As relações sociais são saudáveis e ajudam o indivíduo na sua integração e desempenho social. Contudo, a ansiedade social (fobia social) que alguns indivíduos sentem pode ser bastante limitadora, interferindo nas suas atividades diárias.
Ansiedade social: o que é?
Portugal é considerado um dos países da Europa com maior percentagem de população com doenças relacionadas com a ansiedade.
Ansiedade social caracteriza-se pelo medo ou ansiedade acentuados sempre que o indivíduo possa estar exposto a uma avaliação por outras pessoas, como em:
- interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares);
- situações em que está a ser observado (por ex., comer ou beber);
- situações de desempenho diante de outros (por ex. apresentações em público).
Portanto, na perturbação de ansiedade social (fobia social), o indivíduo fica ansioso devido ao medo que tem de fazer alguma coisa em que possa ser ridicularizado, humilhado, julgado, desaprovado pelos outros. Como mecanismo de defesa tenta fugir de interações e situações sociais.
Ou seja, quando o indivíduo é exposto a essas situações sociais tem medo de ser avaliado negativamente. Ao preocupar-se excessivamente com o facto de que os outros vão perceber que está ansioso, débil ou amedrontado, desenvolve um conjunto de pensamentos desadaptativos em torno desse medo.
Tem tanto medo de como vai parecer que a sua ansiedade aumenta ainda mais, tornando-se um ciclo vicioso. E é este medo de ser julgado negativamente pelos outros, de fazer algo errado que leva a sentimentos de inadequação, embaraço, humilhação e depressão e consequentemente ao evitamento e/ou isolamento.
Também pode acontecer que a razão da sua ansiedade esteja relacionada com algum perigo real (por ex., ser vítima de bullying). Indivíduos com ansiedade social tendem a sobrestimar e sobrevalorizar as consequências da situação em si.
Sintomas da ansiedade social
Na perturbação da ansiedade social podem estar presentes sintomas físicos, cognitivos e comportamentais como:
- rubor;
- tremores;
- vontade de urinar e náuseas;
- dores abdominais;
- tensão muscular;
- batimento cardíaco acelerado;
- mãos frias;
- diarreia;
- boca seca;
- sudorese;
- dificuldade em falar, entre outros sintomas.
Com base nas interpretações que fazem e nas suas perceções, desenvolvem um conjunto de pensamentos distorcidos da realidade que leva a comportamentos de evitamento e isolamento.
Ansiedade social: como identificar
- Dificuldades em ser assertivo.
- Dificuldade em tomar iniciativa ou manter uma conversa.
- Dificuldade em expressar a sua opinião devido à preocupação excessiva com o que vão pensar.
- Postura extremamente rígida.
- Tom de voz extremamente suave/diminuído.
- Desconfortável na presença de desconhecidos evitando o contacto.
- Medo de que os outros encontrem neles alguma falha ou algum sinal de incompetência que os possam rejeitar e/ou colocar numa situação humilhante.
- As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade.
Da timidez à ansiedade social
Quando falamos em relações sociais estamos perante um conjunto de indivíduos que se cruzam com diferentes personalidades. Há indivíduos mais extrovertidos, mas, também, os que são mais tímidos e que não deixam de ter contacto social.
Num caso de ansiedade social ou fobia social esse contacto vai sendo cada vez menor e a ansiedade é mais intensa. No entanto, nem todas os indivíduos com ansiedade social reagem da mesma forma às situações sociais.
Por exemplo, alguns podem sentir-se desconfortáveis em situações formais de trabalho e mais confortáveis em situações mais casuais, como ir a festas ou a socializar com os amigos.
Outros, podem estar mais confortáveis em situações formais de trabalho e mais desconfortáveis em situações mais causais que impliquem interação social.
Ansiedade social em crianças
Ficar apreensivo perante estranhos é típico na infância. No entanto, para algumas crianças esse medo é mais intenso implicando o seu funcionamento.
Nas crianças, o medo ou ansiedade pode expressar-se através do choro, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou evitando situações sociais. A fobia social é um medo marcante e persistente de situações sociais ou de desempenho na qual a criança teme o a humilhação ou vergonha.
A fobia social inicia-se geralmente na adolescência podendo não haver um reconhecimento que o seu medo é excessivo ou irracional.
Alguns sintomas que deve ter em atenção:
- sintomas físicos como fadiga, dificuldade de concentração, perturbação do sono, irritabilidade, dores de estômago, dores de cabeça, aumento do ritmo cardíaco, corar, suar, voz trémula;
- sintomas comportamentais como não se afastar de um adulto significativo em eventos sociais; recusar-se em participar em atividades sociais; absentismo escolar; abdicar de relacionamentos amorosos.
Fatores de risco para ansiedade social
A perturbação da ansiedade social está relacionado com diversos fatores que podem incluir traços de personalidade (por ex., introversão, timidez ou perfecionismo). Os estudos reportam que a ansiedade social parece relacionar-se com causas externas do que genéticas.
Pais com perturbações ansiosas apresentam maiores níveis de stress e maior preocupação acerca dos filhos e de todas as suas atividades, o que pode inibir o comportamento da criança, levando a que a mesma, até por observação e imitação dos modelos desenvolva uma predisposição para comportamentos ansiosos no futuro.
Parece também existir uma associação entre algumas práticas educativas durante a infância e a aprendizagem deste comportamento fóbico. Por exemplo, a sobreproteção dos pais pode levar a que a criança desenvolva ansiedade social, uma vez que lhe são transmitidas crenças de um mundo hostil, perigoso e ameaçador.
São estas preocupações excessivas que dão origem a sentimentos de insegurança que afetam a sua autoestima e passam a gerar algumas dificuldades nas relações sociais.
Por outro lado, temos as experiências sociais negativas que muitas das vezes causam traumas que podem levar ao desenvolvimento da ansiedade social através do condicionamento (por ex., o bullying, abuso sexual ou conflitos familiares).
Tratamento
A psicoterapia, nomeadamente a Terapia Cognitivo Comportamental é a que mostra resultados mais efetivos no tratamento da ansiedade social (fobia social).
De entre todo o processo algumas das estratégias passam por: psicoeducação sobre ansiedade social; aproximação gradual aos estímulos potenciadores de ansiedade (dessensibilização sistemática) explorando e confrontando crenças distorcidas da realidade do indivíduo; exercícios experimentais para demonstrar os efeitos adversos da atenção e foco; trabalhar o autoconceito e competências de comunicação, entre outras.
Em suma…
Quanto mais cedo for diagnosticada e tratada a ansiedade social, menor será o impacto negativo na sua vida adulta.