Share the post "Dermatite atópica canina: saiba mais sobre esta doença inflamatória da pele"
A dermatite atópica canina é uma doença inflamatória, alérgica e pruriginosa (que causa comichão) da pele, com predisposição genética. Aqui, o sistema imunitário (as defesas do organismo) desenvolve uma reação exagerada quando entra em contacto com determinados alergénios (agente que causa alergia). Este acontecimento é definido como sendo uma reação de hipersensibilidade.
Dermatite atópica canina: como acontece?
A sua etiologia é algo complexa e envolve três pilares:
- Predisposição genética;
- Comprometimento da normal função de barreira exercida pela pele;
- Alterações do sistema imunitário.
A dermatite atópica canina torna os cães mais sensíveis a determinados alergénios do ambiente. Estes alergénios são proteínas que, quando inaladas ou absorvidas através da pele, provocam uma reação de hipersensibilidade no organismo. Cada vez que as células do sistema imunitário contactam com estes agentes, mais exagerada é a reação/ alergia.
Os alergénios que mais comumente afetam os cães são os ácaros, os pólenes e os fungos.
Quem está mais predisposto a dermatite atópica canina?
A dermatite atópica canina surge maioritariamente em animais com idades entre os 6 meses e os 3 anos.
Há certas raças que estão mais predispostas, como é o caso dos Terriers (Fox, Boston, Scottish e West Highland White), Shar-Pei, Golden e Labrador Retriever, Dálmata, Boxer, Lhasa Apso, Shih Tzu.
Sinais clínicos da dermatite atópica canina
Os primeiros sinais clínicos podem surgir sazonalmente (mais na Primavera), no entanto ao longo do tempo podem tornar-se mais constantes e prolongados.
O principal sinal clínico da dermatite atópica canina é o prurido (comichão), podendo este ser generalizado ou então localizado em áreas específicas.
- Prurido ao nível facial (lábios, em torno dos olhos, orelhas), pés (áreas entre os dedos), zonas articulares dos membros anteriores, axilas, virilhas e abdómen;
- Comportamentos associados ao prurido: coçar, lamber, mordiscar, arranhar;
- Lesões secundárias ao coçar intenso: vermelhidão da pele, alopécia (perda de pelo), liquenificação (pele grossa e grisalha), aranhões e feridas;
- Infeções secundárias por bactérias e fungos.
Diagnóstico da dermatite atópica canina
Este é realizado com base na história apresentada e nos sinais clínicos, e não através de testes laboratoriais. Existem certos critérios que indicam se se poderá tratar ou não de dermatite atópica:
- Prurido que diminui perante a toma de glucocorticoides (anti-inflamatório);
- Início dos sinais clínicos anterior aos 3 anos de idade;
- Cães que vivem maioritariamente indoor;
- Vermelhidão nas áreas interdigitais das patas, orelhas e face.
Estes sinais são comuns a outras doenças de pele, pelo que é necessário descartar previamente que não se trata de parasitas (sarna), infeção bacteriana da pele, alergia alimentar ou alergia à picada da pulga.
Para complementar este diagnóstico, o médico veterinário poderá também propor a realização de testes de alergia, de forma a identificar quais os alergénios que estão a causar a dermatite atópica canina para posteriormente poder formular uma terapia mais específica para cada indivíduo.
Estes testes têm dois métodos: pesquisa no sangue do anticorpo que está a reagir com o alergénio ou então a injeção de diferentes alergénios debaixo da pele para posteriormente registar a qual deles o organismo foi sensível, através de uma reação exuberante visível na pele.
Tratamento da dermatite atópica canina
A dermatite atópica canina não tem cura, pelo que é muito importante que os donos dos cães compreendam e saibam que é uma doença que requer um maneio contínuo e para toda a vida, com alguns altos e baixos, e que necessita de compromisso e de uma avaliação médico-veterinária regular.
A combinação de diferentes tratamentos costuma ter melhores resultados.
1. Evitar o contacto com o alergénio
No caso deste ser o ácaro, proceder à limpeza e desinfeção com acaricidas dos locais onde o cão permanece, ou no caso dos pólenes, evitar as plantas às quais é alérgico e a sua fase de polinização.
2. Tratamento sintomático do prurido
Quando não se consegue eliminar a comichão apenas diminuindo o contacto com o alergénio, esta tem de ser controlada. Existe uma variedade de fármacos que podem ser utilizados, uns mais apropriados para situações agudas e outros para casos mais crónicos.
Este plano elaborado pelo médico veterinário tem de ser cumprido à risca pois há consequências na interrupção abrupta de certos fármacos, como é o caso dos glucocorticoides.
3. Banhos e higiene do pelo
Os banhos podem reduzir o prurido, remover alergénios que estejam aderidos ao pelo e prevenir o crescimento microbiano nas lesões da pele. Existem champôs próprios que contêm ácidos gordos que hidratam e têm propriedades anti-inflamatórias.
4. Evitar fatores agravantes
Para um animal com dermatite atópica, é preciso pouco para que haja uma recaída, pelo que é importante ter atenção às pulgas, à má higiene do pelo que pode favorecer o crescimento bacteriano e à alimentação. Uma dieta de qualidade é essencial para a manutenção das defesas da pele.
5. Imunoterapia específica de alergénio
É a melhor opção de tratamento para a dermatite atópica canina pois, é a única terapia que pode potencialmente levar à remissão dos sinais clínicos sem adicionar outros fármacos. O objetivo desta terapia é aumentar a tolerância do animal aos alergénios ambientais. O protocolo varia consoante o caso, mas consiste na administração dos alergénios, aumentando a dose em cada sessão, para que haja uma dessensibilização por parte do organismo.
Está mais indicada para animais com sinais clínicos severos que se prolongam por vários meses, e o seu custo elevado é uma das desvantagens.