As plantas medicinais pertencentes ao género Equisetum são usadas frequentemente na medicina tradicional na forma de chás – como o chá de cavalinha – e outros produtos com propriedades terapêuticas. Algumas das propriedades que lhes são atribuídas envolvem o tratamento de infeções dos tratos urinário e respiratório, doenças cardiovasculares e doenças de pele (1).
Durante anos, vários estudos têm vindo a ser realizados no sentido de determinar quais são os compostos bioativos presentes nestas plantas (ácidos inorgânicos, sais, compostos fenólicos, flavenóides, alcaloides e compostos voláteis) com propriedades diuréticas, antiséticas, neuroprotetoras, antimicrobianas ou antioxidantes (2, 7).
Para além das propriedades descritas, os compostos fenólicos são ainda usados como conservantes naturais, devido às suas propriedades antimicrobianas (8).
Quais os potenciais benefícios do chá de cavalinha?
1. Osteoporose
Alguns estudos sugerem que o chá de cavalinha – ou qualquer produto contendo esta planta associada ao cálcio – tem a capacidade de aumentar a densidade mineral óssea em mulheres com osteoporose e após a menopausa (9).
2. Retenção de líquidos
Esta é a propriedade mais frequentemente atribuída ao chá de cavalinha. Um ensaio clínico em voluntários saudáveis concluiu que a toma de 900 mg/dia de cavalinha produzia os mesmos efeitos diuréticos de 25 mg/dia de hidroclorotiazida, sem que se tenha verificado qualquer efeito adverso na sua toma aguda (10).
Numa revisão de literatura de 2007 foram obtidos resultados semelhantes, embora algumas espécies tenha provocado maior excreção de sódio e potássio do que outras (11). Os mesmos resultados haviam sido verificados em modelos animais, anos antes (12).
3. Saúde renal e pedras nos rins
A etiologia da nefrolitíase (pedra nos rins) é multifatorial, podendo fatores como a dieta, o peso e algumas doenças como a diabetes e a hiperuricemia ter um papel preponderante no desenvolvimento dos cálculos. Um estudo realizado em modelos animais avaliou o efeito do extrato de várias plantas, incluindo o chá de cavalinha, na função renal.
O tratamento com a formulação demonstrou a prevenção da formação de depósitos de oxalato de cálcio (formas mais comuns de pedra nos rins) e microcalcificações nos rins. No entanto, embora os resultados possam parecer animadores, não se sabe qual ou quais os componentes da formulação herbal foi responsável por estes efeitos.
Outra limitação é o facto de o estudo ter sido realizado em ratos. Serão necessários ensaios clínicos que comprovem estes benefícios na saúde humana (16). Da mesma forma, um estudo recente aponta para potenciais benefícios do chá de cavalinha na prevenção de infeções do trato urinário (ITU) em modelos animais (17).
4. Propriedades anti-inflamatórias
O perfil de antioxidantes presentes no chá de cavalinha levou os investigadores a testar a sua capacidade para modular a inflamação em várias doenças.
De forma simples, os compostos antioxidantes são utilizados para neutralizar as espécies reativas de oxigénio (ROS) que são produtos finais do metabolismo com efeitos negativos nas células. Vários estudos in vitro foram realizados, com efeitos positivos (7,13,14,15). No entanto, carecem de ensaios clínicos que confirmem o seu papel em doenças do foro inflamatório como a arterite, a hiperuricemia (gota) e as doenças inflamatórias intestinais.
5. Cicatrização de feridas
O potencial anti-inflamatório e anti-microbiano, associado à riqueza em polifenóis da cavalinha tem vindo a ser cada vez mais explorado.
Um estudo recente referiu que o uso tópico da cavalinha a 3%, num período de 10 dias após cirurgia, parece promover a cicatrização e o alivio da dor em mulheres submetidas a episiotomia (incisão cirúrgica em mulheres durante o parto) (18).
Outro estudo recente avaliou a eficácia de um hidrogel contendo cavalinha a 2% em lesões cutâneas, com resultados semelhantes; no entanto, este estudo foi realizado em modelos animais (19).
6. Distúrbios de ansiedade
A ansiedade aguda generalizada é um desafio para os profissionais de saúde e embora a farmacoterapia convencional continue a ser a terapêutica de primeira linha, a utilização de extratos de plantas tem ganho cada vez mais destaque.
As intervenções fitoterapêuticas com benefícios na ansiedade são classificadas como ansiolíticas, tendo como principal meio de ação a sua ação sobre o sistema GABA.
Relativamente ao chá de cavalinha, apenas um estudo pré-clinico foi realizado até à altura, demonstrando que doses entre os 50 e os 100 mg/kg eram tão eficazes – mas não tão potentes – como o diazepam na indução do sono e na inibição da atividade locomotora em ratos. (20).
