O bruxismo é um problema sério e incomodativo que pode comportar diversas consequências para a saúde e bem-estar de quem sofre desta alteração comportamental.
Esta perturbação caracteriza-se pela contratura inconsciente e involuntária da musculatura mastigatória, podendo resultar num movimento de apertar ou ranger os dentes. Normalmente, o bruxismo manifesta-se durante o sono ou em períodos de vigília, apresentando uma prevalência de 8%, entre adultos, e de 20%, entre crianças. Fique a saber mais.
Bruxismo: causas, consequências e dIAGNÓSTICO
O bruxismo é uma parafunção que corresponde a uma atividade da musculatura mastigatória mais intensa e frequente do que é normal. Essa contratura muscular excessiva pode acontecer, mesmo sem os dentes entrarem em contacto entre si.
Este é um comportamento complexo, com uma prevalência significativa, principalmente entre os doentes com Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e com perturbações do sono. No caso em concreto do SAOS, o bruxismo surge como um mecanismo de defesa fisiológico que pretende contrariar a obstrução da via área superior (1).
Principais causas
A oclusão dentária é um fator de risco, mas não constitui a principal causa de bruxismo. Na maior parte das situações, este distúrbio é secundário, ou seja, surge associado a outras patologias ou problemas.
Trata-se de uma doença com múltiplas causas e fatores relacionados, nomeadamente alterações morfológicas (10%), psicoemocionais (20%) e patofisiológicas (70%).
Entre as causas patofisiológicas (as mais recorrentes), destacam-se perturbações do sono, SAOS, fatores neuroquímicos, medicação e drogas, fumo do tabaco, consumo de álcool, traumas e doenças do foro do Sistema Nervoso Central (SNC) e genética. (1)
Consequências
As consequências mais frequentes do bruxismo são os danos nas estruturas dentárias e de suporte, devido à sobrecarga e fadiga mecânica, o que se pode traduzir em: desgaste dentário acentuado, fratura de restaurações, fraturas dentárias, fracasso de próteses, trauma oclusal com mobilidade dentária. Além disso, esta perturbação provoca uma fadiga muscular generalizada (1).
Diagnóstico
Por norma, esta é uma doença assintomática, o que significa que o sinal de alerta parte, muitas vezes, de terceiros que se apercebem do som do ranger dos dentes, durante o sono do doente. Porém, também há casos em que é o próprio paciente a aperceber-se que aperta a musculatura mastigatória. Existem, ainda, situações em que é o dentista a detetar o problema, através da verificação de certos sinais clínicos, nomeadamente danos na dentição.
Todavia, para haver um diagnóstico exato e fidedigno, é necessário realizar um inquérito ao doente; ouvir o relato de terceiros e proceder à observação clínica de sinais e sintomas.
Além disso, há um exame de referência que deve ser feito – a polissonografia -, um exame específico para a exploração das patologias do sono. Se as suspeitas forem confirmadas, é necessário proceder a uma intervenção preventiva e/ou interventiva (1).
Tratamento do bruxismo
Para já, o bruxismo não tem tratamento, uma vez que pode ter múltiplas causas, não sendo possível eliminar todas elas. Além disso, esta perturbação carateriza-se por períodos de maior e de menor intensidade.
Assim, nestes casos, a intervenção passa pela consciencialização; pela exploração da existência de outras doenças associadas; e por um eventual estabelecimento de relação com patologias do sono ou com outras comorbilidades.
Num primeiro momento, a intervenção deve ser assumida pelo médico dentista, através do recurso a técnicas pouco-invasivas e reversíveis, como a goteira oclusal e a terapia comportamental. Porém, a abordagem deve ser multi-disciplinar e contar com o contributo de outras especialidades, como a fisioterapia e a psicoterapia; ou a pneumologia, neurologia e otorrinolaringologia, no caso de se diagnosticar também Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono.
Já para restabelecer e recuperar os dentes ou a estabilidade ortopédica, danificados devido a esta perturbação, é importante recorrer a técnicas irreversíveis e invasivas, como a ortodontia e a reabilitação protética ou restauradora (1).
As goteiras oclusais
Já falámos das goteiras oclusais, como meio de atenuar as consequências deste distúrbio. Mas, afinal, de que se tratam?
As goteira oclusais são dispositivos médicos recomendados quer a pacientes com bruxismo, quer a doentes com disfunções temporomandibulares. Tratam-se de placas de acrílico rígidas, que cobrem totalmente uma das arcadas dentárias (maxilar ou mandibular), e que são interpostas entre ambas as arcadas.
Na prática, elas são capazes de alterar a relação intermaxilar, aumentando a dimensão vertical de oclusão, interferindo positivamente na percepção muscular e ajudando a diminuir a sobrecarga nas estruturas da articulação temporomandibular (ATM). Os seus mecanismos de ação são múltiplos e a sua eficácia varia de paciente para paciente.
Na situação específica do bruxismo, as goteiras oclusais auxiliam, sobretudo, na proteção dentária, evitando o seu desgaste. Além disso, também ajudam a diminuir a frequência e intensidade da atividade muscular, reduzindo a sobrecarga e a fadiga muscular inerentes a esta patologia.
Apesar disso, as goteiras oclusais não devem ser o único recurso na abordagem a situações de bruxismo, devendo ser articuladas com outras técnicas, de modo a minorar ao máximo as diversas consequências desta perturbação (1).
Caraterísticas das goteiras
Embora não sejam sempre iguais, há caraterísticas que todas as goteiras devem ter, nomeadamente:
- Serem rígidas e feitas de resina acrílica
- Cobrirem todos os dentes da arcada e toda a face oclusal
- Serem planas no setor posterior
- Terem uma guia anterior para os movimentos excursivos
- Possuírem contactos oclusais interdentários, distribuídos bilateralmente, e mais intensos no setor posterior e menos intensos no anterior (1)
Se acha que sofre deste problema, não adie mais e fale sobre ele ao seu médico dentista. Apesar de não ter tratamento ou cura, as sequelas do bruxismo podem ser minoradas o que pode melhorar e muito a sua saúde dentária e o seu bem-estar geral.
Além disso, como ficou claro, uma abordagem multi-disciplinar pode ajudar a controlar este problema e, principalmente, as suas consequências.
- Sociedade Portuguesa de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial. Perguntas frequentes. Disponível em: https://www.spdof.pt/faq/