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Segundo a Organização Mundial de Alergias (OMA), as alergias alimentares são definidas como reacções de hipersensibilidade iniciadas por mecanismos imunológicos específicos. A alergia à proteína do leite de vaca é uma das alergias alimentares mais comuns, afetando cerca de 2 a 3% da população infantil. Define-se como uma reação mediada pelo sistema imunitário às proteínas do leite e ocorre predominantemente nos primeiros 3 anos de vida.
As proteínas mais frequentemente implicadas nesta reação são a caseína, a alfa-lactoalbumina e a beta-lactoglobulina.
As reações alérgicas podem ser de dois tipos: IgE (imunoglobulina / anticorpo E) mediadas e não-IgE mediadas, podendo este facto correlacionar-se com as manifestações clínicas.
A alergia à proteína do leite de vaca é, geralmente, uma situação transitória, verificando-se que aos 5 anos de idade mais de 80% das crianças já adquiriu tolerância à mesma. De referir ainda que cerca de 35% destas crianças desenvolve alergia a outros alimentos.
Como surge a alergia à proteína do leite?
De uma forma simplificada, a alergia à proteína do leite surge quando o sistema imunitário reconhece erradamente esta proteína, encarando-a como sendo um agressor para o organismo, desencadeando uma reação imunológica contra a mesma.
Note-se que, para existir uma reação alérgica, primeiro tem de haver uma sensibilização (ou seja, uma primeira exposição); a verdadeira reação alérgica ocorre numa segunda exposição ao alimento, desencadeando as manifestações clínicas.
A alergia à proteína do leite juntamente com a alergia à proteína do ovo, constituem as alergias alimentares mais comuns em bebés e crianças, e, em casos mais graves, podem, inclusive, ser fatais.
Causas para a alergia à proteína do leite
1. Genética
Familiares de pessoas com este problema têm cerca de 75% de probabilidade de desenvolvê-lo também. Contudo, existem crianças que o desenvolvem sem historia familiar relevante.
2. Higiene
Os hábitos de limpeza, vacinas a antibióticos tornam as pessoas mais capazes de combater infeções, o que vai alterar o sistema de defesa do organismo e as hipóteses de desenvolver este tipo de alergia aumenta.
3. Contacto precoce com as proteínas do leite
Quando o bebé nasce, o seu organismo ainda não está totalmente preparado para receber todos os alimentos. Antes disso, tem que se habituar a fazer a digestão e a defender-se de substâncias nocivas.
À nascença, o alimento ideal para o bebé é o leite materno. É um alimento nutricionalmente completo, rico em enzimas e anticorpos que vão ajudar o bebé a proteger-se mais facilmente.
Quando é introduzido o leite de vaca nos primeiros dias de vida, a probabilidade de desenvolver alergia à proteína do leite de vaca é maior.
Como o sistema digestivo ainda é imaturo, as proteínas do leite são absorvidas por inteiro, o que faz com que sejam confundidas com algo nocivo para o organismo. É a partir daqui que se vai desencadear a alergia.
Sintomas e como se diagnostica a alergia à proteína do leite
Em lactentes alimentados com fórmulas lácteas industriais, os sintomas podem aparecer no primeiro mês de idade. No entanto, dependendo do tipo de reação, os mesmos podem demorar apenas minutos a aparecer, mas também podem demorar horas ou dias.
Digestivos (cerca de 50 a 60% dos casos)
- Dificuldade em engolir;
- Sensação de alimento parado na garganta;
- Dificuldade de digestão;
- Falta de apetite e recusa alimentar;
- Saciedade com pouca quantidade de alimento;
- Regurgitação frequente;
- Vómitos;
- Cólicas intensas;
- Diarreia;
- Obstipação.
Respiratórios (cerca de 20 a 30% dos casos)
- Obstrução nasal;
- Chiado;
- Respiração difícil;
- Tosse.
Cutâneos (cerca de 50 a70% dos casos)
- Manchas vermelhas na pele;
- Eczema atópico ou dermatite atópica;
- Comichão na pele;
- Inchaço de lábios e pálpebras.
Gerais
- Baixo ganho de peso, crescimento e desenvolvimento;
- Anafilaxia;
- Síndrome de enterocolite causada por proteína alimentar.
Todos os sintomas descritos também podem estar associados a outros problemas de saúde, e por isso não são exclusivos da alergia à proteína do leite de vaca.
Diagnóstico da alergia à proteína do leite
Relativamente ao diagnóstico, os métodos mais usados são os Skin prick test e a medição sérica das IgE específicas.
No entanto, ambos os testes apresentam várias limitações e, como tal, um único teste provavelmente não será capaz de identificar todos os doentes com alergia às proteínas do leite de vaca.
Consequentemente, o diagnóstico da alergia à proteína do leite baseia-se fundamentalmente na suspeição clínica, visto que os testes de alergia, no sangue ou cutâneos (prick test), são, por vezes, negativos.
Qual o tratamento para a alergia à proteína do leite?
O tratamento mais comum consiste numa evicção completa de proteínas do leite de vaca na alimentação destas crianças, enquanto persistir a alergia.
Para esse efeito, deverá utilizar leites especiais que não contenham quantidades de proteínas de leite de vaca detetáveis pelo sistema imunitário – fórmulas hidrolisadas de proteínas (caseína ou proteínas do soro) ou fórmulas baseadas em aminoácidos. Estes leites deverão ser a fonte exclusiva quer para consumo direto, quer para preparação de outros alimentos que necessitem de leite. Posteriormente, o desaparecimento da alergia deverá ser confirmado por um teste de provocação oral com leite de vaca realizado em meio hospitalar para garantir maior segurança.
A idade para realizar este teste de tolerância dependerá da forma de manifestação da alergia e do grau de sintomatologia e resultados dos testes sanguíneos.
Felizmente, a maioria das crianças adquire tolerância espontaneamente com o tempo, o que acontece mais rapidamente nas situações não mediadas por IgE.
Alergia à proteína do leite vs Intolerância à lactose
Embora uma intolerância alimentar seja, tal como a alergia alimentar, uma reação adversa que ocorre após a exposição a um alimento, ao contrário da alergia, esta não envolve o sistema imunitário.
No caso da intolerância à lactose, esta deve-se à incapacidade ou dificuldade do organismo em digerir a lactose (que é o açúcar natural do leite), provocada pela diminuição ou ausência da enzima lactase (responsável por essa digestão).
Assim, no caso da intolerância à lactose está em causa o hidrato de carbono (açúcar) e não a proteína, como na alergia. Além disso, as manifestações da intolerância são predominantemente gastrointestinais (vómito, cólicas, diarreia, náuseas) e não põem a vida do doente em risco.
Um outro fator diferenciador é o facto de a prevalência da intolerância ser também muito superior à da alergia.