A diversificação alimentar foi revista recentemente, deixando para trás a ideia convencional da introdução de novos alimentos em meses específicos. Por esse motivo, a alimentação do bebé de 9 meses, tal como noutras idades, está mais flexível e dependente da tolerância da criança.
O que é a diversificação alimentar?
O processo de diversificação alimentar consiste, basicamente, na introdução de outros alimentos que não o leite materno, de textura progressivamente menos homogénea, até à inserção na alimentação da família, que ocorrerá a partir dos 12 meses.
Este processo inicia-se por volta dos 4 meses, altura em que a amamentação exclusiva deixa de ser suficiente para suprir todas as necessidades nutricionais da criança, em particular de ferro.
Neste sentido, esta etapa é fundamental para o desenvolvimento infantil da criança, tanto do ponto de vista nutricional, como cognitivo e funcional (aprende a mastigar, pegar na colher), preparando-o para a integração na rotina da família (1).
Recomendações para alimentação do bebé: principais alterações
As recomendações relativas à alimentação do bebe e diversificação alimentar foram revistas e alteradas recentemente pela ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica), sendo as principais alterações relativas ao início da diversificação (4 meses e não 6) e à introdução de alimentos alergénios.
Relativamente a este último ponto, a evidência científica atual sugere que se abandone as diretrizes anteriores relativas à introdução destes alimentos mais tardiamente, pois a introdução precoce de potenciais alergénicos parece diminuir o risco de desenvolver alergia alimentar.
De facto, verificou-se que o risco de alergia alimentar apenas se acentua se a exposição a estes alimentos se iniciar antes dos 4 meses de idade.
Por esse motivo, não deverá haver uma ordem nem mês de vida preferencial para a introdução dos novos alimentos a partir dos 4 meses e na alimentação do bebé de 9 meses poderão já constar alimentos como frutos oleaginosos (em particular o amendoim), alimentos com glúten (cereais e derivados, em particular), ovo e peixe.
No entanto, a introdução de novos alimentos deve ser gradual e de forma isolada de forma a detetar possíveis intolerâncias ou alergias alimentares (2).
Como deve ser então a alimentação do bebé de 9 meses?
É recomendado que, por esta altura, que a criança consuma alimentos ricos em ferro, nomeadamente a carne (cerca de 30g), os vegetais de folha verde (através da sopa), frutos oleaginosos ou cereais integrais fortificados com este nutriente.
A esta sopa pode ser adicionado azeite, visto ser uma gordura fundamental para o organismo, assim como mais quantidade e variedade de legumes do que nas sopas iniciais (por volta dos 4 meses de idade).
Além destes, a fruta deverá ser oferecida de forma variada como sobremesa, na sua forma crua, idealmente. Deverá optar, sempre que possível, pela fruta da época, de forma de obter o maior valor nutricional possível.
Assim, e em termos gerais, a alimentação do bebé de 9 meses pode já incluir todos os alimentos que fazem parte de um regime alimentar saudável, nomeadamente, sopa, fruta, carne, peixe, ovo, pão e derivados e frutos oleaginosos.
Por outro lado, nenhum açúcar ou sal deve ser adicionado aos alimentos e os alimentos açucarados como sumos de frutas, bolachas e papas açucaradas devem ser evitados. (2)
Alimentação do bebé de 9 meses: o que ainda não deve oferecer
Leite de vaca
O leite de vaca não deve ser oferecido como bebida principal à criança antes dos 12 meses de idade, embora pequenos volumes possam ser adicionados aos alimentos complementares como as papas.
Mel
O consumo de mel é desaconselhado até aos 12 meses por dois motivos: ser um alimento açucarado e pelo risco de botulismo associado (por não ser pasteurizado).
Alimentos que possam provocar engasgamento, como amêndoas, uvas inteiras, pipocas, entre outros
Por fim, é também importante realçar que esta idade constitui uma importante janela de oportunidade para a criação de hábitos alimentares saudáveis, importantes para a prevenção de doenças crónicas não transmissíveis no futuro, nomeadamente obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras.
Como tal, deve ser bem aproveitada pelos pais, em particular no que diz respeito a hortofrutícolas, visto que, ao contrário do sabor doce, o sabor amargo destes alimentos não é inato e precisa de ser aprendido.
- Fewtrell, M. et al. (2017). Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28027215 - SCIMED, 2018. “Desmistificando a diversificação alimentar – abandonemos as normas da SPP”;https://www.scimed.pt/geral/dietas/desmistificando-a-diversificacao-alimentar-abandonemos-as-normas-da-spp/