É falado por quase todos os amantes de uma boa alimentação no mundo, nos últimos anos, mas não é por isso que não deve conhecer os cuidados a ter no consumo de bagas goji.
A Lycium barbarum L., mais popularmente conhecida como bagas de goji, é considerada um superalimento devido ao seu potencial antioxidante, anti-aging, anticarcinogénico, regulador de fatores cardiometabólicos (como a glicemia e os níveis de colesterol) e neuroprotetor.
É uma baga encontrada nas regiões áridas e sem-áridas da China, Coreia, Japão, Europa e América do Norte. Existem 3 espécies de Lycium (L. barbarum, L. chinense, e L. ruthenicum) sendo a Lycium barbarum a mais utilizada na medicina tradicional chinesa (1).
Vários estudos foram feitos no sentido de explorar e caracterizar o extrato da baga de goji. Foram isolados mais de 200 compostos diferentes incluindo carotenoides, flavonoides, polifenóis e polissacarídeos, sendo atribuídos aos últimos os benefícios das bagas de goji para a saúde em geral (1,2). Estes polissacarídeos em específico são compostos por arabinose, glicose, galactose, manose, xilose e ramnose (1).
As funções biológicas destes compostos são complexas e multifacetadas devido à relação existente entre a estrutura e a função dos polissacarídeos pelo que o mecanismo por detrás dos benefícios das bagas de goji e a saúde humana está ainda por explicar.
Funções biológicas das bagas de goji
1. Função antioxidante
Enquanto compostos bioativos, os polissacarídeos das bagas de goji apresentam propriedades antioxidantes com ação em vários tecidos (3, 4, 5).
Vários estudos exploraram este potencial, demonstrando resultados interessantes na redução dos marcadores de dano oxidativo no músculo e fígado de modelos animais e na regulação do stress oxidativo in vitro (6, 7, 8, 9, 10).
São ainda eficazes na regulação da atividade de enzimas antioxidantes em animais alimentados com uma dieta rica em gorduras, o que se manifestou numa melhoria da saúde hepática dos modelos (11).
2. Função no sistema imunitário
Alguns estudos demonstraram a função modeladora no sistema imune dos polissacarídeos das bagas de goji. Estes compostos parecem induzir a maturação das células dentríticas (com capacidade fagocitária e de apresentação de antigénio) (12).
Para além disso, um estudo revela que os polissacarídeos das bagas goji têm a capacidade de promover a proliferação dos esplenócitos e outros macrófagos, bem como aumentar a quantidade de linfócitos T circulantes (que fazem parte da imunidade específica), que são marcadores de imunidade aumentada (13).
3. Função antitumoral
Enquanto compostos bioativos, os polissacarídeos das bagas de goji apresentam um potencial antitumoral (14).
Estudos indicam a redução nas células do carcinoma hepatocelular, cancro coloretal e na inibição da proliferação das células de carcinoma gástrico (15, 16, 17).
Estes resultados parecem sugerir que estes compostos apresentam um potencial antitumoral interessante, de uma forma quase transversal.
Esta ação anticarcinogénica parece estar associada à inibição do crescimento celular, bloqueio do ciclo de replicação e indução de morte celular programada (1).
4. Função neuroprotetora
Os extratos de plantas têm vindo a ser utilizados no tratamento de várias componentes do sistema nervoso central e os polissacarídeos, no seu todo, apresentam efeitos benéficos em doenças neurológicas como doença de Alzheimer e Parkinson entre outras (18, 19).
Um estudo indica que os polissacarídeos das bagas de goji podem ser usados no tratamento das lesões provocadas pelo acidente vascular. Outro estudo propõe o papel destes compostos, em específico, na prevenção da doença de Alzheimer (20,21).
Outras funções biológicas das bagas de goji
A atividade antioxidante e as propriedades antitumorais e neuroprotetoras e reguladoras da função imune foram exploradas em modelos animais e em modelos in vitro.
Para além destas as bagas goji parecem apresentar outras funções biológicas como:
1. Função hepatoprotetora
Um outro componente das bagas de goji, a zeaxantina, aparenta ter um efeito benéfico nas células do fígado.
