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Aprender a ler pode ser fácil para a maioria das pessoas. Contudo, existe um grande número que manifesta dificuldades na aprendizagem, apesar de poderem apresentar um nível de inteligência médio ou superior. Uma das causas pode ser a dislexia.
A origem desta dificuldade foi por muito tempo desconhecida e considerada uma “incapacidade invisível”, ou um mistério, o que gerou mitos e preconceitos. A dislexia é diagnosticada como Perturbação da Leitura, após a aplicação de diversos testes. Se os resultados forem bastante abaixo do esperado para a idade, escolarização e nível de inteligência do indivÍduo, é feito o diagnóstico da dislexia.
A dislexia interfere claramente no rendimento escolar e nas atividades da vida diária, visto que muitas destas exigem habilidades de leitura (2).
O que é a dislexia?
De forma simples, podemos definir dislexia como uma disfunção de cariz neurológico, que se manifesta através de dificuldades ao nível da aprendizagem da leitura, em pessoas que apresentam uma inteligência absolutamente normal. Podemos encontrar diferentes tipos de dislexia, cada qual com as suas especificidades.
Assim sendo, a dislexia caracteriza-se pela presença de perturbação ou atraso na aquisição, aprendizagem ou processamento da leitura, na ausência de qualquer outra limitação ou alteração da capacidade intelectual, e pode ser um obstáculo ao longo do percurso escolar.
As situações de dislexia não são devidas à qualidade do ensino, à capacidade intelectual, nem ao ambiente sociocultural em que o sujeito está inserido. Pelo contrário, esta disfunção é causada por determinadas alterações ao nível da estrutura e funcionamento neurológico, podendo apresentar influência genética em alguns casos (as perturbações da leitura parecem ter uma forte componente hereditária).
12 sinais e sintomas aos quais deve estar atento
Tendo como base os estudos realizados ao longo dos anos, é possível identificar um conjunto de sinais e sintomas habitualmente presente nas situações de dislexia, nomeadamente:
- Leitura silabada, hesitante, com muitas incorreções.
- Dificuldade na leitura de palavras irregulares e pouco frequentes.
- Dificuldade na compreensão de textos e enunciados lidos.
- Substituição de palavras por outras de estrutura similar, apesar do diferente significado (por exemplo, saltou/salvou).
- Trocas fonológicas e lexicais (por exemplo, o/u; p/t; s/ss; s/z; g/j; x/ch; ão/am; au/ao).
- Dificuldade na associação do som ao desenho da letra.
- Omissão ou adição de letras e sílabas.
- Confusão de letras com sons próximos.
- Recorrer a estratégias para não ler.
- Demora na realização dos trabalhos de casa.
- Pouco ou nenhum prazer na leitura.
- Resultados escolares inferiores à capacidade intelectual apresentada.
Características e perturbações Associadas
A dislexia está normalmente associada à discalculia (dificuldades de aprendizagem na aritmética) e à disortografia (dificuldades de aprendizagem na escrita).
- O desânimo, a baixa autoestima e o défice nas habilidades estão muitas vezes associados à dislexia
- Os indivíduos com dislexia podem ter dificuldades no emprego ou no ajustamento social
- Muitos indivíduos com défice de atenção / hiperatividade e com depressão também têm dislexia
- A dislexia também pode estar associada a dificuldades no desenvolvimento da coordenação
- Estão associadas à dislexia dificuldades ao nível da atenção e da memória
- Embora a predisposição genética possa estar associada à dislexia, a presença desta não a prediz. Isto porque existem muitos indivíduos com dislexia sem história genética (2).
Características específicas ao género
Dos indivíduos diagnosticados, 60 a 80% são do sexo masculino, exibindo com maior frequência dificuldades nos processos de aprendizagem. (2)
Prevalência da dislexia
A prevalência da dislexia é difícil de estabelecer, isto porque, os estudos desenvolvidos até então concentram-se nas Perturbações da Aprendizagem no seu conjunto (dislexia, disortografia, discalculia) e não apenas em cada uma delas (2). Contudo, se a dislexia for identificada e tratada desde cedo, torna-se possível criar condições e estratégias para que o disléxico consiga lidar com esta dificuldade, superando alguns obstáculos e diminuindo as consequências (3).
