Share the post "Criopreservação de células estaminais: tudo o que precisa de saber"
O nascimento de um filho implica a tomada de algumas decisões. Uma delas é a criopreservação de células estaminais do cordão umbilical aquando do parto, como fórmula preventiva para doenças no futuro.
No entanto, e sendo este um processo dispendioso, é importante esclarecer os pormenores e potencialidades deste processo, assim como possíveis dúvidas que possam surgir na cabeça dos pais, de modo que a fazerem uma escolha mais informada.
CÉLULAS ESTAMINAIS E SUA IMPORTÂNCIA
Durante muito tempo, o cordão umbilical foi considerado material sem utilidade terapêutica, sendo descartado e destruído após o parto.
No entanto, nas últimas décadas, a situação mudou, sendo o cordão umbilical, atualmente, visto como uma fonte de células estaminais com um potencial terapêutico importante.
Com efeito, como o sangue que se encontra no interior do cordão umbilical é rico em células estaminais hematopoiéticas, células que possuem um poder proliferativo muito elevado. Por esse motivo, permitem originar todos os elementos do sistema sanguíneo e imunitário.
Por outro lado, o tecido do cordão umbilical contém células estaminais mesenquimais, com capacidade de se diferenciarem em vários tipos celulares como pele, osso, músculo, cartilagem, tecido nervoso e gordura.
POTENCIAL TERAPÊUTICO
As células estaminais do cordão umbilical assumem-se como um potencial tratamento para mais de 80 doenças, como doenças hemato-oncológicas (leucemias e linfomas), doenças do sistema imunitário e em algumas patologias genéticas.
Contudo, importa ressalvar que essas doenças são raras e que a probabilidade de uma criança precisar de um transplante até aos 20 anos é extremamente baixa, o que limita o potencial terapêutico destas células.
Já com o aumentar da idade, esta probabilidade aumenta. Mas não há garantias de que uma amostra de sangue de cordão umbilical tenha boa qualidade passados 20-25 anos de armazenamento.
Para além de poderem ser utilizadas no próprio (transplante autólogo), estas células permitem que um irmão ou outro familiar mais próximo (transplante alogénico) possa usar a amostra criopreservada em caso de doença.
Os transplantes autólogos têm como principais vantagens:
- Estão imediatamente disponíveis e não há necessidade de identificar um dador compatível;
- Menor risco de complicações;
- Não há necessidade de terapia imunossupressora por forma a garantir que as células transplantadas não atacam o organismo ou que o organismo rejeita as células transplantadas;
- A reconstituição imunológica é mais rápida do que após um transplante heterólogo/alogénico;
- Existe um risco menor de infeções oportunistas;
- A taxa de eficácia é mais elevada pois a falha do transplante ocorre raramente e a mortalidade relacionada ao tratamento é menor que 5%.
Apesar destas vantagens, a criopreservação das células estaminais do cordão umbilical não pode ser encarada como um seguro biológico contra todas as patologias, havendo situações em que a utilização não é recomendada ao próprio dador.
Isto porque, muitas das doenças que têm indicação para o transplante destas células são de origem genética, o que significa que se iria reintroduzir a doença a eliminar. Nesses casos, recorre-se aos transplantes alogénicos.
Já no caso do transplante alogénico, as vantagens são as seguintes:
- No caso de cancro, verifica-se que as células de outro dador compatível ajudam a combater as células cancerígenas do doente;
- Menores taxas de recaídas, em particular nos casos de neoplasias malignas;
- Pode ser utilizado em problemas genéticos.
ONDE FAZER A CRIOPRESERVAÇÃO DE CÉLULAS ESTAMINAIS?
Atualmente existem diversos bancos privados em Portugal que possibilitam a criopreservação de células estaminais do cordão umbilical, mas também já existe um banco público para o efeito, o Lusocord, em funcionamento no Centro de Histocompatibilidade do Norte, no Porto.
Ao contrário das entidades privadas, o banco público disponibiliza de forma gratuita as células do cordão umbilical doadas a quem precisar, seja em Portugal ou em qualquer outro local do mundo.
Esta é uma boa opção para quem não tem meios financeiros ou não quer recorrer a uma empresa privada, pois o processo de recolha e armazenamento é gratuito.
No entanto, o funcionamento deste banco baseia-se num sistema de doação generosa, pelo que o dador não tem preferência sobre a amostra que doou. Essa garantia só é possível caso recorra a um banco privado.
Outra desvantagem dos bancos privados é o facto de o material genético apenas poder ser utilizado pelo próprio ou pela sua família, o que para a maioria das doenças em questão não é solução.
VANTAGENS DA CRIOPRESERVAÇÃO DE CÉLULAS ESTAMINAIS DO CORDÃO UMBILICAL
Os transplantes de células hematopoéticas já era realizado antes de se perceber que tais transplantes poderiam ser feitos com o sangue do cordão umbilical. Esses transplantes podiam ser feitos com recurso a células-tronco da medula óssea ou a filtração do sangue periférico após estimulação com fatores de crescimento.
No entanto, os transplantes de células-tronco da medula óssea além de mais demorado, é mais doloroso e tem menor taxa de eficácia.
Neste contexto, as células do cordão umbilical têm como principal vantagem o menor risco de doença no hospedeiro, quando comparado com o transplante de células-tronco de medula óssea ou de sangue periférico, perante circunstâncias de compatibilidade semelhantes, o que por sua vez resulta numa maior probabilidade de sobrevivência do doente e menor morbilidade.
COMO É FEITA A CRIOPRESERVAÇÃO DE CÉLULAS ESTAMINAIS?
O processo de adesão a soluções de criopreservação de células estaminais deve ocorrer até dois meses antes do parto. Nessa altura, os pais devem adquirir um kit de colheita de sangue e de tecido de cordão umbilical junto da empresa que escolheram para efetuar a criopreservação das células estaminais do bebé.
O procedimento de colheita das células fica a cargo do médico obstetra, que deve ser informado pelos pais com a devida antecedência, sendo totalmente seguro e indolor quer para a mãe, quer para o recém-nascido.
Depois da colheita, o banco escolhido pelos pais é informado para efetuar o transporte em tempo útil até ao laboratório, onde se procede à análise e criopreservação das células em azoto líquido a 196º negativos, durante, pelo menos, 20 anos.