Anteriormente conhecida como psicose maníaco depressiva, a doença bipolar é uma doença mental grave que afeta o humor, o comportamento, a energia e a capacidade para realizar as tarefas diárias.
Doença bipolar: o que é e como compreender este transtorno
A doença bipolar caracteriza-se por acentuadas variações de humor, desde grande infelicidade a grande euforia. Estas alterações de humor são, geralmente, acompanhadas por alterações do padrão de sono, variação do nível de energia, pensamentos e comportamentos fora do comum e, consequentemente, alterações nas relações interpessoais.
Para a maioria das pessoas, a doença bipolar perdura toda a vida, algumas vezes desaparecendo, regressando meses ou anos mais tarde. Apesar de surgir mais frequentemente no final da adolescência ou início da vida adulta, qualquer pessoa pode, em qualquer altura, desenvolver esta perturbação.
Existem diferentes tipos de doença bipolar, cujas crises apresentam diferentes durações e distintos padrões de alteração de humor. Estes diferentes estados de humor variam entre episódios depressivos, episódios de mania e períodos de mania menos severos, denominados episódios de hipomania.
Apesar de ser uma doença mental grave, cujas dificuldades se impõem não só à pessoa que sofre da doença mas também aos prestadores de cuidados, amigos e familiares, logo que diagnosticada as suas consequências negativas podem ser menorizadas.
Como compreender o transtorno bipolar?
A doença bipolar afeta entre 3% a 5% dos adultos em algum momento das suas vidas. Constitui um problema muito sério, com uma ampla gama de sintomas graves. A sua principal característica é o facto de o humor normal estar permeado por episódios maníacos e depressivos.
A frequência e a magnitude das mudanças de humor são muito variáveis. Em muitos casos, a doença passa por períodos de “normalidade”, principalmente nos primeiros anos.
As perturbações do humor são comuns e o risco da sua ocorrência é mais elevado nas mulheres e é aumentado pela história familiar positiva.
A doença é fortemente hereditária, ou seja, os familiares de alguém com perturbação bipolar têm um aumento da incidência da perturbação. Não são conhecidos quaisquer fatores de risco na infância, no entanto, os acontecimentos de vida podem precipitar os episódios iniciais.
Tem uma evolução com remissões e recaídas em 90% dos casos. Depois de um episódio, o risco de recaída médio anual é de cerca de 20% e, depois de mais de três episódios, esse risco aumenta para cerca de 40%.
Quais os principais fatores de risco da doença bipolar?
Vários fatores predispõem esta perturbação, contudo, o conhecimento acerca dos mesmos é ainda incompleto. Apesar de qualquer pessoa poder ser afetada por esta perturbação, alguns de nós parecem estar mais suscetíveis, devido a:
- Estrutura e funcionamento cerebral
- Antecedentes familiares
- Consumo excessivo de drogas ou álcool
- Eventos stressantes
- Padrões de sono inadequados
Quais os sintomas da doença bipolar?
A doença bipolar pode ser identificada por uma variedade de sinais e sintomas distintos, que variam de pessoa para pessoa. Mas, nenhum dos sintomas por si só indica a presença de doença bipolar.
Sintomas de Mania
- Estado de humor elevado e entusiasta, eufórico ou irritável
- Autoestima exagerada
- Dificuldades em dormir
- Fraco discernimento
- Falar muito depressa, sobre muitas coisas diferentes
- Irritabilidade
- Sensação que os pensamentos estão muito rápidos
- Sentir que se consegue fazer muitas coisas de uma só vez
- Níveis de energia aumentados
- Comportamentos de risco, como gastar quantias excessivas de dinheiro
- Crenças irrealistas sobre as suas capacidades
- Líbido aumentada
- Rir imenso (mesmo com coisas sem piada)
- Menor capacidade de concentração
- Tomar decisões rápidas e irrefletidas
- Fazer muitas alterações ou planos
- Abuso de bebidas alcoólicas ou drogas
Sintomas de Depressão
- Estado de humor de tristeza e desespero
- Dificuldades de concentração
- Perda de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades
- Alterações da capacidade de memória (lapsos de memória)
- Pensamento lentificado
- Dificuldade em adormecer e em acordar cedo
- Dormir demasiado. Ter vontade de ficar na cama todo o dia
- Sentir fadiga e falta de energia
- Perder ou ganhar muito peso
- Pouco apetite ou aumento do apetite
- Negligenciar o aspeto e a higiene pessoal
- Pensamentos suicidas
Num episódio misto, estão presentes tanto sintomas de mania como de depressão, ou seja, uma pessoa pode sentir tristeza e desespero, ao mesmo tempo que se sente muito enérgica e agitada.
