Num quadro de infeção do sistema digestivo é comum haver desidratação e perdas nutricionais – por isso, importa conhecer a importância da dieta para a gastroenterite e como colocá-la em prática quando é preciso.
A gastroenterite consiste numa irritação e inflamação do tubo digestivo, incluindo o estômago e o intestino, sendo uma condição mais frequente na infância, em particular até aos 3 anos.
Sendo uma condição relacionada com o tubo digestivo e que afeta a digestão e absorção dos alimentos, é previsível que, perante esta situação, seja necessário adotar alguns cuidados alimentares, mais precisamente uma dieta para a gastroenterite, onde se incluem e excluem determinados alimentos em função do seu efeito nestas circunstâncias.
Gastroenterite: principais causas e sintomas
As principais causas para este problema são agentes virais, bactérias, parasitas e as intoxicações alimentares, sendo esta última a principal causa no adulto.
A maioria das gastroenterites é causada pela ingestão de alimentos ou água contaminados por determinadas bactérias, nomeadamente Salmonella (a mais comum em países Europeus como Portugal), Shigella, Campylobacter, e E. coli, ou vírus como Rotavirus, Norvovírus, Adenovirus, entre outros.
A falta de higiene na preparação e manuseamento dos alimentos, bem como a sua refrigeração, reaquecimento ou confeção inadequadas são os principais meios de transmissão.
As infeções também podem ser transmitidas de pessoa para pessoa, quando os cuidados de higiene de uma pessoa infetada não são os mais adequados.
Relativamente aos principais sintomas, consistem em diarreia, dor abdominal, cólicas, náuseas e vómitos, o que dificulta a absorção de nutrientes e a hidratação – dois pontos chave a considerar durante o tratamento desta condição. Pode ainda ocorrer febre e dores de cabeça em casos mais avançados.
Os sintomas geralmente duram poucos dias, mas também podem durar até uma semana, sendo o principal meio de diagnóstico desta condição, que não requer exames específicos.
Dieta para a gastroenterite: o que comer para minimizar perdas nutricionais
Apesar de não existir um tratamento específico para a gastroenterite, além da eventual utilização de antibióticos (caso a origem seja bacteriana), a alimentação é muito importante. Saiba o que deve privilegiar numa dieta para a gastroenterite.
Alimentos de fácil digestão
Neste caso, trata-se de alimentos com baixo teor de fibra, lactose e gordura, nomeadamente farináceos não integrais (massa, arroz, pão, cereais pouco açucarados), carnes magras como frango ou perú, peixe branco como pescada, por ex.
Bolachas com baixo teor de açúcar e gordura também podem ser uma opção, nomeadamente bolachas de água e sal ou tostas (não integrais).
A fruta deverá ser consumida sem casca (para evitar a fibra) e consumida preferencialmente cozida. Para este efeito, a maçã e a pêra são ótimas opções. A banana (verde), por ser rica em potássio também pode ser uma boa opção, desde que consumida.
Legumes cozidos como cenoura e abóbora também são boas opções que até pode adicionar a um caldo.
Alimentos com probióticos
Sendo os probióticos benéficos para a reconstituição da flora intestinal danificada, caso tolere bem, pode incluir iogurte, kefir e queijo com baixo teor de gordura, idealmente sem lactose na sua dieta.
Por outro lado, alimentos como frutos secos, leite, bebidas com cafeína, leguminosas, alimentos fritos ou com elevado teor de gordura, alimentos picantes e alimentos doces como chocolates, bolachas, gelados, entre outros, são alimentos que não devem fazer parte desta dieta.
Além dos alimentos a preferir e a evitar, tenha o cuidado de fracionar mais as refeições ao longo do dia porque não vai ter muito apetite, mas é importante que coma, ainda que muito pouco de cada vez.
A importância da hidratação
A hidratação é fundamental para uma boa recuperação, visto que ocorre uma perda acentuada de líquidos através dos vómitos e da diarreia, que podem conduzir a estados marcados de desidratação e dificultam a recuperação.
Além da água, perdem-se também minerais importantes como o sódio, potássio, magnésio, que devem ser repostos através dos alimentos anteriormente mencionados ou através de soluções orais concentradas que podem ser compradas nas farmácias.
O essencial passa por assegurar a ingestão fracionada de líquidos, nomeadamente água ou chá (que poderá ter açúcar adicionado). Se optar por chá, camomila ou cidreira serão a melhor opção para acalmar o estômago.
Para as refeições, pode optar por caldos ricos em água, nos quais poderá acrescentar arroz ou massa cozida e ainda adicionar uma fonte proteica como carne branca ou peixe branco e até legumes cozidos como cenoura. Neste caso, adicionar um pouco de sal pode ser vantajoso para repor os níveis de sódio.
Como prevenir uma gastroenterite
Como em muitas outras condições / problemas, a prevenção é sempre o melhor remédio.
Entre as principais medidas de prevenção destacam-se as seguintes (1):
- Lave as mãos várias vezes ao dia, em particular antes de cozinhar e preparar os alimentos;
- Lave muito bem os utensílios de cozinha utilizados na preparação e confeção dos alimentos, sobretudo aqueles que estiverem em contacto com carne, peixe e ovos crus;
- Não use os mesmos recipientes onde colocou carne ou peixe crus para armazenar alimentos cozinhados, a menos que os tenha lavado bem;
- Não guarde a carne ou peixe crus por mais de dois dias no frigorífico;
- Cozinhe sempre as refeições pré-preparadas à temperatura e tempo recomendados nas embalagens;
- Quando viajar para locais onde as condições sanitárias não são as melhores, coma apenas alimentos cozinhados na hora. Evite vegetais crus (saladas, por exemplo); fruta, só depois de bem lavada e descascada; água, só engarrafada ou fervida.
1. Quebec, 2018. “Foods to eat when you have gastroenteritis”. Disponível em: https://www.quebec.ca/en/health/health-issues/flu-cold-and-gastroenteritis/gastroenteritis/foods-to-eat-when-you-have-gastroenteritis/