Teresa Santos
Teresa Santos
29 Mai, 2020 - 17:50

Álcool gel e desinfetantes: os cuidados que deve ter

Teresa Santos

Subitamente, o álcool gel e desinfetantes passaram a fazer parte do quotidiano. Porém, há cuidados a ter na sua escolha e manuseamento. Saiba quais.

Álcool gel e desinfetantes: homem a desinfetar as mãos

O álcool gel e desinfetantes devem ser considerados tendo em conta dois aspetos distintos. Se, por um lado, falamos de desinfetantes certificados (vendidos em farmácias, supermercados, ou espaços afins) ou se, por outro lado, falamos de desinfetantes caseiros.

Ainda assim, em qualquer um dos casos, o uso de álcool gel e desinfetantes implica alguns cuidados e precauções, de forma a não correr riscos, nem desenvolver problemas de saúde, quando o seu propósito é, precisamente o contrário, ou seja, evitar a infeção pelo novo coronavírus.

Álcool gel e desinfetantes: cuidados que deve ter

Mulher a desinfetar as mãos

Comecemos por saber o que dizem as autoridades de saúde. O Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos da América defende que só tem um efeito desinfetante o álcool gel que possui, pelo menos, 60% de álcool.

Antonio Clemente Ruíz de Almirón, dermatologista e porta-voz da Academia Espanhola de Dermatologia e Venereologia, alerta ainda para a importância de usar álcool gel aprovado pelas agências reguladoras. Isto, porque só assim os efeitos de desinfeção estão garantidos, bem como estão prevenidos quaisquer riscos para a saúde (1). Além disso, os cuidados e precauções a ter são os seguintes:

1.

Pele seca

Mulher a hidratar as mãos

Uma das consequências tanto do uso do álcool gel e desinfetantes, como da lavagem mais frequente das mãos com água e sabão é, segundo Ruíz de Almirón, a pele seca ou quebrada. Quem tem a pele mais sensível pode mesmo começar a sofrer de dermatites irritativas.

Por essa razão, o especialista recomenda a aplicação de muito creme hidratante (idealmente com fator de proteção solar), precisamente para prevenir essa secura extrema (descamações, fissuras, unhas quebradiças e sangramentos) a que a pele pode estar mais sujeita.

Além disso, de acordo com o dermatologista, entre água e sabão e álcool gel, a escolha deve ser a água e sabão, não só por ser mais eficaz, como por ser mais seguro para a saúde da pele (1).

As mesmas ideias são defendidas por João Maia Silva, professor e dermatologista no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade. O uso excessivo de álcool gel pode causar eczema, tornando a pele excessivamente seca, com áreas vermelhas e descamativas, sobretudo no dorso das mãos, provocando prurido.

Já entre o uso do álcool ou do álcool gel, a Food Safety Brazil defende que, embora ambos possuam a mesma ação, o álcool etílico resseca mais a pele, pois o álcool-gel possui glicerina, emolientes e hidratantes que o tornam menos irritante. Além disso, a sua textura também facilita a aplicação, promovendo igualmente a sua eficácia (2).

2.

Dermatite

A dermatite de contacto irritativa não necessita de sensibilização prévia e é o tipo mais comum. Normalmente, a sua etiologia é multifatorial, relacionada com fatores endógenos e exógenos (químicos e/ou físicos), sendo as mãos o local mais afetado. (3)

Neste caso, a dermatite é provocada por substâncias ácidas ou alcalinas, como sabonetes, detergentes, solventes ou outras substâncias químicas. É espectável que estas lesões “não se espalhem”, ou seja, não se manifestem além das áreas que entram em contacto com essas substâncias.

3.

Versões caseiras

Mulher a desinfetar as mãos com solução alcoólica

É certo que a escassez de álcool gel e desinfetantes que se fez sentir nos últimos meses, levou muitas pessoas a produzirem algumas receitas caseiras desta substância.

A própria Organização Mundial da Saúde divulgou algumas fórmulas para preparar desinfetantes de mãos caseiros. Porém, essas “receitas” são especialmente dirigidas a profissionais e estabelecimentos de saúde.

Ruíz de Almirón lembra ainda que “uma das características do coronavírus é que é um vírus que possui uma camada lipídica e, portanto, é relativamente sensível aos desinfetantes comuns”. Logo, o especialista recomenda que, sempre que possível, a lavagem das mãos seja feita com água e sabão. Quanto tal não é possível, deve ter a garantia de que está a usar um desinfetante realmente eficaz e certificado (1).

4.

Inflamáveis, irritantes e tóxicos

Não convém esquecer que os produtos com álcool são sempre inflamáveis, irritantes e tóxicos. Por isso, há precauções específicas a ter, tais como (4):

  • Não aplicar desinfetante nas mãos, se depois for contactar com lume, como cozinhar no fogão, por exemplo
  • Não aproximar o desinfetante das mucosas, pois ele é irritante para os olhos, nariz e boca
  • Nunca inalar ou ingerir o desinfetante, pois trata-se de um produto tóxico. Por isso, não deve colocar o álcool-gel em recipientes não identificados, para evitar enganos. Em caso de intoxicação, deve ligar de imediato para o Centro de Informação Antivenenos – 800 250 250
  • Respeite sempre o prazo de validade do desinfetante
5.

Cuidados a ter especialmente com crianças

Mãe e filha a lavarem as mãos
  • O desinfetante deve estar sempre fora da vista e do alcance das crianças
  • Sempre que possível, deve lavar as mãos das crianças com água e sabão, explicando-lhes a importância daquele gesto
  • Não as deve deixar usar o desinfetante sozinhas
6.

Uso indevido

Os desinfetantes são para uso cutâneo exclusivo. Por isso, não devem ser utilizados na desinfeção de equipamentos, como telemóveis, por exemplo.

O que diz a Direção-Geral da Saúde?

Sobre o uso de álcool vinícola na produção de álcool gel, a Direção-Geral da Saúde explica que ele pode, efetivamente, ser utilizado na produção de soluções desinfetantes de base alcoólica, desde que o mesmo seja disponibilizado por uma empresa de destilaria acreditada.

Além disso, a empresa produtora do álcool gel, antes da disponibilização do produto desinfetante no mercado, deve notificar a Direção-Geral da Saúde, de acordo com as regras do período transitório, segundo as instruções disponíveis (5).

Fontes

  1. BBC. Coronavírus: os riscos do álcool gel feito em casa. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-51907893
  2. Food Safety Brazil. O álcool gel no combate à Covid-19. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/o-alcool-gel-no-combate-ao-covid-19/
  3. Isabel Rosmaninho, Ana Moreira, José Pedro Moreira da Silva. Dermatite de contacto: revisão da literatura. Disponível em: http://spaic.pt/client_files/files/dermatite-de-contacto-reviso-da-literatura.pdf
  4. Direção-Geral da Saúde. Higiene das Mãos nas Unidades de Saúde. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0072019-de-16102019-pdf.aspx
  5. Direção-Geral da Saúde. Questões frequentes. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/questoes-frequentes/
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