A asma é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas. A sua gestão passa, essencialmente, pela otimização farmacológica e, recentemente, por intervenções e mudanças no estilo de vida, como a otimização nutricional e a prática de atividade física, existindo, assim, uma promissora relação entre asma e alimentação (1).
Asma e alimentação: padrões alimentares
A alimentação é um fator relevante no desenvolvimento e progressão de muitas doenças crónicas, como a asma (1).
Através da interpretação e análise de estudos científicos, verifica-se que o padrão alimentar ocidental caracterizado pelo excessivo consumo de alimentos processados, gordura saturada, ácidos gordos, Ómega-6 e açúcares está associado a um estado inflamatório e a maior propensão à asma (2).
Em oposição, o padrão alimentar mediterrâneo, habitualmente caracterizado pelo consumo de frutas, vegetais, fibra e ácidos gordos Ómega-3, tem vindo a ser associado a efeitos anti-inflamatórios.
E, uma vez que a asma é uma doença inflamatória, é provável que exista benefício na adesão a um padrão alimentar com características anti-inflamatórias, como a dieta mediterrânea, para um melhor controlo da asma (1).
Asma e alimentação: nutrientes
Antioxidantes
O stress oxidativo é resultado da formação excessiva de espécies reativas de oxigénio, levando a que ocorra uma desregulação no balanço oxidante-antioxidante, que poderá levar ao desenvolvimento e progressão de doenças (1), sendo uma hipótese para a patogenicidade da asma (3, 4).
Estudos em indivíduos com asma verificaram um aumento da formação de espécies reativas de oxigénio comparativamente a indivíduos saudáveis (3), sugerindo assim que a introdução de antioxidantes pode ser benéfica nesta população.
Outros estudos com intervenção alimentar em doentes asmáticos verificaram que uma dieta pobre em alimentos antioxidantes resulta num agravamento da inflamação das vias aéreas e diminuição do controlo da asma (1). Em oposição, a introdução de frutas e vegetais, tipicamente ricos em antioxidantes, levou a uma redução do risco de exacerbação da asma (5).
O consumo de alimentos ricos em antioxidantes, como a vitamina C, nomeadamente hortofrutícolas, foi associado a maior eficácia no controlo da asma e na qualidade de vida, diminuindo o risco de exacerbação de asma, quando comparado ao consumo de suplementos de vitamina C (1).
Fibra
A fibra é um tipo de hidratos de carbono complexos não digeridos pelas enzimas do organismo humano, presentes essencialmente em frutas, hortícolas e grãos integrais, e existem na forma solúvel e insolúvel.
A fibra solúvel é fermentada no colon por bactérias da microbiota intestinal, produzindo compostos como são exemplo os ácidos gordos de cadeia curta (1).
Estes ácidos gordos de cadeia curta possuem efeito anti-inflamatório, e podem estar associados com melhorias em situações de doenças inflamatórias crónicas (1).
Relativamente à asma, o potencial benefício da fibra solúvel ainda não se encontra bem estabelecido, uma vez que o consumo de alimentos ricos em fibra geralmente também contêm quantidades consideráveis de outros nutrientes benéficos, como vitaminas com papel antioxidante.
No entanto, alguns estudos clínicos randomizados têm vindo a demonstrar que a suplementação de fibra solúvel está associada com a melhoria da função pulmonar, controlo da asma e diminuição da inflamação das vias aéreas (1, 6).
Assim, o consumo de hortofrutícolas e cereais integrais é recomendado em indivíduos asmáticos.
Ácidos gordos Ómega-3
Os ácidos gordos polinsaturados Ómega-3 incluem o ácido eicosapentaenoico (EPA), o ácido docosaexaenoico (DHA) e o ácido alfa-linolénico (ALA).
As principais fontes de EPA e DHA são os peixes gordos, como são exemplos o salmão, a cavala e a sardinha (7), já o ALA pode ser encontrado essencialmente em fontes vegetais, como a linhaça, a chia e as nozes.
