Luís Cristino (nutricionista)
Luís Cristino (nutricionista)
08 Jan, 2020 - 10:32

Alergia ao ovo: riscos e cuidados a que deve estar atento

Luís Cristino (nutricionista)

Ter alergia ao ovo é um desafio, uma vez que grande parte dos produtos alimentares apresentam ovo ou um derivado do ovo.

Alergia ao ovo: riscos e cuidados a que deve estar atento

A alergia ao ovo é uma das alergias alimentares mais comuns em crianças, perdendo apenas para a alergia ao leite. Por outro lado, esta alergia alimentar é rara em adultos. A maioria das crianças com alergia ao ovo acaba por perdê-la com o decorrer do seu desenvolvimento.

Sabia que o contacto com utensílios de cozinha, superfícies ou mãos contaminadas com ovo ou derivados do ovo podem colocar a saúde de uma pessoa com alergia ao ovo em risco?

A temática sobre alergia alimentar tem vindo a ser estudada há algumas décadas, no entanto a importância dada e o conhecimento são escassos. A desinformação sobre o que é, como se diagnostica ou como se trata, pode ter consequências irreversíveis, uma vez que uma alergia alimentar pode, em situações graves, ser mortal.

Alergia Alimentar vs Intolerância Alimentar

Antes de entender o que é e que cuidados deve ter com a alergia ao ovo, é importante esclarecer a confusão existente nos dias de hoje entre alergias e intolerâncias alimentares, uma vez que os mecanismos envolvidos e as suas consequências são distintas.

Quando se fala de alergia alimentar, ocorre envolvimento do sistema imunitário na presença do alergénio, desencadeando uma reação mais generalizada, como o caso do ovo. Por sua vez, na intolerância alimentar não há o envolvimento do sistema imunitário, verificando-se uma incapacidade do organismo digerir um componente alimentar, como é exemplo a lactose (açúcar do leite) resultando essencialmente em consequências no trato gastrointestinal, nomeadamente cólicas e diarreias (1, 2).

Os casos de intolerância alimentar são muito mais frequentes, enquanto que as alergias alimentares são um problema que ocorre com menor frequência, embora com um aumento acentuado na última década.

Alergia ao ovo

Fact-check: ovo, apenas 1 por semana?

A alergia ao ovo está frequentemente associada às proteínas da clara do ovo, embora alguns indivíduos possam apresentar alergia para ambas as parte do ovo, a gema e a clara.

Os sintomas desta alergia podem variar de reações leves, como a urticária, a reações graves originando anafilaxia – reação alérgica generalizada e potencialmente fatal.

Assim, e para evitar uma reação alérgica, é importante estar atento aos rótulos dos produtos alimentares, nomeadamente à lista de ingredientes e à designação de alergénios. É igualmente importante garantir que a refeição consumida num restaurante não apresente vestígios de proteínas de ovo por contaminação cruzada, informando sempre os funcionários do mesmo restaurante para que medidas possam ser tomadas.

No que diz respeito à legislação, os alergénios apresentam obrigatoriedade legal de constar na rotulagem alimentar de forma realçada, a negrito. Quando determinado alergénio não é um ingrediente intencional, mas pode estar presente no alimento por contaminação cruzada devido ao processo de fabrico deverá estar igualmente indicado (por exemplo: Pode conter vestígios de…) (1, 3).

Ingredientes na rotulagem alimentar aos quais deve estar atento (2):

  • Ovo em pó desidratado
  • Albumina
  • Lisozima
  • Lecitina de ovo
  • Apovitelin
  • Aitelina
  • Avidina
  • Flavoproteína
  • Globulina
  • Livetina
  • Ovoalbumina
  • Ovoglobulina
  • Ovoglicoproteína
  • Ovomucina
  • Ovomucóide

Alergia ao ovo: reação alérgica

A manifestação alérgica pode desencadear sintomas que podem incluir manifestações cutâneas (pele e mucosas), respiratórias, gastrointestinais e cardiovasculares, de forma isolada ou combinada. Os sintomas surgem rapidamente, entre alguns minutos até duas horas após a ingestão do alergénio (2).

Em casos muito graves pode ocorrer anafilaxia – reação fatal caso não seja tratada convenientemente – com múltiplos sinais e sintomas, onde se incluem os cardiovasculares (2).

O tratamento é através da utilização de um dispositivo autoinjetor de adrenalina. Após a administração de adrenalina, os serviços de emergência devem ser chamados ao local de forma a avaliar a situação e a garantir a assistência médica necessária (23).

Alergia ao ovo: como evitar o ovo

Alergia ao ovo: riscos e cuidados a que deve estar atento

O melhor tratamento para a alergia ao ovo é a evicção do produto e de produtos que possam conter ovo como ingrediente. No entanto, esta evicção pode ser difícil e restritiva, uma vez que os ovos são encontrados como ingrediente em muitos alimentos e pratos confecionados. Assim, é prudente uma leitura atenta dos rótulos, estando atento à informação da presença de alergénios nas embalagens dos alimentos pré-embalados, assim como nos alimentos vendidos avulso não pré-embalados vendidos em restaurantes e cafés (4).

Qualquer pessoa diagnosticada com alergia às proteínas da clara de ovo ou da gema deve evitar completamente o consumo de ovos, uma vez que não é possível separar completamente as proteínas da clara das proteínas da gema, devido à contaminação por contacto (3). Assim, deverá excluir da sua alimentação ovo de qualquer ave, gema e clara de ovo.

Produtos derivados do ovo que não deve ingerir:

  • Claras de ovo pasteurizadas
  • Gema de ovo pasteurizado
  • Ovo pasteurizado
  • Ovo em pó
  • Albumina em pó

Deve ainda evitar produtos que contenham na sua constituição ovo ou um ou mais derivados deste, como (2):

  • Maionese e outros molhos com ovo
  • Delícias do mar
  • Massas
  • Produtos de pastelaria e confeitaria (bolos, bolachas, folhados, pães com ovo, etc.)
  • Canja com ovo
  • Salgados (rissóis, bolinhos de bacalhau, croquetes, panados)
  • Alimentos pincelados com ovo (empadão, empadas, folhados)
  • Hambúrgueres e salsichas

Em suma, esta alergia é mais frequentemente encontrada em crianças sendo que, geralmente, desaparece com o decorrer da idade. No entanto, a alergia ao ovo poderá ser extremamente perigosa e deve ser encarada com o máximo de atenção possível, uma vez que é uma área que, nos dias que correm, não recebe a merecida atenção, apesar dos riscos associados.

Veja também

Fontes

1. Direção Geral da Saúde. (2016). Alergia alimentar na restauração. Disponível em: https://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1464873118AlergiaAlimentarnaRestaurac%CC%A7a%CC%83o.pdf
2. Ministério da Educação e Ciência. (2012). Alergia Alimentar. Disponível em: https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Esaude/referencial_alergias_alimentares.pdf
3. American College of Alergy, Asthma e Immunology. (2019). Egg Allergy. Disponível em: https://acaai.org/allergies/types-allergies/food-allergy/types-food-allergy/egg-allergy
4. ASAE. (2017). Rotulagem de Géneros Alimentícios: Regulamento (UE) nº1169/2011, o que estipulam as novas regras? Disponível em: http://www.asae.gov.pt/pagina.aspx?f=1&lws=1&mcna=0&lnc=7010AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA&parceiroid=0&codigoms=0&codigono=57997230AAAAAAAAAAAAAAAA

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