Os hidratos de carbono são nutrientes energéticos presentes em alguns alimentos indispensáveis para o organismo, e são a principal fonte de energia do nosso corpo. De todos os nutrientes, são eles os que mais afetam os níveis de glicemia após as refeições, daí a importância da contagem de hidratos de carbono.
Um dos principais objetivos nutricionais nas pessoas com diabetes é atingir e manter um bom controlo glicémico de forma a diminuir os efeitos e as complicações associadas à doença.
É do equilíbrio da ação da insulina, da alimentação e da atividade física que resulta o bom controlo dos níveis de glicose no sangue.
Porquê contar os hidratos de carbono?
Sendo a diabetes mellitus uma doença metabólica crónica caracterizada pela alteração constante dos níveis de glicemia (açúcar no sangue), e sendo os hidratos de carbono presentes nos alimentos um dos nutrientes que mais influenciam a glicemia, é essencial que o doente aprenda a fazer a contagem de hidratos de carbono, em particular no casos que necessita de recorrer à administração de insulina.
A contagem de hidratos de carbono é uma ferramenta que médicos e doentes têm ao seu dispor para atingir o bom controlo da doença, permitindo uma maior flexibilidade na escolha de alimentos, nas quantidades, nos horários e número de refeições.
Desta forma, não só se melhora o controlo glicémico e previne comorbilidades que dele advêm, como se vai ao encontro das necessidades quotidianas das pessoas com diabetes, melhorando a sua qualidade de vida.
Efeitos dos hidratos de carbono na glicemia
O efeito dos hidratos de carbono na glicemia depende de dois fatores principais: a quantidade de hidratos de carbono e tipo de hidratos de carbono.
Para evitar uma sobrecarga no organismo em apenas uma ou duas refeições, é importante que estes nutrientes sejam divididos em 5 a 7 refeições por dia.
Os alimentos que contêm hidratos de carbono e que devem ser incluídos na contagem de hidratos de carbono são:
- Cereais, derivados e tubérculos;
- Leguminosas secas (feijão, grão-de bico, lentilha) e frescas (ervilha, fava);
- Leite e derivados;
- Fruta e sumos de fruta;
- Alimentos ricos em açúcar, mel, marmelada, compotas, refrigerantes, entre outros.
Quantidade de hidratos
A insulina é uma hormona necessária para o aproveitamento dos hidratos de carbono pelo organismo, pois promove a entrada deste nutriente para o interior da célula, ajudando a regularizar a glicemia e a fornecer a energia necessária a todo o metabolismo celular.
Neste contexto, e para se atingir o bom controlo das glicemias após as refeições, é preciso que haja um bom equilíbrio entre a quantidade de hidratos de carbono ingerida e a quantidade de insulina existente para a absorção desses hidratos de carbono. Isto porque, se houver maior quantidade de hidratos de carbono disponível, é necessária maior quantidade de insulina para a absorção.
Tipo de hidratos
Para além da quantidade de hidratos de carbono, também o tipo de hidratos de carbono ou o índice glicémico (que, de forma simplista, representa a capacidade que um alimento tem de elevar o açúcar no sangue e velocidade a que esse hidrato de carbono será absorvido pela célula) vai influenciar a regulação da glicemia.
Como fazer a contagem de hidratos de carbono
A contagem de hidratos de carbono pode ser feita a dois níveis, consoante os objetivos que se pretende. Veja como.
Contagem básica
Este primeiro nível foca a consistência da ingestão de hidratos de carbono na alimentação. Consiste na identificação dos alimentos que contêm hidratos de carbono e no ensino da ingestão diária das quantidades adequadas destes nutrientes em cada refeição.
Esta contagem é feita em equivalentes ou porções e cada porção contém cerca de 12g de hidratos de carbono. Desta forma, é possível elaborar menus variados sem alterar a dose dos hidratos de carbono das refeições ou modificar a dose da insulina de acordo com os hidratos que se comem.
É o método indicado para pessoas com diabetes tipo 1 que não fazem insulinoterapia e para aqueles que fazem esquema de insulinoterapia convencional ou como preparação para a insulinoterapia intensiva ou funcional.
Contagem avançada
Na contagem avançada, o principal objetivo passa pela quantificação do teor de hidratos de carbono em cada refeição para depois se ajustar a dose de insulina necessária para metabolizar a glicose proveniente desses hidratos. É o método adequado para quem tem de fazer insulinoterapia intensiva ou funcional.
Neste nível de contagem, para além de se ajustar a dose de insulina rápida ao número de porções de hidratos de carbono ingeridas, também se ajusta a quantidade de insulina à glicemia para que se possa corrigi-la, caso seja necessário. Estes valores são definidos pela equipa médica que o acompanha.
Na prática, adiciona-se a quantidade de insulina necessária para a correção da glicemia que se apresenta antes da refeição, à quantidade de insulina necessária para cobrir o número de porções de hidratos de carbono ingeridos nessa refeição. O resultado dessa soma será então a dose total de insulina rápida a administrar na refeição.
Neste contexto, é também importante calcular o rácio Insulina: Hidratos de Carbono (I:HC) que é a quantidade de HC em g que é metabolizada por 1 unidade de insulina e o fator de sensibilidade à insulina (FSI) que é definido como o valor da glicemia em mg/dl que é corrigido por 1 unidade de insulina de ação rápida.
Os rácios I:HC e FSI são determinados individualmente, e podem ser diferentes em cada refeição ou hora do dia.
Assim sendo, os cinco parâmetros necessários para a contagem de hidratos de carbono avançada e para determinar a quantidade de insulina de ação rápida a administrar às refeições (bólus) são então:
- Glicemia antes da refeição;
- Glicemia que se pretende alcançar no final da refeição;
- Fator de sensibilidade à insulina (FSI);
- Total de HC da refeição;
- Rácio I:HC.
Para facilitar a contagem dos hidratos de carbono a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal lançou, recentemente (junho 2020), novas tabelas, onde se pode consultar, facilmente, o teor de hidratos de carbono em 100g de parte edível de cada alimento.
A primeira tabela engloba alimentos tradicionais do dia a dia, como arroz, massa, pão, leguminosas, lacticínios, farinhas e frutas; e a segunda engloba alimentos doces e salgados que devem ser consumidos esporadicamente devido ao elevado teor de açúcar e/ou gordura, nomeadamente produtos de charcutaria e pastelaria e sobremesas doces.
Não se esqueça…
Para aprender a fazer a contagem de hidratos de carbono e saber qual a quantidade que necessita por dia e por refeição, recorra a um nutricionista ou dietista e consulte as tabelas de composição dos alimentos, bem como os rótulos dos produtos alimentares.
Artigo originalmente publicado em Outubro de 2020. Atualizado em Setembro de 2022.