Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
02 Abr, 2020 - 09:05

4 cuidados alimentares com as crianças em tempo de COVID-19

Nutricionista Hugo Canelas

Numa altura em que permanecer em casa é necessário, é importante ter certos cuidados alimentares com as crianças.

Cuidados alimentares com as crianças: menina a beber água

A necessidade de permanência prolongada em casa como forma de travar a propagação do novo coronavírus está invariavelmente associada à diminuição da atividade física e à alteração dos padrões de compra de géneros alimentares.

Num país em que o 29,6% das crianças entre os 6 e os 9 anos apresenta excesso de peso (das quais 12% são já obesas), esta situação é potencialmente preocupante (1).

É certo que é necessário promover o distanciamento social como forma de conter a propagação do vírus, mas também é necessário promover melhores hábitos alimentares e, neste sentido, destacamos 4 cuidados alimentares com as crianças em tempo de COVID-19.

Cuidados alimentares com as crianças em tempo de COVID-19

1. Estimule os mais pequenos a consumir mais frutas e hortícolas

cuidados alimentares com as crianças: crianças a comer fruta e legumes

De acordo com a roda dos alimentos e dependendo das necessidades energéticas, a ingestão de hortícolas e frutas deve rondar as 3 e as 5 porções diárias (2).

Os hortícolas são pobres do ponto de vista energético, podendo ser adicionadas porções relativamente grandes ao prato sem que isso se traduza em muitas calorias. Para além disso, o conteúdo em fibra é frequentemente elevado o que aumenta a sensação de saciedade e reduz o consumo de calorias durante o dia (3).

Em tempo de COVID-19 a inatividade física das crianças contribui para uma diminuição das suas necessidades energéticas diárias pelo que começar as refeições principais com sopa e consumir 2 a 3 porções de fruta por dia parece suficiente para atingir as quantidades recomendadas destes alimentos.

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2. Habitue as crianças a beber mais água ou líquidos sem calorias

cuidados alimentares com as crianças: menino a beber água

As bebidas açucaradas como refrigerantes, sumos e néctares de frutas são uma das principais fontes de açúcar consumido pelas crianças.

Segundo o relatório de 2019 do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, desde a introdução do imposto especial sobre as bebidas adicionadas de açúcar, o consumo destes produtos tem vindo a diminuir desde 2017. Mesmo assim, em 2018, ainda foram consumidas 41 mil toneladas de açúcar (4).

Com a necessidade de permanência prolongada em casa, fomentar o consumo de água ou bebidas não açucaradas como infusões ou águas aromatizadas faz parte dos cuidados alimentares com as crianças.

A ideia será propor às crianças um desafio, recorrendo a garrafas individuais ou promovendo o consumo de uma quantidade de água em determinadas alturas do dia, incluindo às refeições principais.

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3. Evite ter em casa o chamado “lixo alimentar”

cuidados alimentares com as crianças: menina à procura de bolachas nos armários da cozinha

O marketing dirigido às crianças influencia de forma significativa os seus comportamentos e, efetivamente, são os produtores de géneros alimentares mais calóricos e com menor qualidade nutricional aqueles que mais investem em publicidade.

Associado a isto, o tédio de passar mais tempo em casa faz com que as viagens ao frigorífico ou aos armários sejam mais frequentes. Os géneros mais frequentemente escolhidos são os snacks com elevados teores de sal, gordura ou açúcar, aos quais damos o nome de “lixo alimentar” uma vez que não apresentam interesse nutricional.

Uma vez que instituir regras de consumo é mais difícil, nestes casos, a solução é simples: não os compre e tente substitui-los por outros mais saudáveis.

Existem diversas receitas de biscoitos, muffins, barras de cereais e panquecas que constituem snacks interessantes e contribuem para envolver as crianças e criar um momento de confraternização familiar à volta dos alimentos.

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4. Promova o consumo equilibrado de proteínas

Cuidados alimentares com as crianças: menino a beber leite

A proteína alimentar tem uma função fundamentalmente plástica, permitindo o crescimento e desenvolvimento das crianças.

