Nutricionista Rita Lima
Nutricionista Rita Lima
30 Jun, 2017 - 16:13

Desnutrição: um problema grave e muitas vezes esquecido

Nutricionista Rita Lima

A desnutrição, embora seja uma condição grave, é muitas vezes negligenciada pelos prestadores de cuidados de saúde. Saiba mais sobre este problema no nosso artigo!

Desnutrição: um problema grave e muitas vezes esquecido

Segundo estudos de referência, cerca de meio milhão de Portugueses estão em risco de desnutrição, mais precisamente malnutrição energetico-proteica.

Certas doenças contemporâneas como o cancro e doenças neuro-degenerativas (ex. Alzheimer) bem como o envelhecimento, constituem as principais causas da desnutrição, embora esta condição também possa afetar pessoas com deficiência, baixo rendimento económico e crianças com uma alimentação pobre em termos nutricionais.

Embora este problema seja mais comum em países em desenvolvimento, também afeta vários países europeus. No caso de Portugal, por contraste a esses outros países, a maioria das pessoas desnutridas continuam a passar despercebidas, não recebendo o acompanhamento nutricional necessário.

Desnutrição: em que consiste?

Kwashiorkor

A desnutrição é, portanto, uma deficiência de energia / calorias ou de um ou mais nutrientes essenciais, nomeadamente de proteína.

Especificando, a malnutrição consiste num desequilíbrio negativo entre os nutrientes de que o organismo precisa e os nutrientes que efetivamente obtém, englobando-se num quadro mais geral que é o da mal nutrição.

Historicamente, a desnutrição era considerada como uma consequência inevitável de certas doenças e do envelhecimento.

No entanto, estudos mais recentes mostraram que a deteção e tratamento nutricional atempado são eficazes no tratamento desta condição, diminuindo a morbilidade e mortalidade dos doentes e os gastos económicos associados a este problema.

Importa referir que os custos financeiros para os governos da União Europeia resultantes da desnutrição atingem 120 mil milhões de euros por ano (170 mil milhões na Europa) – cerca do dobro dos custos da obesidade!

Tipos de Desnutrição

Nos países em desenvolvimento, a malnutrição energética-proteica geralmente ocorre em crianças, contribuindo para mais da metade do total de mortes infantis.

A desnutrição energética-proteica apresenta-se sob duas formas principais: Marasmo e Kwashiorkor.

O marasmo é uma deficiência grave de calorias e proteínas. A deficiência tende a surgir em lactentes e crianças pequenas, causando, normalmente, perda de peso e desidratação.

Já o Kwashiorkor é uma deficiência sobretudo de proteínas e não tanto de energia, sendo menos comum que marasmo.

Apesar de afetar sobretudo crianças, qualquer pessoa pode desenvolver Kwashiorkor, se fizer uma alimentação essencialmente composta por alimentos com hidratos de carbono.

Causas mais comuns da Desnutrição

causas de desnutricao

As principais causas da desnutrição são:

  • Dificuldade em obter ou preparar alimentos (dificuldades económicas, em cozinhar);
  • Patologias que provoquem diminuição de apetite (ex. Alzheimer, cancro);
  • Patologias que provoquem a diminuição da absorção (ex. Doença de Crohn, Doença Celíaca);
  • Toma de medicamentos que diminuem o apetite e / ou absorção intestinal (ex. medicamentos usados no tratamento da hipertensão arterial (como diuréticos) ou cancro (como cisplatina);
  • Envelhecimento (anorexia, perda do olfato e paladar, doenças neuro degenerativas);
  • Alcoolismo (diminui apetite e como afeta o fígado pode interferir com a absorção de determinados nutrientes);
  • Tabagismo (o hábito de fumo atenua o paladar e o olfato, tornando o alimento menos atraente. Além disso, o fumo também promove o aumento do metabolismo basal);
  • Necessidades energéticas e / ou nutricionais excessivamente altas (atletas, crianças).

Consequências da desnutrição

consequencias da desnutricao
  • Fadiga;
  • Hipotermia;
  • Distúrbios gastrointestinais;
  • Irritabilidade;
  • Apatia e depressão;
  • Períodos menstruais irregulares ou ausentes;
  • Retenção de líquidos e edema;
  • Depressão do sistema imunitário, aumentando o risco de infecção;
  • Perda de coordenação motora (em casos mais graves);
  • Insuficiência hepática, cardíaca e/ou respiratória (em casos mais avançados e duradouros);
  • Em crianças com desnutrição grave, o desenvolvimento comportamental e cognitivo torna-se mais lento. A malnutrição, mesmo quando tratada, pode deixar efeitos a longo prazo nas crianças.

Diagnóstico da desnutrição

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O diagnostico da desnutrição é feito, por norma, com base na aparência (perda excessiva de tecido adiposo), na relação entre altura e peso da pessoa, assim como através de recolha de informações sobre a alimentação e perda de peso.

Os efeitos físicos da malnutrição são, geralmente, bastante notórios:

  • peso abaixo do normal;
  • ossos salientes;
  • pele seca e sem elasticidade;
  • o cabelo seco e que cai com facilidade.

Além disso, podem ainda ser realizados exames de sangue para medir o nível de albumina (que diminui quando as pessoas não consomem uma quantidade adequada de proteína) e o número de glóbulos brancos (que diminui quando piora a desnutrição).

Tratamento da desnutrição

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O principal tratamento para a desnutrição é aumentar a ingestão energética e nutricional, sendo que a melhor maneira de o conseguir é aumentando o número de refeições por dia.

Cada uma destas refeições deverá ser de pequeno volume e incluir alimentos de elevada densidade energética e nutricional (ex. frutos secos, leguminosas, aveia, sementes, fruta, etc).

Suplementos multivitamínicos podem também ser fornecidos de modo a complementar a alimentação e assegurar que as necessidades nutricionais são plenamente satisfeitas.

Um erro muito frequente e que deve ser evitado é alimentar a pessoa desnutrida de forma brusca e rápida, visto que pode provocar diarreia e desequilíbrios hidroeletrolíticos e na glicemia (açúcar no sangue), entre outras.

Em casos mais graves em que aos nutrientes não podem ser administrados por via oral, podem ser passados por uma sonda nasogástrica (nutrição entérica) inserida no trato digestivo ou na veia (via intravenosa – nutrição parentérica, esta última quando o trato digestivo não está funcionante.

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