Luís Cristino (nutricionista)
Luís Cristino (nutricionista)
22 Jan, 2020 - 14:36

Défice de colina em dietas vegetarianas: qual a importância?

Luís Cristino (nutricionista)

Frequentemente é encontrado défice de colina em dietas vegetarianas, sendo necessário otimizar a dieta para evitar algumas consequências na saúde.

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A colina é um nutriente essencial, uma vez que é necessária para o desencadeamento de diversas funções para a manutenção da saúde humana, e a produção endógena não consegue suprimir as necessidades, sendo necessária a ingestão de alimentos que contenham este nutriente, nomeadamente alimentos de origem animal. Posto isto, é encontrado frequentemente défice de colina em dietas vegetarianas, sendo necessário otimizar a dieta para evitar consequências a nível da função hepática, do desenvolvimento neurológico e do metabolismo humano.

O que é a colina e quais as suas funções?

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A colina é um nutriente essencial para os seres humanos, uma vez que a quantidade produzida endogenamente (no fígado) não é suficiente para atender às necessidades, devendo, portanto, ser obtida através de fontes alimentares e, sempre que se justifique, através do uso de suplementação (1).

É um composto orgânico solúvel em água, não sendo uma vitamina nem um mineral.

A colina desempenha um papel fundamental no metabolismo humano ao longo de todo o ciclo de vida, onde se incluem ações na síntese de neurotransmissores (acetilcolina), no processo de síntese do ácido desoxirribonucleico (ADN) e no processo de metilação, na estrutura da membrana celular e no transporte e metabolismo da gordura.

Relativamente à metilação, a colina contribuí para a formação de um composto (S-adenosilmetionina) responsável pela metilação do ADN e de proteínas que desempenham um papel fundamental na regulação da expressão génica, chamadas de histonas. A colina influência ainda a função hepática relacionada com o metabolismo de lipoproteínas, síntese de fosfolípidos, dano oxidativo e transporte de lípidos e de colesterol (V-LDL) (1,2,3).

No que diz respeito a ações na síntese de neurotransmissores, a colina é um percursor do neurotransmissor acetilcolina que está envolvido em diversas funções, destacando-se o armazenamento de memória e o controlo muscular (2).

Ingestão dietética de referência

A European Food Safety Authority (EFSA) define a ingestão diária adequada de colina da seguinte forma (2):

IdadeIngestão Adequada (mg/dia)
7 aos 11 meses160
1 aos 3 anos140
4 aos 6 anos170
7 aos 10 anos250
11 aos 14 anos340
15 aos 17 anos400
Adultos400
Gravidez480
Lactação520

Estes valores parecem ser suficientes para que pessoas saudáveis evitem consequências negativas da deficiência em colina.

Foi constatado que na Europa a população tem uma ingestão média de colina inferior à dose diária adequada estabelecida (1, 3).

Principais fontes de Colina

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Como já referido anteriormente, é possível obter colina através de fontes alimentares, nomeadamente em produtos animais, ou através de suplementação.

Fontes Alimentares

A colina encontra-se em fontes alimentares, nomeadamente de origem animal, estando presente nos seguintes alimentos (por 100g) (1, 2, 4):

  • Gema do ovo (670 mg)
  • Fígado (431 mg)
  • Ovos (226 mg)
  • Carme de vaca (104 mg)
  • Salmão (90,4 mg)
  • Carne de porco (78,2 mg)
  • Carne de frango (61,8 mg)
  • Amendoins (52,5 mg)
  • Brócolo (40,1 mg)
  • Feijão (31,1 mg)
  • Leite (16,5 mg)

O método da preparação culinária pode mudar a biodisponibilidade de colina presente nos alimentos.

Um estudo na população americana verificou que atingir o valor da ingestão diária adequada foi extremamente difícil sem o consumo de ovos ou a ingestão de suplementos, sendo que os consumidores de ovos tiveram quase o dobro da ingestão quando comparados com não consumidores.

O mesmo foi verificado com a ingestão de carne e outros produtos de origem animal (1, 4). Uma vez que os produtos de origem vegetal são os que apresentam um menor teor em colina pode ocorrer défice de colina em dietas vegetarianas

Suplementação

Estudos observacionais sugerem que a suplementação com colina durante a gravidez pode ter efeito benéfico na saúde neurológica da criança, em particular na parte cognitiva (5).

No que diz respeito à forma de suplementação, a colina sob a forma de Bitartarato de Colina, Citidinadifosfocolina (CDP-Colina) e Alpha-GPC parecem ser mais eficazes.

Défice de colina em dietas vegetarianas: ingestão inadequada

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O risco de inadequação de colina, seja devido à baixa ingestão habitual ou por polimorfismos genéticos, é particularmente preocupante em momentos chaves do ciclo de vida, como gravidez e lactação (1).

A deficiência de colina poderá levar ao surgimento de algumas alterações prejudiciais e a doenças, como alterações hepáticas, doenças neurológicas e dano muscular (1, 2).

A insuficiência na fase perinatal poderá resultar em alterações permanentes na função cognitiva da criança, uma vez que o seu défice leva poderá levar a consequências na formação neurológica do bebé (2, 3).

Relativamente às alterações hepáticas, o défice alimentar de colina pode provocar fígado gordo (hepática não alcoólica), uma vez que não existe transporte de triglicerídeos para fora do fígado acumulando-se nos hepatócitos (3).

Notas finais

A tendência atual para dietas à base de produtos de origem vegetal, pode ser preocupante levando ao défice de colina em dietas vegetarianas. Sendo uma área preocupante e a ter em consideração aquando a mudança de hábitos alimentares, nomeadamente durante a gravidez e a lactação.

É possível conseguir os valores necessários com uma dieta baseada em produtos vegetais, no entanto é necessário um plano nutricional que garanta a ingestão diária adequada.

É importante manter uma alimentação balanceada e estruturada de forma a alcançar o valor de ingestão diária adequada deste nutriente essencial, sendo sempre importante recorrer a um profissional de saúde para avaliar a necessidade da utilização de suplementação.

Fontes

1. Derbyshire, E. (2019). Could we be overlooking a potential choline crisis in the United Kingdom?. Disponível em:
https://nutrition.bmj.com/content/early/2019/07/16/bmjnph-2019-000037
2. European Food Safety Authority. (2016) Dietary reference values for choline. Disponível em:
http://www.efsa.europa.eu/en/press/news/160817
3. Wiedeman, A. et al. (2018). Dietary choline intake: current state of knowledge across the life cycle. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30332744
4. Wallace, T. et al. (2017). Usual choline intakes are associated with egg and protein food consumption in the United States. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28783055
5. Leermakers, E.T. et al. (2009). Effects of choline on health across the life course: a systematic review. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26108618

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