Uma revisão de literatura recente demonstra o seu efeito hepatoprotetor, anti-inflamatório e antiapoptótico, sugerindo que este composto pode ser usado no tratamento de várias doenças do fígado (21).
Relativamente aos polissacarídeos das bagas de goji, um estudo sugere o seu efeito hepatoprotetor em ratos com doença hepática alcoólica induzida (22).
Um outro estudo em ratos demonstrou que as bagas de goji podem atenuar a inflamação nos casos de fibrose hepática induzida, através da inibição das vias de sinalização de citocinas pro-inflamatórias (23).
2. Função na saúde ocular
As propriedades dos polissacarídeos das bagas de goji já citadas podem ser úteis no tratamento de doenças oculares, particularmente as que afetam a lente e a retina, incluindo glaucoma, isquemia/reperfusão ocular, degeneração macular associada à idade e retinopatia diabética (24).
Um estudo em ratos avaliou o efeito de diferentes doses de extrato de goji na xeroftalmia (olho seco). Para além de melhorias marcadas após uma semana de intervenção, neste estudo não se verificaram alterações histológicas a nível renal e hepático, sugerindo a segurança do suplemento no tratamento das doenças oculares (25).
3. Efeito antidiabético e antihipertensor
Os efeitos das bagas de goji nos fatores de risco cardiometabolicos apresentam resultados inconsistentes.
Numa meta-análise recente foi demonstrado que as intervenções com extratos de goji reduziram significativamente os valores de glicose em jejum e marginalmente as de colesterol total e triglicerídeos mas, nestes dois casos, sem significado estatístico.
Não se encontraram benefícios na perda de peso e pressão arterial (26). No entanto, no caso da tensão arterial, alguns autores apresentam resultados distintos (32).
Um outro estudo confirma a ação antidiabética das bagas de goji, com aumentos na concentração de insulina e reduções nas concentrações de hegoglobina glicosilada (HbA1c), colesterol total, triglicerídeos e marcadores de inflamação como a interleucina 6 (IL-6) (27).
Ainda outro estudo em humanos confirma o potencial hipoglicemiante das bagas de goji, concluindo que este efeito é mais marcado nos indivíduos sem tratamento farmacológico para a diabetes, do que naqueles que tomavam antidiabéticos orais (34).
Cuidados a ter no consumo de bagas goji: riscos e interações
Considera-se que as bagas de goji são seguras para consumo oral, a curto prazo (habitualmente 3 meses).
Em alguns casos raros, verificou-se aumento da sensibilidade aos raios ultravioleta (UV), lesões hepáticas e reações alérgicas (28).
Aconselhe-se com o seu médico ou nutricionista antes de iniciar a toma destes alimentos para conhecer melhor os cuidados a ter no consumo de bagas de goji, caso se identifique com algum dos casos listados abaixo.
1. Gravidez e aleitamento
Pouco se sabe acerca da segurança das bagas de goji em grávidas e lactentes.
Existe uma certa preocupação que as bagas de goji possam ter um efeito abortifaciente e que possa causar contrações uterinas. No entanto, este efeito não foi reportado em humanos.
De qualquer forma, até mais estudos serem realizados, não se aconselha o consumo de bagas de goji por gravidas e lactentes (28).
2. Reações alérgicas
Foram descritos alguns casos de reação alérgica após a toma de bagas de goji. Um autor reportou dois casos de anafilaxia acompanhada de urticaria generalizada, edema, dispneia e rinite aguda após a ingestão das bagas.
Em ambos casos, os testes de alergologia confirmaram a alergia às bagas de goji devido a reação cruzadas com as proteínas do tomate (29, 31).
Outros casos semelhantes foram analisados, revelando reação cruzada com o pêssego, frutos secos e tabaco (30, 31).
