Júlia de Sousa
Júlia de Sousa
24 Nov, 2015 - 15:47

Calorias por dia: faz sentido contá-las?

Júlia de Sousa

E se lhe dissermos que nem todas as calorias são iguais ou têm o mesmo “peso”? Será que está a contar corretamente as calorias que ingere por dia? 
 

Calorias por dia: faz sentido contá-las?

São muitas as pessoas que contabilizam todas as calorias por dia. Se é o seu caso, então saiba que pode estar a fazer tudo errado. É que se acha que uma caloria é apenas uma caloria, independentemente da sua origem (seja um legume ou um doce), é melhor repensar o que sabe (ou julga saber) sobre calorias. 

Afinal, as calorias são ou não todas iguais?

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Contar e registar as calorias ingeridas é uma das práticas mais comuns e frequentes entre as pessoas que pretendem perder peso. Mas não é a única e talvez não seja a mais correta. É que, segundo alguns especialistas, pode estar a contar as calorias de forma errada. 

Responda a esta pergunta: O que engorda mais? 100 Calorias de bolo de chocolate ou 100 calorias de espinafres? Em termos energéticos, as calorias de facto são as mesmas. Mas a nível fisiológico, a conversa já não é a mesma. Muitos dirão que uma caloria é apenas uma caloria, mas de acordo com estudos recentes, mais do que contar calorias, deve ter em conta o valor nutricional dos alimentos. 

E é o que defendem, por exemplo, os americanos Jonathan Bailor, autor de “The Calorie Myth” (em português “O mito da caloria”) e Robert Lustig, endocrinologista pediátrico da Universidade da Califórnia e autor do livro “Fat Chance: The hidden truth about sugar” (traduzido como “Fat chance: a verdade escondida sobre o açúcar”). 



O mito da caloria

Para o primeiro – Jonathan Bailor – a ideia de muitas das dietas, que contam todas as calorias em detalhe e em que o importa é valor energético da comida, está errada. Bailor defende que as calorias são diferentes e que, na realidade, contar calorias para perder peso acaba por atrapalhar mais do que ajuda.

Agora na casa dos 30, Bailor revela que, quando era mais jovem e motivado pela vontade de ganhar músculos chegou mesmo a ser personal trainer, experiência que lhe permitiu concluir que comer menos e praticar mais exercício físico nem sempre é o método mais eficaz. 

Foi para provar esta premissa que desenvolveu, durante cerca de 15 anos, um estudo que envolveu a análise de 1300 pesquisas sobre perda de peso e exercício. A conclusão a que chegou é surpreendente. Diz o investigador que a contar calorias é eficaz para perder peso a curto prazo, mas a longo prazo – e na grande maioria das vezes – esse método falha. 

Para Bailor, mais importante do que a quantidade é a qualidade das calorias ingeridas. Foi neste sentido que criou um sistema de medição próprio. Uma “régua” (abaixo) que distingue as calorias saudáveis das não saudáveis, com base nos nutrientes que contêm e na forma como são metabolizadas.

No topo desta tabela surgem os vegetais com poucos hidratos de carbono (como brócolos e espinafres, por exemplo) e as carnes magras, que podem ser ingeridos à vontade. Seguem-se depois os cereais, os frutos secos, as frutas, legumes ou lacticínios. Por fim, na categoria das calorias não saudáveis estão os doces e os hidratos de carbono refinados, que devem ser evitados. 

Explica Bailor, que as calorias ditas não saudáveis têm uma densidade nutricional mais baixa e, além de serem menos nutritivos, são absorvidos de forma rápida pelo organismo, sendo parte deles convertidos em gordura. 

Bailor chama ainda a atenção para o facto do cálculo do número de calorias ingeridas e o gasto calórico não ser uma ciência exata, já que a absorção do alimento pelo organismo varia de pessoa para pessoa. 

Teoria semelhante tem também Robert Lustig. O endocrinologista pediátrico da Universidade da Califórnia, realizou um estudo que 43 crianças com excesso de peso e obesidade e trocou gomas, rebuçados, bolos e refrigerantes por peru, pizza e cachorros quentes, mantendo sempre a ingestão do mesmo número de calorias. As crianças eram pesadas e analisadas diariamente e caso perdessem peso, a quantidade de comida era aumentada. 

As conclusões foram, no mínimo surpreendentes. Ao fim de apenas nove dias, as crianças envolvidas no estudo revelaram melhorias significativas no seu estado de saúde, nomeadamente, níveis de insulina mais baixos, menos gordura no sangue e diminuição da pressão arterial. 

No fundo, Lustig (tal como Bailor) mostra que origem – e qualidade – dos nutrientes é mais importante e tem mais influência do que o seu teor calórico. 

Contar ou não contar as calorias diárias, eis a questão? 

Sim, as calorias são importantes e pode (e deve) ter atenção ao número de calorias que ingere por dia. No enanto, mais do que se focar apenas no número de calorias diárias, deve ter em consideração o tipo de alimentos que ingere e os seus valores nutricionais.

Ou seja, o seu foco deve ser a qualidade dos alimentos e não tanto a quantidade de calorias existentes em cada um. Porque na realidade é isso que interessa para uma boa alimentação (entenda-se uma alimentação saudável). 

Por isso, da próxima vez que analisar os seus produtos alimentares, preste atenção não só nas calorias, mas essencialmente ao valor nutricional de cada alimento.

Comer um alimento com 100 calorias, mas cuja composição nutricial é essencialmente açúcares simples e gorduras saturadas não é propriamente o mesmo que escolher um alimento com o mesmo valor energético, mas com uma composição nutricional de proteína, fribra e hidratos de carbono complexos, por exemplo.

Veja aqui como ler corretamente a rotulagem dos alimentos.

Seja prático 

De pouco lhe adianta fazer contas atrás de contas para saber quantas calorias já ingeriu e quantas ainda pode ingerir ao longo do dia. Além de não ser nada prático, não vai fazer milagres pelo seu peso. O ideal é procurar o seu médico ou nutricionista, que pode analisar o seu caso em específico e definir um plano alimentar adequado ao seu caso. 

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