Castrar a cadela é algo que cada vez mais faz parte de uma detenção responsável por parte do dono. No entanto, apesar de ser uma técnica já muito praticada, convém conhecer alguns conceitos para tomar uma decisão bem informada.
Ciclo reprodutivo da cadela
Os cães selvagens são classificados como sendo monoéstricos, o que significa que apenas têm um ciclo reprodutivo (cio) por ano. No entanto, aquando a domesticação dos cães, o ciclo reprodutivo das cadelas evolui para três ciclos em cada dois anos aproximadamente, dependendo do tamanho e da raça.
O cio corresponde à fase ativa reprodutiva das cadelas em que elas estão recetivas ao macho e em que a fecundação pode ocorrer, e dura entre 3 a 21 dias.
Em que consiste castrar a cadela?
A castração de uma cadela denomina-se ovariohisterectomia, que consiste na extração cirúrgica do útero e dos dois ovários. O procedimento usualmente envolve anestesia geral e é feito através de uma incisão no abdómen e posterior remoção do útero e ovários.
Através desta intervenção, a cadela reduz as hormonas sexuais em circulação, como é o caso dos estrogénios.
É diferente da laqueação das trompas, uma vez que esta técnica não impede que a cadela entre no cio, somente impedirá a passagem do óvulo evitando a fecundação caso haja acasalamento. A produção das hormonas mantêm-se, pelo que não se obtêm os benefícios médicos da castração.
Castrar a cadela: os prós desta intervenção
1. Controlo reprodutivo
A crescente população de animais errantes é um problema considerável a ter em conta.
Através da esterilização das cadelas, estas deixam de ciclar e consequentemente não podem reproduzir-se. Este é um fator muito importante a ter em conta pois muitos donos não estão preparados para se deparar com mais uns quantos cachorros de uma ninhada indesejada, e é um ciclo que se perpetua.
Partindo de apenas uma cadela e um cão não castrados, se eles se reproduzirem anualmente e se todos os cachorros da sua ninhada se reproduzirem e assim subsequentemente , ao final de seis anos estima-se que se pode chegar aos 50 000 cachorros.
2. Prevenção de determinadas doenças
Outra das grandes vantagens de castrar a cadela é a prevenção de determinadas doenças, principalmente associadas ao trato reprodutivo como o útero, os ovários e a glândula mamária.
- Neoplasia mamária
A cadela é a espécie doméstica mais afetada por neoplasia mamária, com uma taxa que é cerca de três vezes superior à encontrada na mulher. Metade dos tumores das cadelas são de mama e aproximadamente 40% são malignos. A sua causa é desconhecida, mas sabe-se que as hormonas têm um papel importante no seu desenvolvimento.
Há variadas terapias, incluindo cirurgia e tratamento anti-cancerígeno, mas a sua recuperação é muito variável e o risco da doença é grandemente reduzido com a ovariohisterectomia.
- Piómetra
Trata-se de uma infeção bacteriana do útero devido a alterações hormonais em cadelas não castradas.
Acontece principalmente em cadelas acima dos cinco anos de idade cerca de quatro a seis semanas depois do cio. Pode ocorrer devido à administração da pílula.
Os sinais clínicos podem evoluir rapidamente e o mais aconselhado é remover o útero e os ovários.
- Dificuldades no parto
Um parto difícil, denominado de distócia, deve também fazer parte dos motivos pelos quais se quer castrar a cadela pois no caso desta ter uma ninhada devido a um descuido, além daqueles cachorros não terem sido planeados, podem existir no parto dificuldades que colocam em risco tanto os cachorros como a própria cadela.
Castrar a cadela: contras desta intervenção
1. Excesso de peso
Castrar a cadela pode induzir uma ligeira mudança no metabolismo, fazendo com que as suas necessidades energéticas sejam menores do que dantes. Todavia, se forem tidos em conta os cuidados necessários como fornecer-lhes uma dieta apropriada e mantê-las ativas, não haverá motivos para que estas se tornem gordas e preguiçosas.
2. Risco associado à cirurgia
A castração é sempre uma intervenção cirúrgica com anestesia e como tal tem sempre um risco associado. No entanto, o médico veterinário avalia esse risco previamente à cirurgia e realiza todos os procedimentos necessários para que o risco seja o menor possível.
3. Decidir quando castrar
O momento mais indicado para a realização da castração tem sido foco de algumas dúvidas bem como uma das primeiras perguntas dos proprietários.
Há quem defenda que deva ser antes do primeiro cio pois desta forma o risco de desenvolver neoplasia mamária diminui para cerca de 0,5 % do risco de cadelas não castradas. Ao castrar após o primeiro cio, o risco passa para cerca de 8% do de cadelas não castradas. Considera-se que quando são castradas apenas após o segundo cio, aí o risco de desenvolver neoplasia mamária é o mesmo do de cadelas não castradas.
No entanto, há quem defenda que se as cadelas forem castradas antes do primeiro cio, é preciso ter em conta um aumento do risco destas desenvolverem neoplasias dos ossos, displasia da anca (por atraso na ossificação), assim como o risco de incontinência urinária pois as hormonas são necessárias para o correto desenvolvimento do esfíncter da bexiga.
Cuidados a ter com a castração da cadela
O médico veterinário que irá castrar a cadela irá certamente indicar todos os cuidados a ter antes e depois da cirurgia.
Nos dias após cirurgia deve seguir a medicação que lhe é prescrita, providenciar à sua cadela um espaço confortável, limpo e resguardado, prevenir que ela corra e salte muito nos 10 dias seguintes e inspecionar a sutura, certificando-se que ela não a lambe nem que está a infetar, tendo que possivelmente colocar um colar isabelino.
Em suma
A castração de cadelas é um procedimento comum no qual, no geral, os benefícios superam as suas desvantagens. No entanto, este deve sempre ser discutido com o médico veterinário sobre se se adequa ou não à sua cadela em particular.