No entanto, sendo estes resultados obtidos num ensaio pré-clínico, ainda não se pode afirmar que a cavalinha possa ter um efeito fitoterapêutico que justifique a sua utilização em seres humanos.
Riscos e interações do chá de cavalinha
1. Gravidez e aleitamento
Ainda não há informação suficiente para confirmar a segurança do chá de cavalinha durante a gravidez ou as fases de aleitamento (21).
2. Alcoolismo
O chá de cavalinha pode piorar a carência em tiamina (vitamina B1) devido à presença da tiaminase, uma enzima que degrada esta vitamina.
Esta carência pode precipitar algumas doenças como beriberi e encefalopatia de Wernick, especialmente preocupantes em doentes alcoólicos, cuja carência é já bem conhecida e está associada à diminuição do consumo alimentar e inflamação do fundo gástrico (22, 23).
3. Alergias a cenouras
Algumas pessoas com alergia a cenouras podem fazer reação ao chá de cavalinha devido à presença um hapteno – proteína assumida como alergénio pelo sistema imunitário – presente nos dois produtos (24).
4. Dano Hepático
Com o uso crescente de suplementos herbais no mundo, tem-se assistido também a um aumento de casos de hepatotoxicidade. Embora os mecanismos de ação e potenciais efeitos nocivos da toma de chá de cavalinha ainda não sejam completamente conhecidos, alguns autores divergem relativamente à sua segurança (26,27) ou efeito nocivo (25,28) para a saúde hepática.
Existe um caso comprovado de hepatite aguda severa após a toma de extrato de cavalinha durante 1 semana. No entanto, é possível que a presença de doença hepática crónica secundária à hepatite B possa ter predisposto o paciente à possível hepatoxicidade da cavalinha (25).
5. Diabetes
O efeito hipoglicemiante da cavalinha foi demonstrado tanto em modelos animais como em diabéticos tipo 2. Assume-se que o efeito cumulativo da toma de chá de cavalinha com a farmacoterapia possa resultar em hipoglicemias de grau II (glicose plasmática > 70 mg/dl e ≥ 54 mg/dL) ou III (glicose plasmática > 54 mg/dL), pelo que se recomenda cautela e controlo glicémico apertado se decidir fazer uso deste suplemento (29).
6. Baixos níveis de potássio e sódio
Um estudo indica que, pelo seu potencial diurético, o chá de cavalinha possa levar à perda excessiva de sódio e potássio, potenciando as carências nestes micronutrientes (11).
Diminuições marcadas no potássio plasmático podem resultar em fraqueza muscular, cãibras paralisia e alterações no ritmo cardíaco.
No caso do sódio, os sintomas podem ser mais leves – confusão, letargia ou alterações da personalidade – ou mais graves – hiper-excitabilidade neuromuscular, convulsões, coma, edema cerebral e morte – dependendo do grau de carência.
Consulte o seu médico ou nutricionista antes de iniciar a suplementação com cavalinha para avaliar a respetiva segurança.
Dosagem ideal de chá de cavalinha
Como quase todos os suplementos à base de plantas, a cavalinha não está aprovada pela Food and Drug Administration (FDA). Pelo seu potencial diurético, há risco de perda excessiva de nutrientes essenciais como o potássio e o sódio. A presença de tiaminase também pode complicar a carência de vitamina B1, especialmente em doentes alcoólicos.
A quantidade apropriada de cavalinha depende de vários fatores, incluindo a idade, estado de saúde e presença de patologias especificas que possam vir a piorar com a toma deste suplemento.
Uma vez que não há muitos estudos sobre a segurança da cavalinha em humanos, também não há doses standard definidas, salvo nos casos de uso tópico (18, 19).
Certifique-se que segue as instruções de utilização do produto, aconselhando-se com o seu farmacêutico, médico ou nutricionista antes de iniciar a toma de qualquer suplemento.
Em conclusão
Da análise extensa da literatura disponível, ainda é impossível apontar benefícios reais à toma de chá de cavalinha, porém a sua toma parece estar associada à melhoria da densidade mineral óssea quando associada à toma de cálcio, à eliminação de líquidos em excesso e à cicatrização devido ao seu potencial antioxidante e anti-inflamatório.
A toma de chá de cavalinha não é aconselhada em grávidas e lactantes, bem como a pessoas com problemas do metabolismo da vitamina B1 ou doentes alcoólicos, sendo a sua segurança em diabéticos é ainda desconhecida devido ao potencial efeito cumulativo com os fármacos.
Ainda não é possível estabelecer se o chá de cavalinha é ou não nocivo para o fígado devido ao desenho dos estudos analisados.