É consensual que determinadas patologias crónicas tendem a colocar os doentes, especialmente idosos, em grupos de risco. Aqui, as doenças mais críticas incluem doença cardiovascular, doença pulmonar, doença oncológica, hipertensão arterial e diabetes1.
Os doentes com doença cardíaca, além de representarem um grupo de maior risco de contrair COVID-19, têm uma maior probabilidade de terem complicações que podem ser fatais.
Alguns estudos indicam o impacto negativo que a COVID-19 tem em utentes com doença cardiovascular: 7-17% desenvolveram miocardites, 24% insuficiência cardíaca, 17% arritmias e 31% eventos tromboembolíticos 2, 3.
Uma nota interessante refere que foram descritos casos de cardiotoxicidade em doentes cardiovasculares com COVID-19, quando utilizados alguns fármacos como a hidroxicloroquina 4.
sintomas da COVID-19 Em DOENtes CARDIOVASCULARes
Os critérios de diagnóstico seguem os mesmos padrões clínicos, baseados na sintomatologia.
No entanto, grande parte dos casos de pacientes com doença cardiovascular não apresenta os sintomas típicos da infeção, febre e tosse, mas como manifestação clínica inicial demonstraram outros sintomas cardíacos, como dor no peito e dispneia 4, 5.
Diagnóstico da COVID-19 em DOENTES CARDIOVASCULARES
Para o diagnóstico da COVID-19 nestes doentes, são coadjuvados meios complementares de diagnóstico e terapêutica, como:
- Eletrocardiograma (ECG)
- Biomarcadores cardíacos (Troponia I e T, NT-proBNP e D-dímeros)
- Outros exames imagiológicos não invasivos, com precauções adicionais (ecografia transtorácica e transesofágica, TAC e ressonância magnética), caso sejam justificados 5
Relativamente ao ECG este não evidencia alterações significativas em doentes com COVID-19.
Os aumentos séricos dos biomarcadores cardíacos, essencialmente a Troponina T e I, podem sugerir do desenvolvimento de algumas complicações cardíacas provocadas pela COVID-19.
No entanto, essas ligações devem ser avaliados de forma cuidada e minuciosa, pois até ao presente existem muito poucas evidências científicas que correlacionam os biomarcadores cardíacos como indicador de prognóstico 5.
medidas de precaução para doentes cardiovasculares
Segundo a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) e World Heart Foundation é de elevada importância sensibilizar estes utentes, assim como os familiares, para o potencial risco acrescido de contrair COVID-19, bem como consequentes complicações.
Por isso, a SPC vem sublinhar as medidas de precaução, nomeadamente:
- Evitar deslocações desnecessárias (especialmente para locais mais suscetíveis).
- Higienização frequente das mãos e utensílios diários.
- Verificar a temperatura corporal (se alguma suspeição de contágio).
- Promover um estilo de vida saudável (evitar/diminuir os fatores de risco).
- Insistir na vacinação para o vírus da gripe sazonal (influenza) e para a pneumonia bacteriana com a vacina pneumocócica dado o risco acrescido de infecção bacteriana secundária à infecção pelo SARS CoV-2 2, 6
A importância do doente cardiovascular manter a terapêutica
No que diz respeito à terapêutica na doença cardiovascular, esta não deve ser interrompida, mesmo a utilizada no controlo da hipertensão arterial (inibidores da enzima de conversão de angiotensina e antagonistas dos recetores de angiotensina).
Isto porque não existem evidências científicas devidamente fundamentadas, que demonstram que estes fármacos tenham um papel prejudicial ou protetor na infeção 6.
como se caracterizam as Doenças cardiovasculares?
As doenças cardiovasculares caraterizam-se por patologias que afetam o sistema circulatório, ou seja, o coração e vasos sanguíneos (artérias, veias e capilares). Podem ser de vários tipos, no entanto as mais críticas, e consideradas uma das principais causas de morte em Portugal, são as que afetam:
- O coração: angina de peito e enfarte agudo do miocárdio (EAM)
- O cérebro: acidente vascular cerebral (AVC).
Quase todas são provocadas por aterosclerose (placas de gordura e cálcio no interior das artérias) o que dificulta a circulação sanguínea nos órgãos e pode mesmo chegar a impedi-la, o que nesses casos pode vir a ser fatal 7.
Fatores de risco das doenças cardiovasculares
A probabilidade de surgir algum tipo de doença cardiovascular passa por controlar os fatores de risco modificáveis associados, sendo esses:
- Hiperglicemia e diabetes
- Hipercolesterolemia (colesterol elevado)
- Hipertrigliceridemia (triglicerídeos elevados)
- Pressão arterial elevada
- Excesso de peso e obesidade
- Tabagismo
- Sedentarismo
- Adicionalmente, este tipo de patologia também está associada à idade, género e fatores genéticos (histórico familiar de doença cardiovascular) 7
Garantir uma correta monitorização das doenças cardiovasculares em tempo de COVID-19 é essencial para evitar possíveis complicações em caso de doença.
- SNS. COVID-19 Grupos de Risco. Disponível em: https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/covid-19/grupos-de-risco/
- Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Posicionamento da SPC relativamente aos doentes cardiovasculares no contexto da pandemia por Covid-19. Disponível em: https://spc.pt/2020/03/15/posicionamento-da-spc-relativamente-aos-doentes-cardiovasculares-no-contexto-da-pandemia-por-covid-19/
- Elsevier. COVID-19 cardiovascular epidemiology, cellular pathogenesis, clinical manifestations and management. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352906720302876/
- Nature. COVID-19 and cardiovascular disease: from basic mechanisms to clinical perspectives. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41569-020-0413-9
- European Society of Cardiology. ESC Guidance for the Diagnosis and Management of CV Disease during the COVID-19 Pandemic. Disponível em: https://www.escardio.org/Education/COVID-19-and-Cardiology/ESC-COVID-19-Guidance#p07
- World Heart Federation. The link between COVID-19 and CVD. Disponível em: https://www.world-heart-federation.org/covid-19-and-cvd/
- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Doenças Cardiovasculares. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/03/DoencasCardiovasculares.pdf