Share the post "A importância da alimentação em doentes com COVID-19 em autocuidados"
Sabe-se que alguns dos sintomas da COVID-19 podem ter um impacto direto na ingestão alimentar, podendo afetar o estado nutricional e promover uma pioria de sintomas que, eventualmente, culminarão numa ida ao hospital.
Neste artigo debatemos a importância da alimentação em doentes com COVID-19 em autocuidados e como promover a correta ingestão alimentar no sentido de garantir uma resposta ótima do sistema imunitário no combate à infeção.
alimentação em doentes com COVID-19 em autocuidados
Os sintomas mais comuns da COVID-19 incluem tosse, fraqueza, febre e dificuldade respiratória. Outros sintomas menos comuns incluem perda de apetite, de olfato e de paladar, situações que podem comprometer a ingestão alimentar e dificultar o combate ao vírus.
Ora é mais do que aceite que o estado nutricional tem um impacto direto na qualidade da resposta do sistema imunitário a agentes agressores (1).
Para além das várias vitaminas e minerais que funcionam como cofatores de reações do sistema imunitário, as necessidades energéticas e proteicas podem aumentar significativamente, principalmente se os sintomas da infeção evoluírem na sua gravidade (2).
Sem um ótimo estado nutricional, o organismo irá fazer uso das suas reservas, nomeadamente da massa muscular, como fonte energética alternativa, o que irá culminar, por exemplo, numa redução da força dos músculos respiratórios, dificultando a respiração normal.
Assim sendo, algumas premissas alimentares devem ser respeitadas pelo doente COVID-19 não crítico em autocuidados, como por exemplo:
Ingestão energética adequada
Neste caso, a ingestão calórica deve ser a suficiente não só para manutenção do peso corporal saudável, mas também para o ótimo funcionamento do sistema imunitário enquanto luta contra a infeção.
Em termos médios, uma infeção respiratória pode aumentar as necessidades energéticas em cerca de 30% relativamente ao estado basal, o que quer dizer que a pessoa necessita de mais cerca de 600 calorias diárias neste quadro clínico.
Se estas necessidades não forem atingidas, podemos ver agravado um caso de caquexia, principalmente nas pessoas mais velhas, com progressiva perda de força, apetite e tecido musculo-esquelético e agravamento do quadro clínico subjacente.
Neste sentido, garantir uma alimentação equilibrada e variada, rica em fontes alimentares que forneçam não só proteínas, mas também gorduras e hidratos de carbono são a forma de prevenir este fenómeno.
Por outro lado, a falta de apetite como sintoma da doença pode comprometer significativamente a ingestão alimentar.
Se for o caso, deve garantir que ingere alimentos de elevada densidade energética e nutricional, como por exemplo frutas oleaginosas e produtos lácteos gordos.
Uma vez que calorias “bebidas” são mais fáceis de ingerir do que as “comidas”, enriquecer sopas, caldos, sumos e batidos com suplementos como leite em pó, azeite, proteína whey ou maltodextrinas pode ser uma forma simples de atingir as suas necessidades energéticas.
Ingestão proteica
Consumir proteína nas quantidades adequadas é extremamente importante para manter o peso. No entanto, a monotonia de estar em casa associada à falta de apetite e à indisposição para cozinhar pode conduzir a uma ingestão insuficiente deste nutriente.
Embora não haja recomendação específica para o doente COVID-19 não crítico em autocuidado, a ideia será cumprir a recomendação para a população saúdavel, ou seja, 1 a 1,2 g/kg/dia, no sentido de “proteger” a massa muscular e a deterioração da função respiratória.
Para isso, assegure o consumo de fontes proteicas em cada refeição, como carne, pescado, ovos, lacticínios e as leguminosas e sempre que possível, enriqueça sopas e caldos com estes alimentos.
Ingestão de hortofrutícolas
Uma vez que vários componentes alimentares podem contribuir para otimizar o sistema imunitário, é imperativo que a alimentação seja variada, diversificada e, acima de tudo, equilibrada.
Alimentos como frutas e vegetais são ricos em antioxidantes que, entre outras coisas, ajudam a diminuir a inflamação através do combate aos radicais livres, compostos que enfraquecem as nossas defesas naturais (3).
Para além dos antioxidantes contidos nestes alimentos, temos as fibras que servem de alimento para a nossa flora intestinal, mantendo-a saudável, e potenciando o normal funcionamento do sistema imunitário (4).
Para isso, certifique-se que inicia sempre as refeições principais com uma sopa de legumes e que inclui pelo menos uma porção de hortícolas variados, em cru ou cozinhados, no seu prato. No caso da falta de apetite, pode sempre optar por consumir sumos de fruta.
Ingestão de líquidos
Manter-se corretamente hidratado é uma das principais armas que temos à nossa disposição no combate a qualquer infeção.
Em primeiro lugar, a ingestão de água é necessária para a manutenção da temperatura corporal o que numa doença em que a febre é um sintoma frequente, é de extrema importância. O estado de hidratação é um fator crucial na regulação da temperatura corporal.
Por outro lado, no caso da presença de sintomas gastrointestinais como vómitos e diarreia, é necessário um controlo mais apertado do estado de hidratação, sob a pena de perdas acentuadas de líquidos e eletrólitos que se manifestam sob a forma de alterações nos batimentos cardíacos, confusão mental, fraqueza muscular e cãibras.
A utilização de eletrólitos para contrariar as perdas através do suor e manter a água dentro do corpo é uma estratégia muito utilizada, podendo recorrer-se a soluções de reidratação oral ou água de coco para este fim.
- Coico R, Sunshine G. (2009). Immunology: A Short Course. John Wiley and Sons.
- Calder, P. (2013). Conference on ‘Transforming the nutrition landscape in Africa’. Plenary Session 1: Feeding the immune system. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23688939
- Serafini M, Peluso I. (2016). Functional Foods for Health: The Interrelated Antioxidant and Anti-Inflammatory Role of Fruits, Vegetables, Herbs, Spices and Cocoa in Humans. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27881064/
- Holscher HD. (2017). Dietary fiber and prebiotics and the gastrointestinal microbiota. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28165863/