A dislexia e a escola
A dislexia é, na maior parte das vezes, diagnosticada após o final do 1º ano, embora os sintomas de dificuldade da leitura possam ocorrer já na pré-escola ou no início do 1º ano.
No caso de a dislexia estar associada com alto QI, a criança pode funcionar adequadamente durante os primeiros anos escolares, podendo a dislexia não se manifestar totalmente até ao 4º ano ou depois deste.
Com uma identificação e intervenção precoces, o prognóstico é bastante bom na maioria dos casos.
A dislexia pode prolongar-se para a idade adulta (2).
Padrão Familiar
A dislexia apresenta agregação familiar, sendo que esta tem uma maior prevalência entre parentes em primeiro grau de indivíduos com dislexia (2).
Diagnóstico diferencial
A dislexia não pode ser confundida com:
- Variações normais do rendimento escolar
- Ensino deficiente
- Fatores culturais
- Problemas visuais e/ou auditivos
- Deficiência mental
- Perturbação do desenvolvimento
- Perturbações da comunicação (2)
Diagnóstico e tratamento da dislexia
A dislexia é uma perturbação muito frequente e, portanto, muito estudada. De forma habitual, as primeiras suspeitas de dislexia começam a ser levantadas por aqueles que estão mais próximos das crianças e acompanham as suas aprendizagens, professores e educadores.
Após a comunicação da suspeita de dislexia aos pais, as crianças devem ser encaminhadas para avaliação, levada a cabo por um psicólogo e por um docente de ensino especial, para que as suspeitas iniciais sejam ou não confirmadas. A avaliação levada a cabo por estes profissionais é bastante abrangente e pode incluir a recolha da história clínica e de desenvolvimento, avaliação cognitiva e comportamental, avaliação da leitura e escrita, e avaliação da linguagem oral.
Após o diagnóstico se encontrar estabelecido, importa pensar seriamente na intervenção, na medida em que as aquisições das competências de leitura e escrita podem condicionar toda a aprendizagem futura das crianças. Os programas de intervenção dirigidos aos alunos com dislexia devem ter como objetivo o desenvolvimento de competências essenciais para leitura e escrita e a diminuição das dificuldades linguísticas existentes.
Para o sucesso da intervenção, é essencial que todos os profissionais envolvidos (psicólogo; terapeuta da fala; professor titular; docente de educação especial) trabalhem em conjunto e sintonia e sempre em estreita articulação com os pais. Os pais podem desempenhar um importante papel ao nível da intervenção na dislexia, já que alguns autores afiançam que os pais influenciam as capacidades de leitura das crianças, mais especificamente as suas atitudes face à leitura.
É importante que os pais manifestem sentimentos positivos em relação à leitura e que estabeleçam hábitos de leitura desde cedo. A leitura conjunta entre pais e crianças parece ser determinante para o interesse e motivação que as crianças manifestam em relação à leitura no futuro.
Em suma
As crianças e os jovens com dislexia tendem a apresentar um conjunto de características aos quais importa estar atento, na medida em que podem ser de extrema utilidade para a deteção precoce desta disfunção.
Para além dos sinais e sintomas acima descritos, as crianças e os jovens com dislexia podem manifestar dificuldades noutras áreas, nomeadamente: noção do corpo; memória; representação espacial; grafismo e expressão oral; coordenação de movimentos; orientação no espaço e no tempo; lateralização e orientação esquerda/direita.
1. Teles, P. (2004). Dislexia: Como identificar? Como intervir?. Rev Port Clin Geral. 20:713-30. Disponível em: http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10097
2. DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
3. Pavão, V. (2005). Dislexia e disortografia: a importância do diagnóstico. IGT na Rede – Vol. 2, Nº 3. Disponível em: http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=50%3E