Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
10 Set, 2020 - 16:12

Castanhas: perfil nutricional, benefícios e como consumir

Nutricionista Hugo Canelas

A castanha é um fruto típico de outono com um composto bioativo que lhe confere todos os benefícios associados.

Saco com castanhas em cima de mesa de madeira

As castanhas correspondem ao aquénio, ou fruto, do castanheiro, uma árvore nativa da península dos Balcãs. O principal componente, responsável pelos alegados benefícios da castanha, é a escina, um composto bioativo com ação antioxidante.

Castanhas: Informação nutricional

Castanhas assadas em papelote

Por cada 100 g de miolo de castanha cru, o correspondente a 4 a 6 unidades médias, podemos obter 1:

Valor Energético194 Kcal
Proteína3,1 g
Hidratos de Carbono39,8 g
dos quais açúcar9,8 g
Lípidos1,1 g
Água48,5%
Fibra6,1 g
Vitamina C51 mg
Potássio500 mg
receitas de castanhas cozidas
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Benefícios da castanha

Castanhas em tábua de madeira
1

Ricas em fibra

Um dos principais trunfos da castanha é, sem dúvida alguma, o seu teor em fibras. A fibra alimentar apresenta vários benefícios para a saúde, funcionando como substrato para as bactérias intestinais e sendo fermentada em ácidos gordos de cadeia curta (AGCC).

Estes compostos apresentam vários benefícios para a saúde, incluindo a promoção da saúde intestinal e redução do risco de diabetes e obesidade, pelos mais variados mecanismos 2, 3, 4.

2

Sem glúten

A doença celíaca é a forma mais severa de intolerância ao glúten, a porção proteica encontrada em cereais como o trigo, o centeio e a cevada. É uma doença debilitante que pode causar deterioração do estado nutricional, com impacto significativo na saúde e qualidade de vida dos doentes.

Por não conter glúten – uma vez que não é um cereal – a castanha pode ser consumida por doentes celíacos não só como forma de reestabelecer o estado nutricional e diversificar a alimentação diária (100 g de arroz cozinhado correspondem sensivelmente a 5 castanhas cozidas ou assadas), mas também a sua farinha pode substituir a de trigo e ser utilizada na confeção de pão, bolos e pastelaria em geral.

3

Ricas em vitamina C

A vitamina C é uma vitamina hidrossolúvel essencial – que tem que ser obrigatoriamente ingerida – com um potencial antioxidante interessante e efeitos positivos no sistema imunitário e saúde da pele.

Esta vitamina é ainda importante para a produção de colagénio, tecido conectivo, ossos, dentes e vasos sanguíneos.

Para a proteção antioxidante, estão recomendadas ingestões de 30 mg/dia para homens e 75 mg/dia para mulheres.

No caso da castanha, em que 100 g apresentam cerca de 51 mg, a ingestão de 4 a 6 unidades correspondem a 170% e 68% das doses diárias recomendadas para homens e mulheres respetivamente 5.

4

São ricas em escina, um composto bioativo

O interesse e principal foco dos investigadores na castanha reside na presença de um composto bioativo designado escina, e praticamente todos os estudos existentes acerca deste alimento baseiam-se no extrato rico neste composto.

A insuficiência venosa crónica é uma doença caracterizada pela insuficiente perfusão sanguínea para os membros inferiores, situação que origina sintomas como inchaço, fraqueza e dores e, em situações mais graves, ulceração e aparecimento de varizes 6.

A escina presente na castanha tem vindo a ser estudada para o tratamento desta doença e dos seus sintomas 7. No entanto, embora os resultados dos estudos sejam promissores a curto prazo, resta determinar se os efeitos a longo prazo serão os mesmos.

5

Escina e potencial anti-inflamatório

Para além da redução dos sintomas associados à insuficiência venosa crónica, que estão diretamente ligados ao estado de inflamação7, alguns estudos sugerem que, quando aplicado topicamente, o extrato de castanha contendo escina pode reduzir a inflamação e edema causados pelo trauma, cirurgia e lesões desportivas 8, 9 .

No entanto, em ambos trabalhos, o gel tópico continha outros compostos com ação anti-inflamatória, tornando difícil determinar se o efeito da escina sozinha seria o mesmo.

Como conservar as castanhas?

