Até então, a gordura era erradamente, o macronutriente mais temido por quem desejava perder peso. No entanto, na nutrição atual, já não é assim tão invulgar a prescrição de uma dieta rica em gordura para emagrecer.
Qual será a prespetiva mais correta, de acordo com a evidência científica mais atual? É o que vamos tentar dar resposta neste artigo.
Dieta rica em gordura para emagrecer: sim ou não?
Atualmente, é unânime que a gordura tem primordial importância para a saúde, pois este nutriente ajuda à produção de hormonas, como a testosterona, à absorção de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, D, E e K, auxilia o na regulação da temperatura corporal, promove um adequado desenvolvimento / manutenção da função cognitiva, entre outras funções.
E se antigamente se tentava incluir o mínimo de gordura possível na alimentação com objetivo de evitar o aumento da percentagem de massa gorda, atualmente, a adoção de uma dieta rica em gordura para emagrecer tem ganho cada vez mais adeptos.
Com efeito, e apesar de poder fazer sentido que para perder gordura, seja necessário ingerir menos gordura, a verdade é que esta relação não é assim tão linear, pois os hidratos de carbono, quando consumidos em excesso, também podem ser armazenados sob a forma de gordura.
Como tal, hoje em dia é comum encontrar dietas nas quais 30% ou mais do valor energético total são provenientes da gordura.
Pontos a favor de uma dieta rica em gordura para emagrecer
- A ingestão de gordura promove uma maior oxidação / queima de gordura e calorias.
- Um estado cetogénico oferece vantagem a nível metabólico.
- Ingerir mais gordura promove uma maior utilização deste macronutriente como combustível energético.
- Os hidratos de carbono são armazenados mais facilmente sob a forma de gordura corporal do que a gordura.
- Refeições com elevado teor de gordura conferem mais saciedade e diminuem a ingestão energética total.
Explorando de forma mais detalhada os pontos a favor de uma dieta rica em gordura…
- Quando se pratica uma dieta pobre em hidratos de carbono e rica em gordura, o organismo começa a usar predominantemente a gordura como combustível energético. Mas também é verdade que se praticar uma dieta com baixo teor de gordura e rica em hidratos de carbono, o seu organismo utiliza predominante os hidratos de carbono como combustível.
- “O elevado teor de gordura” parece não ser o que promove a queima de gordura, mas sim a falta de hidratos de carbono. Isto porque, se não houver restrição de hidratos de carbono mesmo com uma dieta rica em gordura, não ocorre tanta oxidação.
- O consumo de mais gordura não promove nenhuma adaptação metabólica que potencie maior gasto energético. Mesmo induzindo um estado de cetoacidose, não há nenhuma adaptação metabólica favorável.
- O facto de uma dieta rica em gordura promover uma maior oxidação de gordura, não resulta diretamente em perda de mais massa gorda corporal nem de peso.
- Um aumento do consumo de hidratos de carbono não promove uma maior transformação de hidratos de carbono em gordura e sua acumulação sob a forma de massa gorda. Simplesmente diminui a mobilização da gordura como fonte energética, aumentando a massa gorda.
- Não parece que a ingestão de gordura antes de uma refeição diminua a ingestão naquela refeição, podendo efetivamente contribuir para maior ingestão energética no final do dia, visto que a gordura não parece ter um potencial tão saciante como lhe é apontado.
Em suma…
Uma dieta rica em gordura, por si só, não representa nenhuma solução milagrosa para emagrecer. Sendo o emagrecimento resultado de um balanço energético, é necessária uma restrição energética global.
No caso de uma dieta rica em gordura para emagrecer, tem de ser promover, simultaneamente, uma restrição no valor energético toral e no teor de hidratos de carbono, pois só assim se promove maior perda de gordura corporal e de peso.
Por último, importa salientar que a escolha do tipo de gordura é um ponto essencial na dieta. A escolha deverá recair, preferencialmente, sobre gorduras insaturadas (mono e polinsaturadas) em detrimento das saturadas e das hidrogenadas, que promovem o aumento do colesterol LDL (mau) e potenciam o surgimento de doenças cardiovasculares.