O puerpério corresponde ao período pós-parto, que começa após a expulsão da placenta ou dequitadura e dura cerca de 6 a 8 semanas. Este período corresponde ao retorno dos orgãos reprodutores da mulher ao seu estado pré-gravídico e termina quando retorna a ovulação.
Nas mulheres que não amamentam, regra geral a ovulação retorna no período de 6 a 8 semanas após o parto. Nas mulheres que amamentam isto pode manter-se durante 6 a 8 meses, dependendo da frequência das mamadas.
Durante o puerpério a mulher passa por diversas alterações hormonais, físicas e emocionais num curto espaço de tempo.
Pode ser dividido em 3 fases principais:
- Imediato: desde as 2 primeiras horas até ao 10º dia;
- Tardio: entre o 11º e o 42º dia;
- Remoto: a partir do 43º dia.
Neste período a mulher é chamada puérpera e vai recuperar-se, adaptar-se psicologicamente à nova rotina, iniciar a amamentação e estabelecer a relação mãe-filho.
Cerca de 6 semanas após o parto, a mulher deve ter uma consulta de revisão do puerpério, onde o médico obstetra ou ginecologista irá verificar se o útero está a cicatrizar corretamente e se não há alterações negativas.
Primeiras horas após o parto
Nas primeiras horas após o parto é incentivada a mobilização precoce (6 a 8 horas) da puérpera:
- Para diminuir o risco de fenómenos tromboembólicos;
- Para melhorar o transito intestinal;
- Para facilitar a recuperação física;
- Para contribuir para o bem estar da mulher.
A duração do internamento hospitalar é diferente consoante o tipo de parto. Caso seja um parto normal ou eutócico, a duração do internamento é de cerca de 48 horas. Se for cesariana geralmente acresce um dia, ou seja, 72 horas de internamento.
Durante a permanência no hospital é importante a vigilância da puérpera no sentido de detetar possíveis alterações como hemorragias internas ou infeções devido a permanência de restos de membranas e placenta no útero.
Recuperação do corpo após o parto
Após o parto e expulsão da placenta o corpo da mulher recupera através de alterações hormonais voltando ao seu estado antes da gravidez.
Involução uterina
Durante a gravidez, o útero aumenta cerca de 30 a 40 vezes o seu tamanho normal. A sua involução corresponde ao seu retorno ao seu tamanho normal. Isto acontece a uma taxa de 1 a 2 centímetros por dia durante cerca de 5 a 6 semanas.
Durante a amamentação é normal a ocorrência de contrações uterinas. Estas contrações ocorrem devido à hormona ocitocina, que tem efeito sobre a amamentação e a involução uterina.
Para que a o útero involua favoravelmente é importante manter a bexiga o mais vazia possível, como tal é recomendado urinar de 2 em 2 horas.
Mamas
Inicialmente moles e indolores, as mamas vão aumentando de tamanho após o parto e começam a segregar o primeiro alimento do bebé, o colostro. O colostro tem um aspeto aguado e surge em pouca quantidade mas é muito rico em proteínas e anticorpos. Isto é importante para proteger o bebé contra infeções enquanto o seu sistema imunitário ainda é imaturo.
Cerca de 2 a 3 dias após o parto inicia-se a descida do leite. Este fenómeno corresponde ao início da produção de leite pelo corpo da mulher e pode fazer com que as mamas fiquem tensas e dolorosas. No caso de não ocorrer devidamente o esvaziamento das mamas, o leite vai ficando retido provocando ingurgitamento mamário, podendo evoluir negativamente e provocar infeção mamária e febre.
Lóquios
Após o parto as paredes uterinas começam a descamar provocando a libertação de um corrimento vaginal. Este corrimento vai evoluindo ao longo de 3 a 6 semanas, apresentando diferentes características:
- Hemáticos: de cor vermelho vivo nos primeiros 2 a 4 dias;
- Sero-hemáticas: a intensidade da cor vermelha e a quantidade das perdas vão diminuindo;
- Serosas: cerca de 7 dias após o parto vão se tornando esbranquiçadas ou amareladas.
Estas perdas de sangue são totalmente normais e vão-se tornando cada vez mais reduzidas com o passar do tempo.
Incontinência urinária
A incontinência urinária é descrita com uma vontade súbita e incontrolável de urinar. Durante o puerpério é normal que ocorram algumas perdas urinárias, o que pode provocar constrangimento. Isto acontece devido à diminuição da força dos músculos da região pélvica.
Esta situação normalmente reverte cerca de 3 meses após o parto. Para acelerar este processo é aconselhada a realização de exercícios de Kegel:
- Contrair os músculos pélvicos (como se estivesse a impedir uma micção);
- Manter a contração durante 5 segundos;
- Relaxe os músculos expirando lentamente;
- Repetir a sequência 10 vezes. várias vezes ao longo do dia.
Estes exercícios podem e devem ser realizados várias vezes ao longo do dia.
Períneo
Muitas vezes, durante o parto, é realizada episiotomia que é uma incisão feita no períneo para ajudar à passagem do bebé. Esta incisão provoca dor e desconforto durante o puerpério.
Existem algumas medidas que podem ajudar a diminuir o desconforto e a ajudar na evolução favorável:
- Duche diário;
- Evitar banho de imersão;
- Colocar gelo na região perineal várias vezes ao dia nos primeiros 2 a 3 dias;
- Evitar estar muitas horas na mesma posição;
- Deitar preferencialmente de lado;
- No caso de evacuação deve ser realizada higiene perineal;
- Mudar regularmente o penso higiénico.
Normalmente os pontos da episiotomia são absorvíveis.
Hemorróidas
As hemorróidas são veias dilatadas e salientes dentro e em torno do ânus e no recto, que podem sangrar ou não. Podem surgir durante a gravidez ou durante a fase expulsiva do parto.
Para ajudar a diminuir a dor e desconforto associados à presença de hemorróidas pode:
- Ingerir bastante água;
- Aumentar a ingestão de fibras;
- Aplicar gelo várias vezes ao dia.
No caso de persistência da dor e desconforto é aconselhada a procura do médico.
Ferida cirúrgica abdominal
Se o parto for através de cesariana, é realizada uma incisão abdominal, logo acima do osso púbico.
A parte superficial normalmente cicatriza ao fim de 1 a 2 semanas. A ferida resultante da incisão uterina demora cerca de 5 a 6 semanas a cicatrizar.
Recomendações para a recuperação da ferida abdominal:
- Repousar;
- Evitar esforços;
- Usar cinta pós-parto.
Recuperação emocional no puerpério
No momento em que nasce um bebé, nasce também uma mãe. A vida da mãe passa a estar exclusivamente centrada no bebé e no seu bem-estar. Existem várias situações novas que necessitam de uma adaptação rápida da mãe, como a amamentação em horário livre, ou as horas sem dormir. Este esforço para a rápida adaptação pode causar:
- Insónia;
- Exaustão física;
- Alteração da imagem corporal;
- Diminuição do desejo sexual;
- Depressão pós-parto.
Durante este período é normal sentir emoções tais como alegria, tristeza, medo, fracasso ou angústia. Neste momento é fundamental o suporte familiar.
Dicas para a recuperação emocional da mulher
- Manter o bebé perto e conhecê-lo;
- Amamentar o bebé para ajudar a estabelecer o vínculo afetivo;
- Compartilhar os sentimentos;
- Arranjar algum tempo para si própria.