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A alimentação complementar, ou também denominada de diversificação alimentar, nutricionalmente adequada nos primeiros dois anos de vida é decisiva no desenvolvimento do potencial do ser humano. Assim, uma alimentação apropriada nesta fase tem impacto na saúde, no crescimento e no desenvolvimento da criança a curto, médio e longo prazo (1).
Vários estudos demonstraram de forma consistente que neste período existe maior risco de diminuição do crescimento e desenvolvimento, deficiências de micronutrientes (vitaminas e minerais) e surgimento de doenças comuns.
Diversificação alimentar: o que é?
Entende-se por alimentação complementar um processo que se inicia quando a amamentação exclusiva já não é suficiente para as necessidades nutricionais do bebé, sendo necessário, para além do leite, introduzir outros alimentos de consistência sólida (1,2).
Qualquer alimento introduzido além do leite materno é denominado por alimento complementar e a sua introdução é feita de acordo com as necessidades em energia, macronutrientes e micronutrientes do bebé, podendo ser necessário recorrer a alimentos fortificados (3).
Diversificação alimentar: quando iniciar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses. Esta posição é suportada pela promoção do crescimento e desenvolvimento ideal do bebé, prevenindo comorbilidades, como a obesidade, e o desenvolvimento de doenças crónicas (1,4).
Embora seja desejável a amamentação exclusiva até aos 6 meses, a diversificação alimentar deverá ser iniciada, conjuntamente com o aleitamento materno, a partir dos 4 meses e nunca depois dos 6 meses, uma vez que já existe um desenvolvimento gastrointestinal e renal adequado e também porque poderá existir carência de ferro antes dos 6 meses (3).
Nesta fase já apresentam movimentos de mastigação, abrem a boca em contacto com a comida, surgem os primeiros dentes, possuem controlo da cabeça, reflexo de extrusão diminuído e capacidade de sentar com apoio (1,5).
Diversificação alimentar: como iniciar
Os alimentos complementares devem ser inicialmente de consistência semi-sólida (papas e sopas), devendo ser feita a progressão para alimentos sólidos até aos 12 meses. É importante destacar que a amamentação deverá ser mantida durante este período.
Não existe evidência suficiente na ordem de introdução dos alimentos complementares e, portanto, esta não deverá ser rígida e deverá ser gradual, devendo ser introduzido um alimento de cada vez e com uma periodicidade não inferior a 3-5 dias, de forma a avaliar possíveis alergias ou intolerâncias e para que o bebé se adapte a novas texturas e sabores.
É mais importante oferecer uma variedade de alimentos como frutas, legumes e carnes para permitir que o bebé se adapte aos diversos sabores.
Após os 12 meses, a refeição da criança deverá ser semelhante à da família, sendo constituída por sopa, prato e sobremesa.
Diversificação alimentar: ferro e zinco
A carência de ferro é muitas vezes encontrada em bebés, nomeadamente nos que são alimentados exclusivamente por leite materno. Por esta razão, e aquando da diversificação alimentar, devem receber alimentos complementares ricos em ferro.
A estratégia para o aumento da ingestão de ferro poderá passar pela inclusão de alimentos ou fórmulas fortificadas com ferro, alimentos naturalmente ricos neste nutriente ou a utilização de suplementos. Alimentos ricos em vitamina C devem ser incluídos na dieta juntamente com alimentos ricos em ferro não-heme para melhorar a sua absorção.
Da mesma forma, o leite materno fornece quantidades suficientes de zinco até aos 6 meses, pelo que após devem ser fornecidos alimentos ricos em zinco ou fortificados em zinco, como carne ou cereais fortificados (3, 5, 6).
Diversificação alimentar: cxposição a alimentos potencialmente alergénicos
Uma das principais mudanças nas recomendações sobre alimentação complementar passa pela introdução de alimentos potencialmente alergénicos (leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim, nozes, peixe e marisco). Estas mudanças devem-se ao facto de não existir evidência científica que suporte associação entre o desencadeamento de alergia e a ingestão destes alimentos após o início da diversificação alimentar.
Pelo contrário, evidências crescentes demostraram que uma introdução precoce de potenciais alergénicos podem diminuir o risco de alergia alimentar. Esta introdução deverá ser feita em pequenas quantidades a partir do início da diversificação alimentar (após os 4 meses), aumentando-as progressivamente e avaliando se surge alguma reação alérgica aguda. Caso exista historial familiar de alergia a algum dos alimentos citados é importante ter algum cuidado aquando a introdução do alimento, nestes casos é recomendado que siga as instruções do pediatra (5).
Leite de Vaca
O leite de vaca é uma fonte pobre de ferro e fornece excesso de proteína, gordura e energia quando usado em grandes quantidades. Por estas razões, não deverá ser a bebida predominante antes dos 12 meses, podendo, até lá, ser utilizado em pequenas porções nas preparações culinárias (3, 7, 8).
