Share the post "COVID-19 e diabetes: riscos, cuidados e dúvidas frequentes"
A European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e a Direção Geral da Saúde (DGS) são claras na afirmação: idosos e indivíduos com doença crónica como hipertensão, diabetes, patologia cardiovascular e doença respiratória crónica, estão em risco de desenvolver sintomas mais graves de infeção por COVID-19.
Com a evolução da propagação da infeção no nosso país e a taxa de população diabética mais elevada da Europa (9,9%), importa perceber como este grupo de risco deve gerir a sua doença, prevenir a infeção e atuar em caso de suspeita (1). No que diz respeito à COVID-19 e diabetes, conheça as precauções a adotar.
COVID-19 e diabetes: como prevenir a infeção
A Diabetes Mellitus aumenta a suscetibilidade a doença infeciosa bem como a quadros de maior gravidade e prognóstico menos favorável (2).
As Sociedade Portuguesa de Diabetologia (Spd), Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (Spedm), Sociedade Portuguesa Medicina Interna (Nedm/Spmi) e Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar criaram um documento de consenso em que reforçam as indicações da DGS para a prevenção da infeção por COVID-19 na população diabética. Recomendam:
- Manter-se no domicílio, reduzindo o número de saídas ao mínimo possível; evitar multidões ou aglomerados
- Tomar precauções diárias, mantendo distância de segurança de 1 metro de outras pessoas
- Evitar o contacto com pessoas doentes ou que apresentem sintomatologia respiratória
- Lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou desinfetante
- Não partilhar comida nem utensílios
- Manter-se hidratado, controlar a glicemia, corpos cetónicos e medir a temperatura
- Perante aparecimento de sintomas como febre, tosse ou falta de ar, deve manter-se em isolamento no seu domicílio e contactar a Linha de Apoio Saúde24
Gerir a diabetes em tempos de confinamento domiciliário
A American Diabetes Association (ADA) afirma que doentes com diabetes bem controlada não terão maior risco de contrair o vírus do que a população em geral (3).
Alterações às rotinas diárias provocadas pelo confinamento, como o decréscimo da atividade física, ou mudanças na dieta habitual pelo acesso limitado a alguns bens alimentares, podem dificultar essa gestão.
Valores de açúcar no sangue flutuantes ou acima dos valores-alvo, aumentam o risco de complicações relacionadas com a diabetes e tornam o doente diabético mais vulnerável a processos infeciosos, incluindo infeções virais. A própria infeção tenderá a ser mais agressiva, podendo contribuir para quadros mais graves e de mau prognóstico.
A situação poderá ser potenciada se, para além da diabetes, o doente é idoso ou tem patologia cardíaca. Estas condições aumentam a possibilidade de ficar gravemente doente com o COVID-19, porque a capacidade do corpo para combater uma infeção está comprometida.
Um controlo escrupuloso da diabetes é, portanto, fundamental nesta fase. A International Diabetes Federation (IDF) reforça essa importância e alerta:
- Mantenha-se hidratado
- Monitorize a sua glicose no sangue
- Monitorize a sua temperatura
- Se estiver medicado com insulina, monitorize também os corpos cetónicos;
- Siga as recomendações da sua equipe de saúde (4)
- A IDF tem também disponível na sua página sugestões para exercício físico em casa, adequado à condição física de cada doente (5), ajudando a contrariar o decréscimo de atividade física decorrente do confinamento.
Dúvidas frequentes sobre COVID-19 e Diabetes
O risco de infeção pelo novo coronavírus é maior para diabéticos tipo 1 ou tipo 2?
Até ao momento, não existe evidência de diferença para risco de infeção de pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2. Outros fatores associados à diabetes como idade, controlo da doença e doenças crónicas associadas, parecem ter maior relevância para desenvolver casos mais graves de COVID-19.
Se a diabetes estiver bem compensada, o risco de infeção pelo novo coronavírus é menor?
