Saber como agir perante uma criança agressiva na escola tem sido tema recorrente de vários estudos, bem como motivo de preocupação crescente entre pais, professores e outros educadores.
Os impulsos agressivos são próprios do ser humano, sendo considerados um aspeto estruturante da personalidade quando geridos em proporções adequadas e com propósitos adaptativos.
Factos a reter sobre o comportamento agressivo na infância
Há factos que nos fazem pensar e que conseguem explicar de certa forma, o porquê de uma criança ter um certo comportamento.
- Depende da qualidade dos cuidados no período pré-natal e na primeira infância (0 a 5 anos);
- A primeira infância é um período crítico para aprender a controlar comportamentos agressivos;
- Antes dos 3 anos de idade, a maioria dos meninos e das meninas testa utilizar a agressão física;
- Geralmente, as crianças utilizam agressão física quando estão sob emoções fortes ou como forma de alcançarem aquilo que querem;
- As raparigas tendem a deixar de utilizar agressão física mais cedo do que rapazes;
- As raparigas utilizam com mais frequência a agressão indireta (por exemplo, falar mal de um amigo) mais cedo e mais frequentemente do que rapazes;
- Com o desenvolvimento de habilidades sociais e de linguagem, a maioria das crianças já não utiliza agressão física;
- Todas as crianças, em algumas fases do seu desenvolvimento, recorrem pontualmente a comportamentos agressivos para lidar com situações de maior ansiedade ou conflito, mas estes comportamentos tendem a desaparecer com o crescimento;
- Estilos parentais permissivos, inconstantes e negligentes podem contribuir para que a criança adote comportamentos agressivos.
Agressividade na escola
A entrada da criança no contexto educacional e o primeiro contacto com os pares, acarretam uma grande expectativa em relação às aptidões e papéis sociais que devem desempenhar.
É no contexto escolar que os comportamentos agressivos se tornam mais evidentes. A criança agressiva na escola exibe um padrão repetitivo e persistente de agressividade, que prejudica os outros e viola as regras sociais.
O seu comportamento caracteriza-se por não dominar os impulsos agressivos, revelar uma atitude positiva perante a agressão e agir como se esta fosse socialmente aceitável. Estes comportamentos disruptivos da criança agressiva na escola dificultam o trabalho a desempenhar por professores e educadores.
A repetição desses comportamentos somada às dificuldades manifestadas pelos professores/educadores em lidar com a agressividade faz com que as condutas inadequadas persistam, prejudicando a aprendizagem e a socialização.
Para além do prejuízo do desempenho académico, a criança agressiva na escola tem também, habitualmente, maiores dificuldades no estabelecimento de relações saudáveis.
Crianças que defrontam e vitimizam os seus colegas e os professores/educadores de forma sistemática e apresentam oposição à realização de tarefas e regras escolares, são frequentemente rejeitadas no contexto escolar, recebendo menor investimento afetivo e académico dos professores/educadores e dos colegas.
Outro aspeto característico da criança agressiva na escola é a rejeição entre pares, ou seja, devido aos comportamentos que adota tem maior probabilidade de vir a ser rejeitada pelos seus colegas.
O problema da agressividade surge associado a uma multiplicidade de fatores, entre as quais as relações estabelecidas na escola; o clima organizacional; o meio no qual a escola se insere; o sistema de gestão da disciplina; as práticas educativas; o insucesso escolar; baixos níveis de tolerância; baixa autoestima; exposição à violência no âmbito familiar; dinâmicas familiares; violência televisiva; imaturidade emocional; ausência de regras e limites em casa.
Como lidar com uma criança agressiva na escola?
A violência é um problema social e a escola tem um papel fundamental na sua redução através de ações e programas preventivos, idealmente desenvolvidos em parceria com as famílias, envolvendo-as com o problema. Essas ações devem sempre tentar:
- Garantir que as interações entre crianças pequenas são supervisionadas de perto;
- Ter normas bem claras, bem estabelecidas e que estejam bem explícitas na sala de aula;
- Ouvir e dar atenção às reclamações, depoimentos e denúncias dos alunos quando estas se referem a violência;
- Encorajar a criança a expressar verbalmente as suas emoções e a desenvolver a sua sensibilidade para com os outros;
- Demonstrar que existem formas não agressivas de se relacionar com os outros e com o meio ambiente;
- Ajudar a criança a encontrar outras formas de obter o que deseja sem recorrer à agressão;
- Aplicar sanções adequadas à idade, que promovam aprendizagem (por exemplo, consolar a vítima, compensar por qualquer dano causado, pedir desculpas, etc.);
- Garantir que a criança não retira benefícios do comportamento agressivo;
- Reforçar e elogiar os aspetos positivos da criança e os seus sucessos, de forma que se sinta segura e confiante;
- Reforçar o desenvolvimento de competências sociais em contexto familiar e escolar;
- Manter uma relação estreita e cooperante com a família, de modo a contribuir para o desenvolvimento harmonioso da criança;
- Verificar com os responsáveis pelos espaços de recreio e transporte escolar como são tratados os alunos nestes contextos e como decorre a interação entre eles;
- Desenvolver projetos educativos que promovam a cidadania, o respeito pelo outro e a não-violência;
- Promover o desporto escolar, especialmente os desportos de equipa;
- Facilitar o acesso a jogos didáticos que promovam boas práticas.