Farmacêutica Rita Teixeira
Farmacêutica Rita Teixeira
25 Mar, 2020 - 06:30

A ausência de sintomas da COVID-19 é uma preocupação?

Farmacêutica Rita Teixeira

Muitas pessoas podem contrair o vírus SARS-CoV-2 sem manifestarem sintomas e este é dos maiores motivos de preocupação.

Ausência de sintomas da COVID-19: família em casa

Desde que este tema tem ocupado a atualidade, que todos se sentem mais sensibilizados e atentos para os sintomas que a COVID-19 pode provocar. No entanto, muitas pessoas podem ter o vírus SARS-CoV-2, e terem ausência de sintomas da COVID-19.

Ao contrário do que muitos pensam, a ausência de sintomas merece toda a atenção. Vamos descobrir porquê.

Ausência de sintomas DA covid-19: o que significa?

Quarentena: evitar a propagação do vírus

Tal como tem sido estudado, esta doença respiratória, a COVID-19, afeta diferentes tipos de pessoas de diferentes formas. Enquanto uma parte dos doentes infetados pelo coronavírus SARS-CoV-2 desenvolve diversos sintomas, a outra parte dos infetados não mostram quaisquer sintomas ou apenas sintomas ligeiros.

Os pacientes sintomáticos, podem apresentar um ou vários dos seguintes sintomas:

  • dificuldade respiratória (como por exemplo falta de ar)
  • febre (temperatura corporal a cima de 37,5ºC)
  • tosse
  • dores musculares, dores de garganta, dores de cabeça
  • corrimento nasal
  • fraqueza generalizada

Estes sintomas podem demorar cerca de 5 a 14 dias entre o momento do contágio e os primeiros sinais de infeção. É precisamente neste tempo de espera que está a maior dificuldade no controlo desta pandemia (1).

O doente que, durante este período variável de tempo, não tomar precauções e medidas preventivas irá, inconscientemente, infetar dezenas (ou mesmo centenas) de pessoas.

Ao contrário destes pacientes, existem muitos que contraíram o vírus, mas não apresentam nenhum dos sintomas anteriormente descritos, ou apresentam apenas sintomatologia muito ligeira, que se torna impercetível. Estes pacientes, se não forem testados para a COVID-19 nunca saberão que estão infetados, o que leva a uma aceleração da propagação desta doença (2).

Mulher com gripe em casa
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Quais as consequências de um paciente sem sintomas?

Ausência de sintomas da COVID-19: ilustração da propagação do coronavírus

Todas estas pessoas que não apresentam sintomas, mas contraíram o vírus em algum momento, estarão (sem saber) a espalhar o vírus de forma exponencial, criando inúmeras cadeias de transmissão.

A falta de controlo nestas pessoas, transformou este vírus numa pandemia obrigando diversos países a decretarem estados de emergência, com o fim de tentarem controlar a sua evolução.

O aconselhado a um paciente com sintomas ligeiros, moderados ou graves é o isolamento social, evitando assim a propagação do vírus. O objetivo deste isolamento é a diminuição ou eliminação definitiva de qualquer cadeia de transmissão.

Um doente no período de incubação do vírus pode infetar 2 ou 3 pessoas.

Um paciente que não saiba que está infetado e sem prevenção, acaba por infetar e criar inúmeras cadeias ativas de transmissão.

Segundo este estudo, as infeções não documentadas foram a fonte de 79% de casos documentados. Ou seja, grande maioria dos doentes infetados pelo SARS-CoV-2 foram infetados por pessoas que não sabiam estar infetadas (2).

Como é que estes doentes podem contaminar outras pessoas?

ausência de sintomas da COVID-19: mulher a tossir

A propagação e evolução deste vírus ainda está a ser estudada, no entanto diversos estudos sugerem que tanto os pacientes com sintomas leves como aqueles com ausência destes, podem transmitir o vírus.

A transmissão e propagação do SARS-CoV-2 é semelhante à do vírus da gripe, mas, pensa-se, mais intensa, uma vez que uma pessoa infetada pode transmitir o agente infecioso para 2 ou 3 pessoas (talvez mais) (3).

  • Via de contacto direta: Através de gotículas que uma pessoa infetada transmite pela boca ou nariz quando fala, tosse ou espirra (e não utiliza as regras de etiqueta respiratória), podendo estas entrar diretamente para a boca ou nariz de uma pessoa que está muito próxima.
  • Via de contacto indireta: através das mãos, que tocam nas superfícies contaminadas com as gotículas expelidas pelas pessoas infetadas e que depois são levadas à cara, à boca ou ao nariz inadvertidamente, sem termos feito a higiene das mãos.

A excreção do vírus está em parte relacionada com a sintomatologia da doença. Portanto, quanto mais sintomas, maior a carga viral e maior a quantidade de vírus libertada. Assim, um paciente que não espirre ou tussa, tem menos vias de transmissão do que um doente com sintomas. No entanto, apesar de em menor escala, pode na mesma transmitir o vírus (4).

Mulher a colocar máscara de proteção reutilizável
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COMO É QUE ESTES DOENTES PODEM prevenir a contaminação?

Ausência de sintomas da COVID-19: o que significa

A opção mais óbvia seria conseguir-se testar todos os indivíduos. Inicialmente, todos aqueles que tiveram contacto com alguém infetado e também os que viajaram para zonas endémicas, descobrindo assim todos os pacientes com o vírus, sejam eles sintomáticos ou assintomáticos.

No entanto, esta prática seria insustentável para o Serviço Nacional de Saúde, que ficaria ainda mais sobrecarregado. Esta sobrecarga acabaria por prejudicar os doentes que precisam de ajuda imediata e não ajudaria em nada os assintomáticos, uma vez que ainda não há tratamento nem vacina que impeça o desenvolvimento da doença.

Assim, a opção mais viável para parar (ou minimizar) a propagação em massa é através da prevenção e do isolamento social.

Existem algumas medidas que deve tomar diariamente, nesta fase:

  • sair de casa o menos possível
  • evitar tocar na cara com as mãos
  • lavar as mãos com água e sabão ou com álcool em gel, regularmente
  • cobrir o nariz e a boca quando espirrar ou tossir, sendo que sempre que o fizer para um lenço descartável, deve deitá-lo ao lixo
  • evitar aglomerados de pessoas
  • manter uma distância de 1 metro com outras pessoas, seja na rua, supermercados, local de trabalho, entre outros
  • manter uma boa ventilação em casa
  • deixar de fumar
  • não compartilhar objetos pessoais (5)

O mais importante de tudo é que se mantenha bem informado e que esteja atento aos sinais do seu corpo, protegendo-se a si e aos outros para assim se conseguir conter o avanço do vírus pelo mundo.

Fontes

  1. WHO. Coronavirus. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/coronavirus#tab=tab_1
  2. Ruiyun, L. et al. Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARS-CoV2). Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/early/2020/03/13/science.abb3221
  3. Wenjing, G., Liming, L. (2020). “Advances on presymptomatic or asymptomatic carrier transmission of COVID-19”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32141279
  4. Rothe, C. et al. (2020). Transmission of 2019-nCoV Infection from an Asymptomatic Contact in Germany. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32003551
  5. Ministério da Saúde. O que é coronavírus? Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#transmissao~
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