A doença de Crohn é uma doença crónica do intestino, que está integrada nas doenças em que o sistema imunitário fica ativado e desencadeia uma resposta inflamatória contra a própria parede digestiva. Está frequentemente associada a deficiências nutricionais severas.
CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA DE CROHN
Quando uma pessoa com maior risco inerente, com suscetibilidade genética, é exposta a determinados fatores ambientais, o sistema imunitário é inapropriadamente ativado, dando origem à doença de Crohn. As causas são ainda desconhecidas, mas a história familiar aumenta a suscetibilidade para o aparecimento da doença.
O curso clínico da doença caracteriza-se por múltiplas agudizações e remissões. A doença pode afetar qualquer segmento do trato digestivo, desde a boca até o ânus, mas tem maior afinidade para o segmento distal do intestino delgado (ileon terminal) e segmento proximal do intestino grosso. A inflamação poderá atingir toda a espessura da parede intestinal e provocar úlceras no seu revestimento interior.
FATORES DE RISCO
Embora a causa exata da doença de Crohn não seja totalmente conhecida, sabe-se que envolve uma interação entre genes, sistema imunológico e fatores ambientais.
Em pessoas com doença de Crohn, o sistema imunológico monta uma resposta inadequada para o trato intestinal, resultando em inflamação. Veja três fatores ambientais não identificados servem como gatilho a uma resposta imune inadequada.
- O tabagismo é um fator de risco na doença de Crohn: há um maior risco de aparecimento de doença de Crohn em fumadores, mas o aspeto mais relevante é a influência negativa do tabaco na história natural da doença. O tabaco amplia a gravidade da doença e diminui a resposta à terapêutica.
- A história de doença inflamatória intestinal em familiares de primeiro grau tem um impacto importante no risco da doença.
- Viver em centros urbanos industrializados.
SINTOMAS DA DOENÇA DE CROHN
Por norma, os sintomas da doença de Crohn são os seguintes:
- Diarreia;
- Dor abdominal, recorrente após as refeições;
- Sangramento retal;
- Necessidade urgente de defecar;
- Sensação de evacuação incompleta;
- Febre;
- Perda de apetite;
- Perda de peso;
- Fadiga;
- Suor noturno;
- Alterações no ciclo menstrual.
DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE CROHN
O diagnóstico implica a integração de dados da história clínica com os achados de vários exames complementares de diagnóstico – como análises clínicas, ecografia, TAC, ressonância magnética e endoscopia/colonoscopia, incluindo a colheita de fragmentos de tecido intestinal para biopsia.
COMPLICAÇÕES DA DOENÇA DE CROHN
- Fístula: úlceras na parede do intestino que se estendem e causam um túnel (fístula) para outra parte da intestino, pele ou outro órgão.
- Estrita: estreitamento de uma seção do intestino causada por cicatrizes, que podem levar a um intestino bloqueio.
- Abscesso: uma coleção de pus, que pode se desenvolver em abdômen, pelve ou ao redor da área anal.
- Intestino perfurado: inflamação crônica do intestino pode enfraquecer a parede a tal ponto que um buraco se desenvolve.
- Má absorção e desnutrição, incluindo deficiência de vitaminas e minerais.
Complicações extra-intestinais:
- Olhos (vermelhidão, dor e comichão);
- Aftas;
- Articulações (inchaço e dor);
- Pele (edemas dolorosos, ulcerações dolorosas e outras feridas / erupções cutâneas);
- Ossos (osteoporose);
- Pedras nos rins);
- Fígado (colangite esclerosante primária, hepatite e cirrose).
TRATAMENTO DA DOENÇA DE CROHN
O tratamento deve ser individualizado, tendo em conta fatores como a idade, presença simultânea de outras doenças, gravidade, localização e extensão da doença. O tratamento inicia-se pela fase clínica e pode chegar até à fase cirúrgica:
- O tratamentos clínico induz e mantém a remissão da doença, ao controlar a inflamação, melhorando a qualidade de vida dos doentes;
- A cirurgia é necessária quando o tratamento clínico é ineficaz no controlo dos sintomas ou quando há uma complicação (obstrução intestinal, perfuração, abcesso ou hemorragia);
- A terapêutica nutricional tem como objetivo corrigir a desnutrição e a deficiência de nutrientes e reverter as suas consequências metabólicas e patológicas – e acordo com a fase em que a patologia se encontra podem ser utilizadas, a nutrição entérica (NE) (oral ou por sonda) ou a nutrição parenteral (NP).
O sucesso dos tratamentos depende do diagnóstico preciso, da natureza e extensão da doença, do seu tipo, localização e severidade. Além disso, a terapêutica da doença de Crohn tem que ter em conta a heterogeneidade dos segmentos intestinais envolvidos e a gravidade.
Artigo originalmente publicado em Janeiro de 2020. Atualizado em Outubro de 2022.