Share the post "Ansiedade na gravidez: “será que vou conseguir lidar com tudo”?"
É comum que as grávidas encontrem sempre alguma coisa com que se preocupar, sobretudo numa primeira gravidez. Felizmente, grande parte das preocupações não se confirmam e a maioria das gestações desenrolam-se sem problemas até ao fim do tempo. Mas será que a ansiedade na gravidez pode ter implicações negativas para a saúde materna? Como enfrentá-la? Vamos tentar descobrir!
Gravidez e ansiedade: qual a relação?
A gravidez é um período exigente da vida da mulher pelo que é comum que tenha associada a presença de ansiedade. De facto, uma investigação realizada neste âmbito mostra que a sintomatologia ansiosa é muito frequente nesta fase, mais até do que no período pós-parto.
Os estudos têm mostrado que o período intermédio da gravidez parece ser aquele em que os níveis de ansiedade são menores, sendo por isso o primeiro e o terceiro trimestres de gestação aqueles em que as grávidas tendem a apresentar maior sintomatologia ansiosa.
No início da gestação, as grávidas tendem a preocupar-se tanto com os sintomas (por exemplo, cãibras, enjoos ou algumas dores abdominais) como com ausência destes. Aliás, não se sentir grávida é uma das principais preocupações no primeiro trimestre. Este receio é compreensível, já que nesta fase a barriga ainda não é notória e os movimentos do bebé ainda não se fazem sentir, e as gestantes tendem a questionar-se se tudo estará a correr bem.
Assim sendo, um certo grau de preocupação é normal mas, por vezes, essa preocupação transforma-se num medo intenso, ansiedade desmedida e pânico. As situações de ansiedade extrema devem ser conversadas com os profissionais de saúde que acompanham a gravidez, já que, felizmente, existem soluções para o seu alívio (1,2).
Quais as principais preocupações durante a gravidez?
Os estudos relacionados com a ansiedade na gravidez têm tentado perceber quais as preocupações mais relevantes das mulheres durante a gravidez. Eis algumas dessas preocupações, que podem justificar o aumento dos níveis de ansiedade durante a gestação:
- Saúde do bebé;
- Momento do parto;
- Possibilidade de um aborto;
- Problemas financeiros;
- Questões relacionadas com os serviços de saúde (por exemplo, sobrelotação do hospital ou excesso de trabalho por parte da equipa médica) (1).
Ansiedade na gravidez: as implicações para o bem-estar da grávida
A gravidez é um período de transição e de grande significado na vida de qualquer mulher. Exige transformações e mudanças enormes a nível físico e psicológico, e acrescenta ao dia-a-dia da gestante novos sintomas (por exemplo, náuseas, vómitos, fadiga) e preocupações.
Os efeitos da ansiedade na gravidez, especialmente quando esta é patológica, têm vindo a ser estudados. As implicações da ansiedade na gravidez ao nível do bem-estar da grávida parecem ser várias, nomeadamente:
1. Alguns autores consideram ser provável que a ansiedade tem o poder de influenciar os níveis hormonais e por isso, possa ser determinante no surgimento de complicações obstétricas.
2. Um risco aumentado de aborto espontâneo foi associado a acontecimentos de vida recentes, altamente indutores de ansiedade (por exemplo, falecimento de alguém próximo ou ser vítima de um crime) e a elevado stress no local de trabalho.
3. A ansiedade e o stress profissional têm também sido associados ao aumento de risco de desenvolvimento de pré-eclampsia em fases tardias da gravidez.
4. Também tem sido associado à ansiedade na gravidez o agravamento dos sintomas físicos decorrentes da gestação (por exemplo, náuseas, vómitos, fadiga) (1).
Ansiedade na gravidez: “será que vou conseguir lidar com tudo”?
É importante que todas as grávidas tenham presente que é normal e comum sentir preocupações diversas e alguma ansiedade, bem como saibam que ninguém consegue fazer tudo, nem fazer tudo perfeito.
As mães superam-se dia-a-dia mas não deixam de ser humanas. Vestir a capa de super-mãe e tentar lidar com tudo sem ajuda de ninguém não é viável e algumas tarefas terão mesmo que ficar para trás. Eis 5 dicas que podem ajudar nesta gestão:
1. Aceitar que a perfeição não existe e que dificilmente serão capazes de desempenhar todas as tarefas no trabalho, manter a casa impecável, o cesto da roupa vazia, o frigorífico cheio e, ao mesmo tempo, ser uma mãe exemplar.
2. Refletir sobre as prioridades e ordená-las de acordo com a sua importância. O bebé deve ser a prioridade e, por isso, manter a casa limpa e arrumada talvez possa ocupar um lugar mais secundário.
3. Abandonar expectativas pouco realistas. Conversar com mães mais experientes pode ajudar a reajustar as expectativas, diminuir a ansiedade na gravidez. Definir padrões demasiado elevados apenas trará deceções desnecessárias.
4. Partilhar. A gravidez e o pós-parto implicam uma enorme reorganização do dia-a-dia. É desejável que a mulher não esteja sozinha nesta tarefa. Todas as fontes de apoio são válidas: o pai do bebé, os avós, outros parentes, amigos, uma ama, uma creche.
5. Procurar ajuda. Quando a ansiedade na gravidez afeta o dia-a-dia de forma significativa, importa procurar a ajuda certa. Importa partilhar as preocupações e as emoções mais desafiantes com os profissionais de saúde que acompanham a gravidez (2).
- Conde, A., Figueiredo, B. (2003). Ansiedade na Gravidez: Factores de risco e implicações para a saúde e bem-estar da mãe. Psiquiatria Clínica, 24, (3), pp. 197-209. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4217/1/Ansiedade%20na%20gravidez%20%282003%29.pdf
- Murkoff, H., Mazel, S. (2017). O que esperar quando está à espera de bebé. 1ª edição. Casa das Letras.