Sim. Se a diabetes estiver bem compensada, o risco de infeção pelo novo coronavírus é semelhante ao da população em geral. Quando a diabetes está descompensada, a probabilidade do sistema imunitário estar mais fragilizado é maior, logo mais facilmente a pessoa poderá contrair uma infeção. Por outro lado, se estiver infetado pela COVID-19, a probabilidade de descompensar a diabetes é maior. Assim, é de extrema importância manter o controlo da glicemia e vigiar a tensão arterial.
As crianças e jovens diabéticos tipo 1 são considerados grupos de risco?
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica, o risco de uma criança ou jovem portador de diabetes tipo 1 contrair COVID-19 é semelhante ao da população em geral, assim como para o mesmo grupo etário (6). Apenas 1,7% dos casos de COVID-19 são relativos à população pediátrica e os sintomas são ligeiros. Apenas nos casos de crianças e jovens com problemas respiratórios e cardiovasculares, os sintomas e quadro clinico poderá ser mais grave (6).
Os sintomas da COVID-19 são diferentes para quem sofre de diabetes?
Não. Os sintomas são semelhantes aos da população em geral e podem agravar-se de forma progressiva: febre (acima de 38.º), tosse e dificuldade respiratória. Em alguns casos, podem ainda surgir dores de cabeça, congestão nasal, dores musculares ou articulares, e alterações do trato gastro-intestinal (vómitos e diarreia).
Caso suspeite de estar infetado pela COVID-19, deverá manter-se em isolamento e contatar a linha de saúde 24 (808 24 24 24). Não se esqueça de mencionar a diabetes e a sua medicação habitual. Deverá também contatar o seu médico assistente, que o poderá orientar sobre como proceder em relação à diabetes.
Tenho diabetes e resultado positivo para COVID-19. O que devo fazer?
Dependendo do tipo de diabetes (1 ou 2), as orientações a seguir são diferentes. A Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (7), disponibiliza um manual com os diferentes cuidados a ter consoante a tipologia da doença. Caso tenha alguma dúvida, poderá ainda entrar em contacto com a linha de aconselhamento especializado a adultos, através do número 21 381 61 61.
Existem alterações no acesso à insulina?
Não. As Sociedades Cientificas na área da diabetes, em associação com Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA), emitiram um comunicado conjunto onde esclarecem que: as insulinas necessárias à saúde dos Portugueses continuam a ser disponibilizadas aos doentes diabéticos e as principais companhias farmacêuticas abasteceram, atempadamente, o mercado reforçando-o em 20% (8).
Resposta do sistema de saúde em tempos de pandemia
Outra preocupação gerada pelo cenário atual, é a forma como vai ser realizado o seguimento regular aos doentes diabéticos, e que medidas específicas foram tomadas pelas instituições de saúde no que diz respeito a este grupo de risco.
O “Documento de consenso de abordagem do doente diabético integrado no plano nacional de preparação e de resposta para a doença por COVID-19″ (2) dá conta das alterações durante este período:
- Adiamento de consultas, exames ou procedimentos considerados não urgentes, nomeadamente exames de rastreio de retinopatia diabética.
- Alteração da tipologia de consultas de diabetologia dos hospitais públicos e privados, centros de saúde e clínicas, para consultas à distância, via telefone ou correio electrónico, conforme a instituição o determine. Devem ser garantidas condições para que estas se concretizem com normalidade, nomeadamente efetivação da consulta sem a presença do doente, telefone com acesso ao exterior e sem temporizador. Os doentes devem ser avisados por quem a instituição determine da alteração da tipologia da consulta e os contactos telefónicos devem ser validados.
- Deve ser garantido o receituário aos doentes com consulta agendada, de forma a evitar falhas terapêuticas ou deslocações a outros centros para renovação de receituário.
- Situações detetadas na comunidade com eventual indicação para internamento, devem ser discutidos sempre que possível com os elos de ligação das diferentes especialidades (médicos e enfermeiros) antes de serem enviados ao hospital. Deve ser considerada também a hipótese de internamento eletivo nas Unidades de Hospitalização Domiciliária, com admissão do doente no domicílio.
