Share the post "Agorafobia: e se o medo nos torna incapazes de sair de casa?"
Para algumas pessoas, sair de casa pode ser motivo de pânico. A agorafobia é uma perturbação de ansiedade na qual existe uma restrição da liberdade de movimentos e uma limitação ao espaço familiar.
Pessoas com esta perturbação podem sentir-se extremamente incapacitadas no dia-a-dia, na medida em que algumas delas deixam de ser capazes de trabalhar fora de casa, deslocar-se ao supermercado para fazer as compras ou manter relacionamentos sociais.
AGORAFOBIA: UMA DAS FOBIAS MAIS COMUNS
Agorafobia significa, no seu sentido literal, medo da praça pública. É uma das fobias mais comuns e está relacionada com a ansiedade intensa provocada pela permanência em espaços abertos ou grandes espaços com multidões, de onde é difícil sair, como por exemplo, filas de supermercado.
Os pensamentos habitualmente presentes em quem sofre desta fobia estão associados ao medo de desmaiar, morrer, ou outras catástrofes, mais do que o medo das lojas ou espaços por si só.
A agorafobia, perturbação mais comum nas mulheres jovens, pode ser de tal forma grave, que pode levar a pessoa a fechar-se em casa. Mais ainda, frequentemente os sintomas estão presentes alguns anos, antes que o agorafóbico procure ajude especializada (1).
A limitação agorafóbica surge, de forma frequente, após a experiência de um ataque de pânico, o que conduz a ansiedade antecipatória e leva ao evitamento das situações temidas.
No entanto, existem também casos nos quais o quadro agorafóbico não é precedido de ataque de pânico. Estes casos habitualmente estão presentes em pessoas com história de ansiosa patológica e a agorafobia tende a estar mais circunscrita a certas situações, como autocarros, metro, elevadores, entre outras (2).
Relativamente à etiologia, acredita-se que a agorafobia se deve a uma combinação de fatores, nomeadamente: experiências de vida; traços psicológicos; fatores genéticos. Esta fobia em particular parece estar fortemente ligada a uma predisposição genética (3).
SINTOMAS DE AGORAFOBIA
Esta perturbação caracteriza-se pela presença de medo ou ansiedade marcados acerca de duas ou mais das seguintes situações:
- Utilização de transportes públicos (por exemplo, automóveis, autocarros, comboios, metros, barcos, aviões).
- Estar em espaços abertos (por exemplo, parques de estacionamento, mercados ao ar livre, pontes).
- Estar em espaços fechados (por exemplo, lojas, teatros, cinemas).
- Estar em pé numa fila ou estar no meio de uma multidão.
- Estar fora de casa sozinho.
Quem sofre de agorafobia, tem medo ou evita as situações acima descritas devido a pensamentos de que a fuga poderá ser difícil ou de que a ajuda poderá não estar disponível no caso de desenvolver sintomas de tipo ataque de pânico ou outros sintomas incapacitantes ou embaraçosos (por exemplo, medo da incontinência) (4).
A perturbação agorafóbica pode complicar-se e levar ao desenvolvimento de sintomas depressivos, sentimentos de inferioridade e sentimentos de incapacidade, devido às limitações e evitamentos associados à agorafobia (2).
E O TRATAMENTO?
À semelhança de outros transtornos mentais, a agorafobia é uma perturbação progressiva, ou seja, sem intervenção eficaz, vai piorando (1). O sucesso do tratamento geralmente depende da gravidade da fobia e pode incluir intervenção farmacológica e não farmacológica.
Pessoas que apresentam ataques de pânico como parte integrante da sua agorafobia podem beneficiar da prescrição de fármacos que visem prevenir o surgimento desses ataques de pânico ou reduzir a sua frequência e gravidade.
A intervenção não farmacológica engloba a aprendizagem de um conjunto de estratégias que permitem enfrentar e aliviar a ansiedade. Podem ser empregues diferentes técnicas, desde técnicas de relaxamento e respiração, exposição gradual às situações temidas, modificação ou eliminação de padrões de pensamento que contribuem para manutenção dos sintomas ansiosos, entre outras.
O grande objetivo do tratamento passa por ajudar a pessoa com agorafobia a funcionar no dia-a-dia e a ter uma maior qualidade de vida. O tratamento tende a ser complicado pelas dificuldades que estas pessoas apresentam em ir às consultas, levando a que alguns profissionais de saúde mental optem por, numa fase inicial, se deslocarem ao domicílio (3).
- Harrison, P., Geddes, J., Sharpe, M. (2005). Lecture Notes, Psychiatry. (9º ed.). Blackwell Science Ltd.
- Reis, G., Teixeira, J. (2007)Agorafobia Perspectivas fenomenológica e existencial. Aná. Psicológica v.25 n.4 Lisboa out. 2007. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v25n4/v25n4a12.pdf
- Psychology Today. (2019). Agoraphobia. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/intl/conditions/agoraphobia
- APA (2014). DSM 5. Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, 5ª Edição. Lisboa: Climepsi Editores.