Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
11 Ago, 2020 - 10:07

Alimentos para uma boa saúde oral

Nutricionista Hugo Canelas

A dieta influencia a saúde da cavidade oral e, como tal, importa conhecer os alimentos para uma boa saúde oral.

Alimentos para uma boa saúde oral

Os atuais programas de prevenção das doenças orais focam-se essencialmente na promoção da higiene oral, profilaxia com fluor, check-ups periódicos com os médicos dentistas, mas também sobre os alimentos para uma boa saúde oral.

No entanto, poucas pessoas conhecem os conceitos de alimentos cariogénicos, anticariogénicos e cariostáticos, ou seja, alimentos que promovem ou evitam o surgimento de uma das doenças infeciosas mais comuns, as cáries dentárias.

Alimentos para uma boa saúde oral: relação entre Dieta e doenças da cavidade oral

Mulher sentada no balcão da cozinha a comer uma salada

A dieta influencia a saúde da cavidade oral, podendo regular o aparecimento de cáries e o desenvolvimento de doença erosiva e periodontal, condições que afetam em larga escala a qualidade de vida das pessoas.

A cárie dentária é uma doença oral infeciosa na qual ácidos orgânicos produzidos pelo metabolismo levam à desmineralização gradual do esmalte do dente, seguida de rápida destruição proteolítica da estrutura do dente (1).

As cáries podem ocorrer em qualquer superfície do dente e as causas envolvem vários fatores, incluindo a suscetibilidade genética, a presença de microorganismos como o Streptococcus ou lactobacillus na boca, a qualidade da dieta e o tempo/oportunidade para as bactérias metabolizarem os hidratos de carbono fermentáveis e produzirem ácidos orgânicos.

Relativamente à dieta, os hidratos de carbono fermentáveis são os principais responsáveis pela deterioração dos dentes. Como são o substrato ideal para o metabolismo bacteriano, os ácidos produzidos no seu metabolismo podem reduzir o pH salivar para menos de 5,5, criando o ambiente para cáries.

Potencial cariogénico dos alimentos

Snacking: taças com snacks

A cariogenicidade refere-se às propriedades de promoção de cáries da dieta ou alimento. A cariogenicidade de um alimento varia com a sua composição nutricional, altura de ingestão em relação a outros alimentos e líquidos, da duração da sua exposição ao dente e da frequência com que é ingerido (2).

Os hidratos de carbono fermentáveis são encontrados em três dos grupos de alimentos do programa da roda dos alimentos: grãos, frutas e laticínios. Embora algumas hortaliças possam conter hidratos de carbono fermentáveis, há poucos relatos sobre a cariogenicidade, ou propriedades de promover cáries das hortaliças (1).

Exemplos de grãos e amidos que são cariogénicos pela natureza da sua composição de hidratos de carbono fermentáveis incluem bolachas e biscoitos, batatas fritas, cereais de caixa e pães.

Todas as frutas (frescas, secas e enlatadas) e sumos de frutas podem ser cariogénicos. As frutas com alta concentração de água, como a melancia, têm menor cariogenicidade do que outras como a banana e as frutas secas. Outros como refrigerantes e outras bebidas açúcaradas, sobremesas, biscoitos doces e bolos podem ser cariogénicos.

Laticínios contendo frutose, sacarose, e outros açúcares também podem ser cariogénicos em função do açúcar adicionado. No entanto, por serem também ricos em cálcio, e sua alcalinidade natural pode ter uma influência positiva, os lacticínios podem simultaneamente reduzir o potencial cariogénico dos alimentos.

Como outros açúcares (glicose, frutose, maltose e lactose), a sacarose estimula a atividade bacteriana. Todas as formas de açúcar, incluindo o mel, açúcar mascavado e xarope de milho têm potencial cariogénico e podem ser utilizadas pelas bactérias para produzir ácidos orgânicos.

Promoção de Cáries por Alimentos Isolados

É importante diferenciar alimentos cariogénicos, cariostáticos e anticariogénicos.

Alimentos cariogénicos são aqueles que contêm hidratos de carbono fermentáveis, que, quando em contato com os microrganismos na boca, podem causar uma redução no pH salivar para 5,5 ou menos e estimular o processo das cáries.

Alimentos cariostáticos não contribuem para cárie, não são metabolizados por microrganismos na placa e não causam uma redução no pH salivar para 5,5 ou menos em 30 minutos.

Exemplos de alimentos cariostáticos são alimentos ricos em proteínas como ovos, peixe, carne, a maioria das hortaliças, gorduras e pastilhas elásticas sem açúcar. Para além disso, as pastilhas elásticas podem ajudar a reduzir o potencial de cáries devido à sua capacidade de aumentar o fluxo salivar e por utilizar adoçantes em vez de açúcar.

Alimentos anticariogénicos são aqueles que impedem que a placa reconheça um alimento acidogénico logo que é ingerido. Exemplos são queijos como cheddar envelhecido, Monterey Jack, e suíço, mais ricos em caseína, cálcio e fosfato que os restantes.

Os açúcares à base de álcool, como o xilitol, são considerados anticariogénicos porque as bactérias não os conseguem metabolizar da mesma forma que a glicose, sacarose e frutose (2).

