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Com a crescente prevalência de doenças crónicas não transmissíveis relacionadas com a dieta, tais como a obesidade infantil, a diabetes e a hipertensão, o desenvolvimento de hábitos alimentares no início da vida pode ser uma das formas de evitar doenças que se podem prevenir na infância (1).
Sim, a introdução de hábitos alimentares saudáveis no início da vida, desde que é iniciada a diversificação alimentar, é uma forma de prevenir o aparecimento de doenças a curto, médio e longo prazo.
É nesta fase de desenvolvimento que a criança aprende a forma de comer e o que comer, assim como apreende a quantidade de comida que deve ingerir para ficar saciado. Aquando da diversificação alimentar, o bebé descobre propriedades alimentares, que irão condicionar as suas escolhas e preferências futuras.
Estes fatores são suscetíveis de influenciar o desenvolvimento do comportamento alimentar e de preferências alimentares a médio e longo prazo (2).
Obesidade infantil e possíveis consequências
A obesidade infantil é consequência de uma interação complexa entre genes, ingestão alimentar, atividade física e ambiente (3).
O excesso de peso e a obesidade durante a infância estão associados a uma ampla gama de complicações graves de saúde e a um risco aumentado do desenvolvimento prematuro de diversas doenças, tais como (3, 4):
- Doenças cardiovasculares (5)
- Resistência à insulina (sinal precoce de diabetes)
- Alguns tipos de cancro (endométrio, mama e cólon (6)
Epidemiologia da Obesidade Infantil
Segundo a Organização Mundial da Saúde o número de crianças (0 aos 5 anos) com excesso de peso e obesidade aumentou de 32 milhões em 1990 para 41 milhões em 2016 (4). Paralelamente a esta situação, observa-se um aumento acentuado de doenças crónicas não transmissíveis associadas a maus hábitos alimentares.
Como prevenir doenças ainda na infância?
Os alimentos escolhidos aquando a introdução de alimentos complementares, nutricionalmente adequados e seguros aos 6 meses, devem ser ricos em nutrientes e administrados em quantidades adequadas para a fase de desenvolvimento.
Aos seis meses, os cuidadores devem introduzir alimentos em pequenas quantidades e aumentar gradualmente a quantidade à medida que a criança cresce. Alimentos complementares ricos em gordura, açúcar e sal devem ser evitados, nesta fase e ao longo de toda a infância (4).
Juntamente com a alimentação, deve ser incentivada a prática de atividade física e definidos horários regulares de sono, uma vez que a ausência destes dois elementos estão igualmente associados a consequências no peso corporal da criança (7).
Em suma, as doenças que se podem prevenir na infância devem ser combatidas em três vetores:
- Adoção de hábitos alimentares saudáveis
- Incentivar a prática de exercício físico
- Promover o sono regular
Hábitos que deve evitar
O consumo de alimentos com elevada densidade energética, ricos em açúcar, sódio e gordura saturada deve ser limitado, uma vez que são os que mais contribuem para a obesidade infantil. Sendo que destes destaca-se os seguintes alimentos:
- Alimentos altamente processados (bolachas, bolos, gomas, …)
- Produtos com açúcar, sal e gordura adicionado – geralmente com elevado valor energético
- Refrigerantes e sumos de fruta
Juntamente com os alimentos que deve evitar, juntam-se outras recomendações como:
- Diminuir a exposição à publicidade de alimentos dirigidos para crianças
- Diminuir o tamanho das porções oferecidas
- Diminuir a utilização de equipamentos eletrónicos (como telemóvel, consola, computador e televisão)
- Diminuir o comportamento sedentário
Hábitos que deve promover
É desejável que as escolhas alimentares feitas pelos pais sejam adequadas e equilibradas, uma vez que a criança tende a apreender os hábitos alimentares através da relação familiar com a comida. Assim, e com vista o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, deve dar preferência aos seguintes alimentos:
- Papas lácteas e não lácteas (com baixo teor em açúcar adicionado e sal)
- Fruta, vegetais, leguminosas e outros alimentos ricos em fibra
- Pão escuro, bolachas e cereais (com baixo teor em açúcar e sal)
- Peixe, carne e ovos
- Leite e produtos lácteos magros
- Arroz, massa e batata
- Frutos oleaginosos
O tamanho da porção oferecida à criança deve corresponder ao seu estado de desenvolvimento, sendo que essa porção deverá ser ajustada ao estado de saciedade da criança (8).
No que diz respeito ao leite materno, a OMS defende a amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade, por parecer ser uma forma de prevenir o surgimento de excesso de peso e obesidade (4, 8).
Destaca-se, ainda, outros hábitos que devem ser colocados em prática (7):
- Educação alimentar nas escolas
- Atividades em família tais como: caminhadas ou andar de bicicleta
- Educação Física nas escolas
- Construção de parques e outros locais de lazer ao ar livre
- Políticas alimentares com foco na alteração do ambiente
Conclusão
Uma introdução alimentar que exclua alimentos com elevada densidade energética, ricos em açúcar, sódio e gordura saturada, juntamente com o exercício físico e a alteração do ambiente, levará a um melhor estado de saúde geral e à manutenção de um peso saudável ao longo de toda a vida, evitando doenças que se podem prevenir na infância através da alimentação. Estes hábitos deverão ser mantidos ao longo de toda a infância, destacando-se o papel fundamental da família na manutenção de um estilo de vida saudável.
Será importante recorrer a um nutricionista caso a criança apresente excesso de peso ou obesidade para ser aplicada a terapêutica adequada com a supervisão de um profissional habilitado.
Por fim, não deve incentivar a perda de peso descontrolada levando a desequilíbrios nutricionais que podem levar igualmente a prejuízos a curto, médio e longo prazo.
1. Schwartz, C. et al. (2011). Development of healthy eating habits early in life. Review of recent evidence and selected guidelines. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21651929
2. Nicklaus, S. et al. (2019). Early Development of Taste and Flavor Preferences and Consequences on Eating Behavior. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30865953
3. Biro, F.M. et al. (2010). Childhood obesity and adult morbidities. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2854915/
4. WHO. (2017). Facts and figures on childhood obesity. Disponível em:
https://www.who.int/end-childhood-obesity/facts/en/
5. Musaad, S. et al. (2007) Biomarkers of obesity and subsequent cardiovascular events. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4682894/
6. Renehan, A.G. et al. (2008). Body-mass index and incidence of cancer: a systematic review and meta-analysis of prospective observational studies. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18280327
7. De Mello, E.D. et al. (2004). Obesidade infantil: como podemos ser eficazes? Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/283529686_Obesidade_infantil_como_podemos_ser_eficazes
8. Moreno, L.A. et al. (2007). Dietary risk factors for development of childhood obesity. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17414504