- Profissionais de saúde diabéticos devem preferencialmente realizar consultas não presenciais, de modo a assegurar a sua proteção.
Os doentes diabéticos deverão manter o contacto com as suas unidades ou profissionais de referência (médico ou enfermeiro de família) de forma a conhecerem as alterações específicas no seu local de residência e quais as opções disponíveis em caso de necessidade.
Com várias unidades de saúde em atendimento exclusivo de situações de COVID-19, não se deverão dirigir a nenhuma destas unidades sem contacto prévio. O recurso ao serviço de urgência só deverá acontecer após contacto com a linha Saúde 24 ou, em caso de situações de maior gravidade, através do número europeu de socorro, 112.
Crie uma rede de apoio e esteja preparado
É recomendável que doentes e famílias de doentes diabéticos se preparem para a continuidade do isolamento social, antecipando possíveis necessidades e criando estratégias de gestão familiar em caso de doença. Deixamos-lhe alguns conselhos:
- Tenham disponíveis os contactos dos seus profissionais de saúde de referência (médico ou enfermeiro de família, por exemplo)
- Discuta com o seu médico a necessidade de ajustes de medicação ou dieta durante este período de confinamento. Coloque-lhe todas as dúvidas que tiver e perceba de que forma poderá obter medicação extra caso necessite de permanecer em casa durante um período prolongado
- Garanta que tem toda a sua medicação habitual, todo o material necessário para controlo da glicemia em quantidade suficiente e alguns medicamentos de SOS (como o paracetamol, por exemplo)
- Faça uma lista de alimentos e outros artigos de primeira necessidade e mantenha-a atualizada. Evitará deslocações desnecessárias ao supermercado. Tente que nada lhe falte durante, pelo menos, uma a duas semanas. Sempre que possível, delegue essas deslocações a outro membro menos vulnerável da família
- Se viver sozinho, organize com a sua família ou rede de apoio de forma a poder receber em casa todos os bens essenciais sem precisar de se deslocar. Caso esteja isolado ou não disponha de qualquer ajuda, contacte a sua autarquia e dê conhecimento dessa circunstância
- A maioria dos doentes infetados por COVID-19 recebe tratamento domiciliário. Planeie em família de que forma se poderão organizar no caso de um ou vários membros adoecerem.
- DGS. (2019). Programa Nacional para a Diabetes. Desafios e estratégias. Disponível em: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/relatorio-programa-nacional-para-a-diabetes-desafios-e-estrategias-2019-pdf.aspx
- Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Diabetes – COVID-19 Disponível em: https://www.spmi.pt/nedm-diabetes-covid-19/
- American Diabetes Association. Diabetes and Coronavirus. Disponível em: https://www.diabetes.org/coronavirus-covid-19
- International Diabetes Association. COVID-19 outbreak: guidance for people with diabetes. Disponível em: https://idf.org/our-network/regions-members/europe/europe-news/196-information-on-corona-virus-disease-2019-covid-19-outbreak-and-guidance-for-people-with-diabetes.html
- International Diabetes Association. Home-based exercise for people with diabetes. Disponível em: https://idf.org/aboutdiabetes/what-is-diabetes/covid-19-and-diabetes/home-based-exercise.html
- Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica (2020). COVID-19 e a diabetes na idade pediátrica. Acedido a 6 de Julho de 2020. Disponível em: https://www.spedp.pt/news/category/pediatria
- Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (2020). Diabetes: O que fazer quando o resultado é positivo para COVID-19? Disponível em: https://apdp.pt/coronavirus-e-diabetes/
- Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (2020). Esclarecimento público conjunto. Acedido a 6 de Julho de 2020. Disponível em: https://www.apifarma.pt/salaimprensa/comunicados/Paginas/Esclarecimento-Publico-Conjunto-Insulinas-nas-Farmacias.aspx