O consumo destes ácidos gordos Ómega-3 através da alimentação está associado a efeitos anti-inflamatórios, através da diminuição da produção de moléculas inflamatórias, assim como na diminuição do efeito pro-inflamatório dos ácidos gordos Ómega-6 (1, 7).
No que toca à suplementação, não existe evidência cientifica que justifique a sua utilização (4).
Vitamina D
A vitamina D é produzida essencialmente através da exposição solar. No entanto, o leite de vaca, o peixe gordo, a gema de ovo e os produtos fortificados são uma fonte deste micronutriente. Podendo ainda ser encontrada sob a forma de suplemento (1).
Esta vitamina apresenta efeitos no sistema imunológicos e de regulação genética de genes de suscetibilidade à asma, sugerindo ser benéfica no tratamento desta patologia (8).
Níveis séricos baixos de vitamina D são comuns entre indivíduos asmáticos, crianças e adultos, tendo sido associados a um aumenta da exacerbação da doença, inflamação e insuficiência pulmonar (9).
Assim, é sugerido que a suplementação com vitamina D pode melhorar a asma. Sendo que a exposição solar de 10 a 15 minutos nos braços e cara, 2 a 3 vezes por semana, também surge como uma opção para otimizar a produção de vitamina D e evitar o seu défice (1).
Asma e obesidade
Assim como a asma, a obesidade é uma condição inflamatória comum nos países ocidentais.
A evidência científica mostra que a obesidade contribui para o aumento da prevalência da asma e dificulta o controlo da mesma, estando associada ao aumento da gravidade, exacerbações frequentes, baixa resposta à terapêutica farmacológica e diminuição da qualidade de vida (1, 10).
Asma e perda de peso
A perda de peso em indivíduos que apresentem excesso de peso está associada a inúmeros benefícios e não só no controlo da asma, mas também com melhorias do estado geral de saúde. Estudos demonstraram que a perda de peso melhora o controlo da asma, a função pulmonar e o estado geral de saúde (1, 10, 11).
A tentativa de perda de peso com recurso exclusivo ao exercício físico, aumentando o dispêndio energético, parece ser insuficiente quando comparado com programas de perda de peso que incluam restrição alimentar.
No que diz respeito ao tratamento cirúrgico da obesidade, estudos descrevem francas melhorias no controlo da asma após o uso deste método (10).
Uma perda de 5 a 10% do peso corporal inicial promove melhor controlo da asma e de qualidade de vida.
Asma e alimentação: pontos a reter
Assim, para um melhor controlo da asma, da função pulmonar é recomendado:
- Melhorar a qualidade da dieta, aumentando o consumo de fruta, vegetais e grãos integrais e diminuindo a ingestão de gordura saturada (1)
- Atividade física regular: de forma a aumentar a capacidade respiratória (1)
- No caso de obesidade ou excesso de peso, uma perda de peso de pelo menos 5 a 10% do peso inicial é recomendada (1, 10)
A associação entre asma e alimentação tem vindo a ser vastamente estudada ao longo dos últimos anos. No entanto, é necessária maior evidência científica para clarificar que fatores da dieta devem ser modificados para a melhoria desta patologia.
A perda de peso está francamente associada com melhorias no controlo da asma e do estado de saúde em geral. Em caso de dúvida consulte um nutricionista ou médico.
1. Stoodley, I et al. (2019). “Evidence for lifestyle intervention in asthma”. Disponível em: https://breathe.ersjournals.com/content/15/2/e50
2. Brigham, EP et al. (20015). “Association between Western diet pattern and adult asthma: a focused review”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25524748
3. Guo, CH et al. (2012). “Nutritional supplement therapy improves oxidative stress, immune response, pulmonary function, and quality of life in allergic asthma patients: an open-label pilot study”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22502622
4. Han, YY et al. (2015). “Diet and asthma: an update”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26110689
5. Wood, LG et al. (2012). “Manipulating antioxidant intake in asthma: a randomized controlled trial”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22854412