A adolescência pode ser um período emocionalmente tumultuoso para toda a família e, em algumas situações, acaba por surgir um abismo entre pais e filhos. Vamos colocar em relevo as principais dores dos pais neste período e fornecer algumas pistas de como diminui-las.
Compreender a adolescência
A adolescência é um período em que tem lugar um rápido desenvolvimento físico e profundas mudanças emocionais. Tamanhas alterações podem ser emocionantes, mas também podem causar confusão e desconforto, quer no adolescente, quer no resto da família.
Na adolescência, as mudanças são diversas e ocorrem a grande velocidade, o que desencadeia algumas preocupações nos adolescentes e nos pais.
As grandes mudanças que chegam com a adolescência
- Mudanças Sociais: alterações de ciclo escolar; passar mais tempo com os pares; descoberta da sexualidade e início do namoro
- Mudanças Físicas: início da puberdade; alterações hormonais; rápido crescimento físico)
- Mudanças Psicológicas e Emocionais: alterações nas relações com a família e com os amigos; pensar e sentir de forma diferente; desentendimentos com a família à medida que desenvolvem as suas próprias ideias; conquista da independência) (1).
Adolescência: Compreender as dores dos pais
Ninguém disse que ser pai/mãe era fácil. Mas depois de ultrapassadas as noites sem dormir, as birras ou o primeiro dia de escola, muitos pais respiram de alívio e acreditam que o mais difícil já passou. Todavia, mais tarde chega a adolescência, que vem trazer confusão e agitação a algumas famílias, pelo que importa conhecer algumas das dores dos pais neste período.
Medo da rejeição
Uma das principais dores dos pais à medida que os filhos crescem é o medo da rejeição. De facto, é comum os pais sentirem-se rejeitados e, em certa medida, talvez tal aconteça durante o processo de desenvolvimento da identidade própria dos adolescentes. O aparente afastamento e os desacordos fazem parte do natural processo de independência dos mais jovens (1).
Medo do perigo
A adolescência é o momento em que os mais jovens começam a compreender melhor o mundo que os rodeia e o lugar que nele ocupam. Essa descoberta inclui, muitas vezes, novas experiências, algumas das quais podem ser mais arriscadas ou até perigosas.
Frequentemente, os mais jovens desejam atividades emocionantes, que podem ser perigosas. Felizmente, a maioria dos adolescentes consegue encontrar entusiasmo, prazer e desafio na música, no desporto ou noutras atividades saudáveis (1).
Medo do início da sexualidade e do primeiro desgosto amoroso
Alguns pais ficam especialmente perturbados e confusos quando os filhos iniciam a fase do namoro ou quando iniciam a descoberta da sexualidade. A sensação de, pela primeira vez, não ser a pessoa mais importante da vida do filho pode ser chocante e avassaladora e pode requerer algum tempo de habituação (1).
Medo da deterioração do ambiente familiar
Os pais sentem que perderam o poder de influência e o controlo sobre os filhos. Os adolescentes não aceitam as restrições à crescente liberdade que desejam e à capacidade de decidirem por si mesmos. Estas e outras divergências são comuns e saudáveis, mas nem por isso deixam de ser umas das principais dores dos pais.
O objetivo principal da adolescência é alcançar a independência. Para que tal aconteça, é saudável e natural que os adolescentes se afastem um pouco dos pais e vão começando a formar o seu próprio código moral (1, 2).
Como diminuir as dores dos pais?
A grande maioria dos jovens vive uma adolescência feliz, sem grandes sobressaltos, mantendo uma boa relação com os pais. Todavia, podem existir períodos de maior turbulência e incerteza, que causam as ansiedades e as dores dos pais. Estas 7 dicas podem ajudar a diminuir esses receios e preocupações:
1. Mais e melhor informação sobre a adolescência
É importante que os pais estejam preparados para o embate que a chegada da adolescência pode causar. Para tal, podem ler livros sobre a adolescência, bem como recordar o período em que eles mesmos foram adolescentes (2).
2. Conversar abertamente com os filhos desde cedo
Desde cedo, os pais devem estar disponíveis para responder às dúvidas e questões dos filhos, nomeadamente aquelas que estão relacionadas com os seus corpos, com as transformações da puberdade. Quanto mais cedo forem criadas linhas de comunicação saudáveis entre pais e filhos, mais provável é que estas se mantenham na adolescência.
No entanto, não é necessário sobrecarregar os mais novos com informação, mas antes ir acompanhando as dúvidas que vão surgindo. Na falta de certeza na resposta, os pais podem apoiar-se noutros familiares ou em profissionais de saúde que os possam ajudar (2).
3. Saber escolher as batalhas
Os pais podem fazer o exercício de pensar duas vezes antes de se oporem às decisões dos filhos. Por vezes, é melhor deixar que façam algo temporário e inofensivo e guardar as objeções para aquilo que realmente importa (2).
5. Respeitar a privacidade, sempre com atenção aos sinais de alerta
Os pais não podem esperar que os filhos partilhem tudo, a todo o momento. Os adolescentes prezam muito a sua privacidade e, por isso, os seus espaços e as suas coisas devem ser respeitadas.
Todavia, os pais devem continuar a garantir a segurança dos filhos, por exemplo, sabendo sempre onde estes se encontram e com quem. O desafio passa por alcançar a confiança necessária para que, gradualmente, os mais jovens possam gozar de alguma liberdade e autonomia.
Os pais devem manter-se atentos a alguns sinais de alerta, que podem indicar a necessidades de ajuda profissional, nomeadamente:
- Ganho ou perda extrema de peso
- Problemas de sono
- Mudanças drásticas e rápidas na personalidade
- Mudança repentina de amigos
- Indícios de uso de tabaco, álcool ou drogas (2)
5. Fazer da casa um lugar seguro
Apesar da enorme vontade que os adolescentes têm de explorar o mundo, é importante que sintam que têm sempre uma base segura e feliz para onde regressar (1).
6. Definir regras claras
Por mais crescidos e autónomos que estejam, os pais continuam a ser responsáveis pelos filhos e é saudável que lhes imponham regras e limites, que devem ser:
- Sensatas e razoáveis
- Claras
- Acordadas com o adolescente
- Consistentes
- Menos restritivas à medida que os adolescentes se tornam mais responsáveis (1)
7. Dar o exemplo
Embora se vão tornando cada vez mais independentes, os adolescentes continuam a aprender muito com os pais, pelo que estes devem continuar a ser um bom exemplo (1).
- Royal College of Psychiatrists. Surviving adolescence: for parents and carers. Disponível em: https://www.rcpsych.ac.uk/mental-health/parents-and-young-people/information-for-parents-and-carers/surviving-adolescence-for-parents-and-carers
- KidsHealth. A Parent’s Guide to Surviving the Teen Years. Disponível em: https://kidshealth.org/en/parents/adolescence.html