade do cônjuge, e/ou familiares ou cuidadores, para executar os tratamentos, bem como o nível de funcionalidade do doente e as condições emocionais e intelectuais devem ser levados em conta.
Se a incapacidade funcional for média ou grave, a abordagem de reabilitação adequada seria o internamento numa unidade especializada, por um período médio de várias semanas, após o qual o doente poderia voltar para casa (1).
1. Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral. Disponível em http://www.spavc.org/pt/publico
2. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/pdf/mint/v25n3/v25n3a12.pdf