Num episódio de hipomania, os sintomas manifestam-se de forma menos severa do que num episódio de mania, o que torna estes episódios mais difíceis de identificar.
Tenho oscilações de humor, será que sofro de transtorno bipolar?
O diagnóstico do transtorno bipolar é extremamente importante, mas não é uma doença que deva diagnosticar sozinho. Deve procurar um médico especializado, até porque existem várias doenças que podem ter sintomas semelhantes (por exemplo, problemas com a glândula tiroideia, uso de drogas, outras perturbações de humor, por exemplo).
Um dos aspetos lamentáveis em relação a esta doença é que muitas pessoas passam anos com um diagnóstico errado ou mesmo sem qualquer diagnóstico, o que leva a que o tratamento seja inadequado ou até mesmo inexistente.
Nestas situações, o estado mental deteriora-se, bem como a saúde física e a vida privada não só de quem sofre do transtorno, mas também de todos aqueles que estão ao seu redor.
O tratamento está abrangido no essencial pela prestação do Serviço Nacional de Saúde e as consequências da doença bipolar não tratada são bastante mais dispendiosas. Assim sendo, é importante que perante a suspeita de sofrer de transtorno bipolar, converse com a equipa de saúde que o acompanha acerca das suas preocupações.
Tratamento da doença bipolar
Não se conhece nenhum tratamento que cure de forma definitiva e por completo esta perturbação. Contudo, há grandes possibilidades de a controlar através de diferentes tratamentos que hoje conhecemos.
O tratamento, ou combinação de tratamentos, que melhor funciona para cada pessoa deve sempre ser discutido e delineado em conjunto com a equipa de cuidados de saúde. Existem quatro modalidades de tratamento que importam referir quando falamos de doença bipolar:
1. Medicação
Parte fundamental do tratamento para a doença bipolar: os medicamentos para a doença bipolar podem ser divididos em três categorias principais: os utilizados na estabilização do humor e prevenção de novos episódios, os utilizados no tratamento de episódios maníacos ou mistos e os utilizados no tratamento dos episódios depressivos.
2. Psicoterapia
Quando realizada em simultâneo com a medicação, a Psicoterapia pode ser uma forma de tratamento efetiva. Disponibiliza suporte, educação e aconselhamento para a pessoa com doença bipolar, seus familiares e amigos próximos. Uma vez controlados os sintomas, ajuda o doente a encontrar as estratégias mais adequadas, de forma a controlar a doença e retomar a sua vida.
Além da Psicoterapia, poderá procurar outros tipos de ajuda, nomeadamente:
- Psico-educação: quanto maior a compreensão sobre a doença bipolar, melhor preparação para a conseguir controlar – é este o princípio da psico-educação, que integrada numa intervenção terapêutica mais completa, visa atenuar a gravidade e frequência dos sintomas.
- Auto-ajuda: várias técnicas e atividades podem ser realizadas pela pessoa com doença bipolar, de forma a controlar o humor e diminuir os efeitos negativos da doença: atividades relaxantes e/ou prazerosas, reforçar a autoconfiança, reforçar rede de redações interpessoais, utilizar a tecnologia como auxílio na simplificação do dia-a-dia, etc.
A importância da consciencialização sobre a doença bipolar
De uma forma geral, a doença mental é ainda encarada pela opinião pública de forma incorreta e confusa. Existe ainda um grande estigma face às perturbações mentais, que continuam a ser desvalorizadas e encaradas de forma negativa.
Quanto maior o conhecimento de todos nós acerca das patologias mentais, maior reconhecimento terão os que delas padecem, permitindo uma maior e melhor ajuda.
Uma das grandes barreiras ao diagnóstico e intervenção da doença bipolar é a generalizada falta de conhecimento acerca da mesma, sendo necessário combater os mitos e ideias erradas que ainda persistem.