Glúten
O glúten pode ser introduzido gradualmente na dieta aquando o início da alimentação complementar, entre os 4 e 12 meses de idade. No entanto, grandes quantidades de glúten devem ser evitadas durante as primeiras semanas após a introdução do mesmo e durante a infância (3, 5, 8).
Diversificação alimentar: alimentos a introduzir
Como referido anteriormente, não existe evidência que justifique uma determinada ordem na introdução dos alimentos complementares. No entanto, e para iniciar uma alimentação saudável, é aconselhada a introdução dos seguintes alimentos:
- Carne (frango, peru, coelho, borrego, vitela);
- Peixes magros (pescada, faneca, solha, linguado, dourada);
- Fruta – excluindo as uvas com grainha;
- Vegetais;
- Papas lácteas e não lácteas.
Relativamente às sopas, tradicionalmente inicia-se com cenoura, abóbora, cebola, alho, alho francês, batata, curgete, brócolo, e couve branca. Relativamente aos vegetais folhosos, como os espinafres, devem ser frescos e bem higienizados para diminuir a quantidade de nitratos.
Deverá escolher 4 a 5 destes hortícolas para preparar a sopa, sendo que a batata deverá constar neste conjunto como fornecedor de hidratos de carbono. Deverá ainda introduzir 10g de carne ou peixe para o fornecimento de proteínas e de ferro, aumentando progressivamente a quantidade até atingir as 30g.
Diversificação alimentar: alimentos a evitar
Durante a diversificação alimentar, existem alimentos que devem ser evitados, nomeadamente (3):
- O açúcar e o sal não devem ser adicionados aos alimentos complementares, sendo que os sumos de fruta devem ser evitados;
- O mel não deve ser introduzido antes dos 12 meses;
- Chá de erva-doce (funcho), muitas vezes usado na forma de um chá ou infusão para o tratamento de sintomas digestivos, não é recomendando a crianças com menos de 4 anos;
- As bebidas de arroz não devem ser usadas em lactentes nem em crianças de forma a evitar a exposição ao arsénio.
A amamentação e a alimentação complementar inadequadas, juntamente com a alta prevalência de doenças infeciosas, são a principal causa de desnutrição nos primeiros anos de vida. Além disso, sabe-se que o valor energético e o consumo deficiente ou excessivo de alguns nutrientes podem influenciar a programação metabólica precoce com consequências a longo prazo, inclusive no início da vida adulta (1).
A introdução de alimentos não é rígida, nem igual para todos os bebés e depende do estado do desenvolvimento dos mesmos. Aconselha-se que siga as orientações do pediatra aquando o início da diversificação alimentar, de forma a evitar estados de malnutrição e obesidade.
Diversificação alimentar: recomendações gerais
Em suma, a diversificação alimentar do bebé deve seguir algumas recomendações para que seja realizada da forma mais acertiva e segura possível. E são essas recomendações:
- Não iniciar a alimentação complementar antes dos 4 meses, nem depois dos 6 meses;
- Começar com pequenas porções, a quantidade deverá ser aumentada progressivamente;
- Não utilizar o biberão para alimentos sólidos;
- Não deverá adicionar nenhum tipo de açúcar ou sal aos alimentos nos primeiros 12 meses, sendo que os sumos de fruta devem ser evitados;
- Alimentos de difícil ingestão e que podem provocar engasgamento, como frutos oleaginosos e uvas, deverão ser evitados;
- Os alimentos devem ser higienicamente preparados de forma a evitar consequências como a diarreia.
Veja também:
- Alimentos proibidos antes do primeiro ano de vida
- Alimentação do bebé por idade: tudo o que precisa de saber
- Quando introduzir alimentos sólidos a bebés?
- Legumes e frutas para bebés: quando e como introduzir na alimentação?
Fontes
1. Romero-Velarde. E. et al. (2016). Guidelines for complementary feeding in healthy Infants. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2444340917000401
2. World Health Organization. (2003). Complementary feeding: report of the global consultation, and summary of guiding principles for complementary feeding of the breastfed child. World Health Organization. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/42739
3. Fewtrell, M. et al. (2017). Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28027215
4. World Health Organization. (2002). Infant and young child nutrition Global strategy on infant and young child feeding. Disponível em:
http://apps.who.int/gb/archive/pdf_files/WHA55/ea5515.pdf
5. DiMaggio, D.M. et al. (2017). Updates in Infant Nutrition. Disponível em:
https://pedsinreview.aappublications.org/content/38/10/449
6. Domellof, M. et al. (2014). Iron Requirements of Infants and Toddlers. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24135983
7. Agostoni, C. et al. (2008). Complementary feeding: a commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18162844
8. Burges, A.J. et al. (2018). Age at introduction to complementary solid food and food allergy and sensitization: A systematic review and metaanalysis. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30861244