3. Diabéticos
O efeito hipoglicemiante das bagas de goji foi demonstrado tanto em modelos animais como em diabéticos tipo 2 (26, 27, 34). No entanto, tal como em tantos outros suplementos vegetais, o efeito cumulativo do consumo de goji com a farmacoterapia pode resultar em hipoglicemias de grau II (glicose plasmática > 70 mg/dl e ≥ 54 mg/dL) ou III (glicose plasmática > 54 mg/dL) pelo que se recomenda cautela e controlo glicémico apertado se decidir fazer uso deste suplemento.
Alguns dos medicamentos que podem ter interação com as bagas de goji são a glimepirida, gliburida, insulina, pioglitazona, rosiglitazona, clorpropamida, glipizida e tolbutamida entre outros (28).
6. Interação com medicamentos com metabolismo hepático
Alguns fármacos são metabolizados no fígado. Uma vez que os compostos das bagas goji reduzem a velocidade a que o fígado processa essas substâncias, o potencial toxicológico do medicamento pode ser acentuado, aumentando o risco desenvolver os efeitos secundários descritos nas bulas.
Alguns dos medicamentos incluem a amitriptilina, diazepam, zileuton, celecoxib, diclofenac, irbesartan, losartan, fenitoina, piroxicam, tamoxifeno, tolbutamina, torsemida, varfarina entre outros (28).
5. Hipotensos
Embora uma meta-análise recente não tenha demonstrado que as intervenções com extratos de goji reduzem a pressão arterial (26), a verdade é que um dos principais benefícios apontados a este produto é a sua função antioxidante, que envolve a produção de óxido nítrico (NO), um potente agente vasodilatador.
Para além disso, estudos apontam para um possível papel na inibição do sistema renina-angiotensina, o que pode justificar o uso das bagas de goji como tratamento tradicional para a hipertensão (33).
Se tem a pressão arterial baixa por natureza ou se faz medicação para a baixar, aconselhe-se com o seu médico ou nutricionista antes de iniciar o consumo de bagas de goji.
Alguns dos medicamentos que podem ter interação com as bagas de goji são o captopril, enalapril, losartan, valsartan, diltiazem, amlodipina, hidroclorotiazida e furosemida entre outros (28).
6. Interação com a Varfarina
A interação entre as bagas de goji e a toma de varfarina é a mais estudada. Embora não apresentem um papel anticoagulante, as bagas de goji alteram o metabolismo hepático de vários fármacos, incluindo a varfarina (28).
Neste sentido, o tempo de excreção do fármaco é aumentado, potenciando a sua ação anticoagulante e aumentando o risco de hemorragia severa.
Vários casos de interação estão já descritos (33,35,36).
Cuidados a ter no consumo de bagas de goji: dosagem
A quantidade apropriada de consumo de bagas de goji depende de vários fatores, incluindo a idade, estado de saúde e presença de patologias específicas que possam vir a piorar com a toma deste suplemento.
Uma vez que não há muitos estudos sobre a segurança das bagas de goji em humanos, também não há dose standard definida.
Por exemplo, o consumo de 15 gramas de bagas de goji por dia aumentou os níveis de zeaxantina plasmáticos, contribuindo para a melhoria da saúde ocular. No caso dos diabéticos, o uso de 300 mg/dia de polissacarídeo, durante 3 meses, resultou em melhorias marcadas na glicemia, expressão de insulina e valores de colesterol HDL.
Nos casos em que se verificou interação com a varfarina, alguns dos pacientes estavam a consumir doses de bagas que variavam entre os 6 e os 18 gramas. Neste sentido, não se pode estabelecer uma dose standard segura para todos os casos (38).
No entanto, tendo em consideração as RDA (Recommended Daily Allowance) para as vitaminas E (12 mg/dia) e C (80 mg/dia), podemos concluir que uma dose de 30 g de bagas secas (as mais comuns no mercado) contribui para satisfazer em 20% e 16%, respetivamente, as RDA nestes compostos pelo que parece uma dose segura e saudável (37).
Certifique-se que segue as instruções de utilização do produto, aconselhando-se com o seu farmacêutico, médico ou nutricionista antes de iniciar a toma de qualquer suplemento.