As doenças alérgicas, de um modo geral, têm vindo a aumentar mundialmente. Com a chegada da primavera e com o aparecimento dos pólenes começam a surgir as queixas de rinite alérgica (espirros, corrimento e obstrução nasal e prurido), frequentemente acompanhada de conjuntivite (prurido ocular, olhos vermelhos e lacrimejo). A asma também é uma condição que pode agravar-se.
As alergias desta época resultam da inalação dos pólenes presentes na atmosfera. Em Portugal a polinização vai de Fevereiro a Outubro com um pico de Março a Junho (1) e os anti-histamínicos de segunda geração podem ajudar no alívio dos sintomas das doenças alérgicas.
Anti-histamínicos de segunda geração: principais vantagens
Os anti-histamínicos são fármacos que diminuem a reação do organismo a substâncias estranhas, diminuem a formação do edema, permeabilidade capilar e a vasodilatação e controlam as vertigens e vómitos (2).
Existem anti-histamínicos de primeira, de segunda e de terceira geração e neste artigo apenas iremos abordar as principais diferenças entre os anti-histamínicos de primeira e de segunda geração.
Quais os principais efeitos adversos dos anti-histamínicos de primeira geração?
Os anti-histamínicos de primeira geração são fármacos lipofílicos e por isso atravessam a barreira hematoencefálica, causando o seu principal efeito adverso: a sedação (4, 5, 6. Para além da sedação também se verificam outros efeitos adversos como fadiga, dores de cabeça, diminuição da função cognitiva, memória e performance psicomotora (5, 6).
Os anti-histamínicos de primeira geração não são seletivos na sua acção, ligando-se a receptores muscarínicos (acção anticolinérgica), recetores serotoninérgicos e adrenérgicos conduzindo a inúmeros efeitos adversos.
Nos receptores muscarínicos provocam xerostomia; retenção urinária e taquicardia; nos receptores adrenérgicos provocam hipotensão, tonturas e taquicardia e nos receptores serotoninérgicos provocam aumento do apetite (6).
A xerostomia e a retenção urinária podem ser particularmente problemáticos em pessoas idosas (4).
Após a sua toma são rapidamente absorvidos e metabolizados o que significa que devem ser administrados várias vezes por dia (6).
Dentro da primeira geração temos a hidroxizina e a clemastina (2).
Anti-histamínicos de segunda geração
Os anti-histamínicos de segunda geração oferecem mais vantagens em relação aos da primeira geração (6). Na tabela seguinte verificam-se as principais diferenças entre estas duas classes:
Anti-histamínicos de 1ª geração | Anti-histamínicos de 2ª geração |
Geralmente administrados várias vezes por dia | Administrados uma a duas vezes por dia |
Atravessam a barreira hematoencefálica | Não atravessam a barreira hematoencefálica |
Efeitos adversos como sedação | Não causam efeitos adversos relevantes |
Dose letal em lactentes e crianças |
Em relação aos anti-histamínicos de primeira geração, os de segunda geração provocam menos sedação e menos efeitos anticolinérgicos.
Primeira geração | Segunda geração | |
Sistema nervoso central | Em doses terapêuticas causam fadiga, sonolência, diminuição da função cognitiva, memória e performance psicomotora, dores de cabeça, agitação. | Em doses altas pode causar sedação. |
Coração | Taquicardia | – |
Bloqueio de receptores muscarínicos; alfa adrenérgicos e serotoninérgicos | Retenção urinária, xerostomia, dilatação da pupila, diminuição da motilidade gastrointestinal, estimulação do apetite. | – |
Há duas décadas atrás dois anti-histamínicos pertencentes à segunda geração (astemizol e terfenadina) foram retirados do mercado pois causavam problemas cardíacos graves. Desde então, não foram descobertos mais casos semelhantes nesta classe (5).
Dentro da segunda geração temos a cetirizina, desloratadina, levocetirizina, loratadina e rupatadina (2).
Os anti-histamínicos são úteis no tratamento da rinite e conjuntivite alérgica e urticária. Os de segunda geração são, na prática, os mais usados no tratamento de condições alérgicas por causarem menos sedação (4).
Que cuidados podem ajudar a prevenir as crises de alergia na primavera?
As medidas que ajudam a reduzir o contacto com os alergénios sazonais, os pólenes, são (1):
- Evitar a prática de desportos ao ar livre
- Evitar cortar a relva
- Evitar arejar a casa durante o dia na primavera
- Andar de carro com os vidros fechados
- Evitar atividades no exterior de manhã muito cedo pois existe uma maior quantidade de pólenes no ar
- Evitar caminhadas em espaços relvados
No tratamento das alergias, os anti-histamínicos adquirem um papel fundamental. Esta classe de fármacos age inibindo a ação da histamina, bloqueando a sua ligação aos recetores H1 (2).
Histamina: o que é?
A histamina é uma amina biogénica que resulta da descarboxilação do aminoácido histidina pela enzima histidina-descarboxilase.
A histamina está localizada por todo o organismo com elevadas concentrações nos pulmões, pele e trato gastrointestinal. É sintetizada e armazenada nos mastócitos e basófilos. Estimula a secreção gástrica, a inflamação, a contração muscular, a vasodilatação e a permeabilidade. Também funciona como neurotransmissor sendo sintetizada no hipotálamo (3).
Quando a histamina é libertada no organismo esta vai ligar-se aos recetores de superfície presentes nas células-alvo. Atualmente são quatro os receptores conhecidos: H1, H2, H3 e H4 (3, 4).
Os recetores da histamina
Os recetores H1 são expressos primariamente nas células endoteliais vasculares e nas células musculares lisas. Estes receptores medeiam reacções inflamatórias e alérgicas. Aumentam o prurido, a vasodilatação, a permeabilidade vascular, a broncoconstrição e a hipotensão.
Os recetores H2 são primariamente encontrados nas células da mucosa gástrica aumentando a secreção de ácido gástrico no estômago.
Os recetores H3 têm elevada expressão nos neurónios histaminérgicos. Estão envolvidos no aumento do prurido, no aumento da congestão nasal e na prevenção da broncoconstrição excessiva.
Os recetores H4 são principalmente expressos nas células hematopoiéticas como os eosinófilos, linfócitos T, células dendríticas, mastócitos e basófilos. Estão envolvidos no aumento do prurido e da congestão nasal e na modulação do sistema imunológico.
- Reis M. (2019). Alterações climáticas levam a que alergias aos pólenes comecem mais cedo e durem mais tempo. Acedido em 21 de Fevereiro de 2020. Disponível em: https://ionline.sapo.pt/artigo/655011/-alteracoes-climaticas-levam-a-que-alergias-aos-polenes-comecem-mais-cedo-e-durem-mais-tempo-?seccao=Portugal
- Ferreira J. Direção de Informação e Planeamento Estratégico – Infarmed, I.P. (2018). Anti-histamínicos. Acedido em 21 de Fevereiro de 2020.
- Worm J., et al. The Journal of Headache and Pain (2019). Histamine and migraine revisited: mechanisms and possible drug target. Acedido em 21 de Fevereiro de 2020.
- Randall K., et al. (2018). Antihistamines and allergy. Acedido em 22 de Fevereiro de 2020.
- Simons F.,et al. WAO Journal. (2008). H1 Antihistamines Current Status and Future Directions. Acedido em 22 de Fevereiro de 2020.
- Criado P., et al. ResearchGate. (2010). Histamina, receptores de histamina e anti-histamínicos: novos conceitos. Acedido em 22 de Fevereiro de 2020.