Se até há bem pouco tempo as algas eram um alimento associado apenas à cultura oriental, atualmente já são encontradas também nas cozinhas ocidentais devido ao seu potencial a nível nutricional.
O termo “algas” engloba as macroalgas, organismos complexos multicelulares, e as microalgas, um grupo muito diversificado de microrganismos unicelulares.
Apesar de não serem plantas terrestres, são um grupo de organismos que recorrem, em regra, à fotossíntese para obtenção de energia, à semelhança das plantas.
Em termos de consumo, os países asiáticos são ainda os principais consumidores de algas e produtos à base das mesmas, absorvendo cerca de 60% da produção mundial.
No entanto, segundo dados recentes de consumo divulgados numa publicação da Associação Portuguesa de Nutricionais (APN), em 2016, a União Europeia ocupou a segunda posição, em termos de importação, sendo os principais países importadores de algas secas, a Dinamarca, Alemanha, Portugal e Espanha.
Macroalgas e Microalgas
Como referido anteriormente, as algas podem ser divididas em macroalgas e microalgas de acordo com as suas características.
As microalgas são organismos de tamanho microscópico que crescem em condições diversas, e não apenas em ambiente marinho, como acontece com as macroalgas.
Também ao contrário das macroalgas, que são seres multicelulares complexos, visíveis a olho nu, as microalgas são seres unicelulares, dos quais existem vários grupos taxonómicos, como as diatomáceas (eucariontes – células com núcleo) ou as cianobactérias (procariontes – células sem núcleo), apresentando uma grande diversidade de cores e aparências.
No caso das macroalgas, são classificadas de acordo com a sua pigmentação em: algas verdes (Chlorophyta), vermelhas (Rhodophyta) e castanhas (Ochrophyta, Phaeophyceae).
Macroalgas
As macroalgas podem chegar ao consumidor final por duas vias: ser cultivadas ou colhidas diretamente do ambiente selvagem, como acontece no sushi.
Alguns exemplos de algas marinhas utilizadas para consumo direto pela população são: Ulva rigida (Alface do mar), Laminaria digitata (Kombu), Undaria pinnatifida (Wakame), Fucus vesiculosus (Fava-do-mar), Porphyra umbilicalis (Nori) e Palmaria palmata (Dulse).
A Nori e a Dulse são exemplos de algas vermelhas, a kombu e wakame são exemplos de algas castanhas e a alface do mar é exemplo de alga verde.
Microalgas
As microalgas apresentam uma vasta biodiversidade de espécies, na sua generalidade ainda pouco exploradas.
Recentemente, as microalgas têm vindo a ser utilizadas na alimentação humana e animal, sendo as mais conhecidas a Arthrospira (Spirulina), a Chlorella spp, a Dunaliella salina e a Aphanizomenon flosaqua.
A aplicação das microalgas em produtos nutracêuticos e em alimentos funcionais têm sido as principais formas de comercialização das mesmas.
Propriedades nutricionais das algas
Como já referido, as algas têm despertado interesse na comunidade devido ao seu potencial nutricional e industrial.
Na verdade, as algas correspondem a uma fonte alternativa de proteína, fibra (em particular fibra solúvel), vitaminas e minerais. Apresentam ainda um teor elevado de ácidos gordos polinsaturados, nomeadamente ácidos gordos essenciais ómega 3 e ómega 6.
As microalgas, em particular são as fontes primárias de EPA e de DHA para o pescado e outros organismos, tornando-os, por sua vez, também ricos nestes nutrientes.
O elevado teor de fibra torna as algas num aliado na perda de peso, pois promove uma maior sensação de saciedade e na saúde, através da diminuição do risco de diabetes, de cancro do cólon e de doença cardiovascular.
Macronutrientes
Em termos de macronutrientes, a percentagem de hidratos de carbono varia entre 44 e 66% (nas macroalgas) e 6-17% (nas microalgas), a proteína entre 8 e 42 (nas macroalgas) e 51 a 60% (nas microalgas) e a gordura entre 0,3 e 10% (nas macroalgas) e 8 a 32% (nas microalgas).
Micronutrientes
Relativamente a micronutrientes, são fontes de vitaminas, tais como vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C e vitamina E. Quanto aos minerais, na generalidade, as algas são fornecedoras de minerais como o iodo, ferro, potássio, cálcio e sódio.
Neste contexto, importa salientar que as algas são uma fonte vegetal relevante para indivíduos vegetarianos, em particular no que diz respeito à vitamina B12, iodo e ferro.
Além disso, possuem também fitoquímicos, como os flavonóides, os ácidos fenólicos e os carotenoides, nomeadamente o β-caroteno, com potencial biológico muito relevante para a saúde.
Considerações de saúde e consumo de algas
Apesar dos benefícios e propriedades nutricionais mencionados anteriormente, no que diz respeito às microalgas, importa salientar que a reduzida quantidade em que são consumidas é um fator que limita a sua utilização como uma fonte primária de proteína e micronutrientes.
Por outro lado e tal como em qualquer alimento, o consumo de algas em excesso, em particular macroalgas, (e de fontes não seguras) pode induzir riscos para a saúde, em particular a ingestão de metais pesados, ingestão exagerada de iodo e sódio (e desregulação tiroideia), reações alérgicas, ingestão de pesticidas, entre outros.
Por fim, importa realçar que os fatores ambientais, sazonais, de processamento e confeção podem influenciar e fazer variar a composição nutricional das algas.
É, por isso, necessária mais investigação para avaliar os potenciais efeitos adversos do consumo diário de algas, sendo fundamental fomentar um consumo ponderado e a aquisição de algas através de fontes seguras.
Considerações de consumo
Relativamente ao consumo direto de algas, estas são, primeiramente, desidratadas e transformadas em pó e, de seguida, vendidas como um pó ou comprimidos / suplementos, maioritariamente em ervanárias e lojas de produtos naturais.
Por outro lado, as algas podem também ser consumidas incorporadas noutros alimentos tradicionais, nomeadamente: pão, bolachas/tostas, gelatina, sal, azeite e massa, que facilitam a incorporação destas na alimentação diária.
Outra aplicação das algas, neste caso, das macroalgas, é a formação de hidrocoloides ou agentes gelificantes, sendo o agár o exemplo mais conhecido dessa situação.
No caso particular do agár, é produzido através de algas vermelhas, sendo utilizado, por exemplo, em produtos de panificação, sobremesas, como gelatina, e como substrato de crescimento microbiológico.
Onde comprar as algas e que cuidados ter?
Também de acordo com a APN, a compra de algas deve ser realizada em empresas certificadas e lojas da especialidade. Deve também verificar o país de origem no rótulo dos produtos e privilegiar os de origem nacional.
Relativamente ao armazenamento, não deve ultrapassar os 3 a 8 dias. Pode também armazenar as algas frescas no congelador, sendo, neste caso, a validade de cerca de 6 meses.
Antes de consumir, deve lavar, cuidadosamente em água corrente as algas frescas, para se retirar a maioria das impurezas. No caso das secas, hidrate antes da utilização, seguindo os conselhos de utilização presentes no rótulo.