Cesto com castanhas em cima de mesa

As castanhas são um fruto semi-perecível, que necessita de ser bem conservado e manipulado para não se colocar em risco a sua qualidade e segurança alimentar 10. Assim, a castanha deve ser conservada em local seco e fresco.

Como saber se as castanhas estão boas para consumo?

Para ter a certeza de que consome castanhas próprias para consumo, pode encher um recipiente com água fria e colocar as castanhas debaixo de água. Caso alguma flutue, considere descartá-las pela possibilidade de terem ficado secas ou de terem mofo.

Versatilidade da castanha

Duas taças de sopa de castanhas

A castanha é um alimento muito versátil pela sua composição em hidratos de carbono, maioritariamente amido, que pode funcionar como um espessante em várias receitas.

É ainda muito utilizada para vários tipos de confeções, nomeadamente de sopas e purés, pela textura cremosa final.

É de realçar a capacidade de se comportar como um alimento farináceo, sendo que a farinha de castanha pode complementar as farinhas de cereais.

receitas com castanhas
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Cuidados no consumo das castanhas

Homem com punhado de castanhas nas mãos

As castanhas não tratadas contêm esculina, uma substância que é considerada imprópria para consumo pela Food and Drug Administration (FDA). Sintomas de envenenamento por esculina incluem depressão, espasmos musculares, paralisia, coma e morte 11.

Assim, é fundamental a compra de castanhas em superfícies comerciais que já tenham garantido o seu tratamento prévio.

Quanto ao fruto em si, quando cru, é rico em taninos que podem causar algum desconforto intestinal. Neste sentido, as castanhas devem ser armazenadas 7 a 10 dias após a colheita, de forma a reduzir os níveis de taninos e permitir que o amido se transforme em hidratos de carbono mais facilmente assimiláveis.

Deve ter o cuidado de retirar a pele acastanhada que se encontra logo a seguir à casca, já que é aí que se encontra um anti nutriente que inibe a ação das enzimas responsáveis pela digestão do amido que, em grandes quantidades, pode causar flatulência.

Cuidados no consumo de extrato de castanha

Quanto ao extrato de castanha, embora seja geralmente seguro, algumas questões devem ser tidas em consideração antes de iniciar a toma ou uso deste suplemento.

O extrato de castanha pode interagir com certos medicamentos como anti-coagulantes, insulina e anti-diabéticos orais, anti-inflamatórios não esteroides e lítio, potenciando ou inibindo a sua ação terapêutica 11.

Por fim, pessoas com doença renal ou hepática podem ter os seus sintomas exacerbados após o consumo de extrato de castanha 11 .

Fontes

  1. INSA. (n.d.). Tabela da composição de alimentos. Disponível em: http://www2.insa.pt/sites/INSA/Portugues/AreasCientificas/AlimentNutricao/AplicacoesOnline/TabelaAlimentos/Paginas/TabelaAlimentos.aspx
  2. A. Parnell, J., & A. Reimer, R. (2012). Prebiotic fiber modulation of the gut microbiota improves risk factors for obesity and the metabolic syndrome. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22555633
  3. Guarner, F., & Malagelada, J.-R. (2003). Gut flora in health and disease. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12583961
  4. Andoh, A., et.al. (2003). Role of Dietary Fiber and Short-Chain Fatty Acids in the Colon. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12570825
  5. NIH. (1998). Nutrient Recommendations: dietary reference intakes (DRI). Disponível em: https://ods.od.nih.gov/Health_Information/Dietary_Reference_Intakes.aspx
  6. Santler B, Goerge T. (2017). Chronic venous insufficiency – a review of pathophysiology, diagnosis, and treatment. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28485865/
  7. Pittler MH, Ernst E. (2012). Horse chestnut seed extract for chronic venous insufficiency. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23152216/
  8. Sirtori CR. (2001). Aescin: pharmacology, pharmacokinetics and therapeutic profile. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11529685/
  9. D’Andrea F, D’Andrea L, Manzi E. (2018). Venoplant Effect in the Management of the Post-operative Oedema in Plastic Surgery: Results of a Randomized and Controlled Clinical Trial. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29508020/
  10. ValorCast. Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (2019). Disponível em: https://www.utad.pt/gap/valorcast/
  11. Methlie CB, Schjøtt J. Hestekastanje. (2009). [Horse chestnut–remedy for chronic venous insufficiency]. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19247403/
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