3 alimentos para uma boa saúde oral

Embora já tenhamos visto que existem alimentos que não têm impacto na formação de cáries, como os isentos de hidratos de carbono ou ricos em proteínas, fibras e gordura, existem 3 que podem efetivamente promover uma boa saúde oral e evitar o aparecimento de doenças.

Os polifenóis do cacau desempenham atividade antissética, eliminando as bactérias orais causadoras de placa (3). Aliás, um estudo de 2019 descobriu que um elixir oral à base de cacau pode ser tão eficaz como os tradicionais na eliminação da S. mutans, uma das principais bactérias envolvidas nas doenças da cavidade oral (4).

Pelo teor em ómega-3, o consumo de peixe gordo como salmão, sardinha ou cavala pode ajudar a prevenir e reduzir os sintomas de periodontite, uma doença inflamatória que leva à perda de dentes (5).

Por fim, e em contraste com os alimentos ricos em hidratos de carbono fermentáveis, as hortaliças promovem o crescimento de bactérias redutoras de nitritos na boca, que pode ajudar a controlar a descida do pH da saliva (6).

Fatores que Afetam a Cariogenicidade de Alimentos

Variedade de alimentos ricos em fibras
1.

Forma e consistência

A forma e a consistência de um alimento têm um impacto importante no seu potencial cariogénico e na redução do pH ou na capacidade tampão. A forma do alimento determina a duração da sua exposição ou tempo de retenção de um alimento na boca, que, por sua vez, afeta por quanto tempo a redução do pH ou a atividade de produção de ácido vai durar.

Os líquidos são rapidamente esvaziados da boca e têm baixa capacidade de aderência (ou retenção).

A consistência também afeta a aderência. Alimentos mastigáveis estimulam a produção de saliva e têm um menor potencial de aderência do que os alimentos sólidos e pegajosos como biscoitos, pães ou bananas.

Alimentos com alta concentração de fibra e com pouco ou nenhum hidrato de carbono fermentável, como pipocas e hortaliças cruas, são cariostáticos (2).

2.

Exposição

A duração da exposição pode ser mais bem explicada com alimentos à base de amido, que é um tipo de hidrato de carbono fermentável sujeito à ação da amilase salivar. Quanto mais tempo o amido é retido na boca, maior é o seu potencial cariogénico.

Dado o tempo suficiente, como quando as partículas dos alimentos ficam alojadas entre os dentes, a amilase salivar fabrica substrato adicional disponível enquanto hidrolisa o amido para simples açúcar (2).

3.

Composição nutricional

A composição nutricional contribui na capacidade de um substrato em produzir ácido e na duração da exposição do ácido. Laticínios, em virtude do potencial tampão do cálcio e do fósforo, são considerados com baixo potencial cariogénico.

Estudos demonstraram que queijo e leite, quando consumidos com alimentos cariogénicos, auxiliam a tamponar o pH ácido produzido por alimentos cariogénicos. Em função das suas propriedades anticariogénicas, comer queijo com hidratos de carbono fermentáveis – marmelada no final da refeição por exemplo – pode reduzir a cariogenicidade da refeição e da sobremesa.

As nozes, que não contêm uma quantidade importante de hidratos de carbono fermentáveis e têm altos teores de gorduras e fibra, são cariostáticas.

Alimentos proteicos tais como peixe, carne e ovos, juntamente com outras gorduras como óleos, margarina, manteiga e sementes, também são cariostáticos (2).

4.

Sequência e frequência da alimentação

A sequência da alimentação e a combinação de alimentos também afetam o potencial do substrato das cáries. Bananas, que são cariogénicas porque contêm hidratos de carbono fermentáveis e têm maior capacidade de aderência, têm menor potencial na contribuição de cáries quando ingeridas com cereais e leite do que quando ingeridas sozinhas.

O leite, como um líquido, reduz a capacidade de aderência da fruta. Bolachas e tostas ingeridas com queijo são menos cariogénicos do que quando ingeridos sozinhos.

A frequência do consumo de alimentos ou bebidas cariogénicas determina o número de oportunidades para a produção ácida. Sempre que os hidratos de carbono fermentáveis são consumidos, o pH desce rapidamente, aumentando o processo de cariogénese (2).

Fontes

  1. Scardina, G.A. & Messina, P. (2012). Good Oral Health and Diet. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3272860/
  2. Mahan, L.K., Raymond, J.L. (2017). Krause’s Food and Nutrition Care Process. 14th Edition. St Louis, Missouri.
  3. Ferrazzano GF, Amato I, Ingenito A, De Natale A, Pollio A. (2009). Anti-cariogenic effects of polyphenols from plant stimulant beverages (cocoa, coffee, tea). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19397954/
  4. Shrimathi, S., et. al. (2019). Comparative Evaluation of Cocoa Bean Husk, Ginger and Chlorhexidine Mouth Washes in the Reduction of Steptococcus Mutans and Lactobacillus Count in Saliva: A Randomized Controlled Trial. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6701906/
  5. Naqvi, A.Z., et. al. (2012). Omega 3 fatty acids and periodontitis in U.S. adults. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3320731/
  6. Bryan NS, Tribble G, Angelov N. (2017). Oral Microbiome and Nitric Oxide: the Missing Link in the Management of Blood Pressure. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28353075/
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