Neste sentido, é importante que o seu consumo diário respeite as orientações da roda dos alimentos, ou seja, 2 a 3 porções de lácteos, 1,5 a 4,5 porções de carne, pescado e ovos e 1 a 2 porções de leguminosas (2).

No grupo dos lácteos, é importante que sejam escolhidos iogurte com menor teor de açúcar (um iogurte pode conter até 22 g de açúcar por 125 g), optando pelos light ou naturais, sem pedaços de fruta. Esta é ainda uma oportunidade para inovar, fazendo o próprio iogurte em casa, adicionando a fruta fresca posteriormente.

É importante ainda variar o consumo de carne, pescado e ovos, promovendo sempre que possível o consumo de peixe (e não de derivados como douradinhos) que não seja frito às refeições principais.

As leguminosas como o feijão, o grão e as ervilhas são importantes fontes não só de proteínas, mas também de fibras e o seu consumo diário deve ser incentivado, por exemplo nas sopas, como acompanhamento do prato ou na forma de pastas para barrar no pão e substituir as manteigas e margarinas.

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Outras estratégias para promover a alimentação saudável em tempo de Covid-19

cuidados alimentares com as crianças: família a cozinhar

É mais importante que nunca promover a literacia alimentar e nutricional e o tempo passado em casa é uma oportunidade ótima para envolver os mais novos nas atividades que envolvam a alimentação.

Atividades que envolvam o planeamento alimentar como elaboração de ementas semanais, incluindo os métodos de confeção e o planeamento das compras com recurso à leitura de rótulos podem não ser cuidados alimentares mas não são menos importantes.

Envolver as crianças na preparação dos alimentos é também importante para a promoção de melhores hábitos alimentares. Neste sentido, as atividades deverão ter como objetivo ensinar a cozinhar os géneros alimentares que habitualmente são rejeitados pelos mais jovens, como os hortícolas, as leguminosas e o pescado.

Ensinar as crianças a fazer snacks e sobremesas saudáveis poderá ser uma das formas de limitar o acesso aos géneros com menor interesse como bolachas, biscoitos e batatas fritas.

Obviamente que as atividades deverão ser supervisionadas por um adulto e ter em consideração quais as tarefas apropriadas para cada faixa etária.

Por fim, num período em medidas de higiene são mandatórias, é importante ensinar as boas práticas de higiene e segurança alimentar, nomeadamente a lavagem corretas das mãos e dos alimentos e a limpeza e desinfeção das superfícies entre outras práticas.

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Conclusão

A pandemia por COVID-19, associada às medidas preventivas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde obrigou à reestruturação completa do dia-a-dia, desde a prática de atividade física até às interações sociais.

A permanência em casa por tempo indefinido força a novas medidas para evitar o escalar de outros problemas, nomeadamente aqueles relacionados com o peso, que são especialmente preocupantes na população pediátrica.

As novas formas de aquisição de bens alimentares e a diminuição marcada da atividade física, associadas ao confinamento, podem constituir uma nova oportunidade para adotar novas práticas alimentares que com certeza serão levadas para a vida pelos mais novos.

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Fontes

  1. DGS. (2019). 11 de Outubro – Dia Mundial do Combate à obesidade 2019. Disponível em: https://www.dgs.pt/em-destaque/11-de-outubro-dia-mundial-do-combate-a-obesidade-2019.aspx
  2. DGS. (n.d.). Alimentação – Roda dos Alimentos. Disponível em: https://www.dgs.pt/ficheiros-de-upload-1/alimentacao-roda-dos-alimentos-pdf.aspx
  3. Howarth, N. C., et.al. (2009). Dietary Fiber and Weight Regulation. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11396693
  4. PROBEB. (2019). Portal da Associação Portuguesa das Bebidas Refrescantes não alcoólicas. Disponível em: https://probeb.pt/conteudo/Mercado-e-estat%C3%ADsticas/-/47
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