Share the post "Colesterol: valores de referência e a importância do estilo de vida"
Normalmente encarado como um “vilão”, o colesterol é, na verdade, um elemento lipídico essencial ao organismo (quando se encontra dentro dos valores saudáveis), sendo produzido a nível do fígado ou obtido através da alimentação.
Com efeito, o colesterol é um composto fundamental para a produção de vitamina D, uma vitamina essencial para a absorção intestinal de cálcio, de ácidos biliares, essenciais à digestão, e na produção de diversas hormonas, como as hormonas sexuais e o cortisol.
Tem também uma importante função estrutural, estando presente nas membranas de todas as células do organismo.
“Bom e Mau” colesterol
O colesterol circula na corrente sanguínea através de proteínas que se dividem em dois grandes grupos:
- as de baixa densidade (LDL), que transportam o colesterol produzido no fígado para os restantes órgãos para ser utilizado e incorporado nas membranas.
- as de elevada densidade (HDL), que transportam o colesterol dos tecidos para o fígado para ser eliminado.
No entanto, importa referir que as proteínas de baixa densidade quando circulam em quantidades excessivas, podem acumular-se nas paredes dos vasos sanguíneos e começar a desenvolver um processo inflamatório, nocivo para o organismo. São, por isso, chamadas de “mau colesterol”, enquanto as HDL de “bom colesterol”.
Neste contexto, é possível concluir que a problemática do colesterol surge quando os valores de colesterol total e LDL se encontram acima do recomendado, podendo impactar negativamente a circulação sanguínea e a função cardiovascular.
Valores de referência
Os valores de referência variam de acordo com o tipo de colesterol. Veja abaixo.
- Colesterol Total: inferior a 190mg/dl
- Colesterol LDL: inferior a 115mg/dl
- Colesterol HDL: superior a 35mg/dl nos homens ou 45mg/dl nas mulheres
Para doentes de risco (com patologias cardiovasculares, diabetes ou insuficiência renal, entre outras) os valores de LDL, HDL e colesterol total descem para 100mg/dl, 40mg/dl e 175mg/dl, respetivamente.
Consequências do colesterol elevado
Como referido anteriormente, quando o colesterol total e o colesterol LDL se encontram elevados, aumenta o risco de deposição das proteínas transportadoras e do próprio colesterol na parede dos vasos sanguíneos, desencadeando um processo inflamatório.
Este processo inflamatório que se desencadeia agrava a situação, pois potencia a deposição de mais colesterol e mediadores inflamatórios no local, perturbando o normal funcionamento do sistema circulatório.
A este processo dá-se o nome de aterosclerose, sendo este o ponto de partida para os diversos problemas cardiovasculares que se assumem, atualmente, como as principais causas de mortalidade e morbilidade nos países desenvolvidos, em particular a hipertensão, insuficiência cardíaca, angina de peito, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e trombose.
A formação da placa aterosclerótica aumenta a rigidez dos vasos sanguíneos e diminui o seu calibre, pelo que a circulação sanguínea se torna menos fluída e o coração necessita de realizar um maior esforço para que o sangue chegue até aos tecidos.
Por sua vez, esta maior dificuldade para bombear sangue pode levar à sua insuficiência e consequente limitação do fluxo de sangue até aos órgãos, o que pode comprometer o seu normal funcionamento, incluindo o do próprio músculo cardíaco, provocando dores ao nível do peito e, em casos mais graves, a necrose (morte) das células cardíacas.
Sendo as doenças cardiovasculares uma das principais doenças crónicas responsáveis por mortalidade e morbilidade elevadas, adquire extrema importância normalizar os valores de colesterol total e LDL para prevenir, de forma mais eficaz, esta problemática.
Como reduzir, de forma saudável, o colesterol?
Se, por um lado, existem fatores de risco incontornáveis para o aumento de colesterol, em particular a hereditariedade e o aumento da idade, existem outros fatores associados a estilo de vida que dependem do controlo individual, nomeadamente tabagismo, sedentarismo e alimentação desequilibrada.
Cuidados alimentares
No que toca à alimentação, o consumo de grandes quantidades de gordura saturada e trans constitui o principal fator responsável pelo aumento dos níveis de colesterol.
Por outro lado, a adoção de uma dieta próxima do padrão alimentar mediterrânico e o aumento do consumo de alimentos ricos em fibra, em particular frutas e verduras, leguminosas e cereais integrais, desempenha um papel protetor do aumento do colesterol, visto que promovem a sua excreção por via intestinal.
Além da fibra, também as gorduras insaturadas, presentes em alimentos como azeite, sementes, frutos oleaginosos (nozes, amêndoas, avelãs) e peixes gordos, estão associadas à redução dos valores de LDL e ao aumento dos valores de HDL.
Estilo de vida ativo e saudável
Por outro lado, a prática regular de exercício físico e a redução dos níveis de sedentarismo, são também um importante aliado para a redução dos valores deste indicador.
Por último, a limitação de hábitos tabágicos e alcoólicos, assim como um adequados períodos de sono de descanso, podem também ser relevantes para redução deste indicador e da incidência de doenças cardiovasculares.
Alimentos ricos em colesterol
Terão influência significativa nos níveis de colesterol sanguíneo?
Relativamente aos alimentos mais ricos em colesterol, podemos verificar que se centram no ovo, vísceras, camarão e moluscos.
Alimento | Teor de colesterol (mg / 100g) |
Ovo (de galinha), gema crua | 1280 |
Ovo de codorniz cru | 643 |
Ovo (de galinha) estrelado | 435 |
Ovo (de galinha) cozido | 408 |
Ovo (de galinha) inteiro cru | 408 |
Rim de porco, cru | 395 |
Fígado de vitela, grelhado | 387 |
Fígado de galinha | 380 |
Omelete | 359 |
Ovas de bacalhau cruas | 330 |
Pulmões de porco | 320 |
Camarão cozido sem sal | 308 |
Fígado de vaca, cru | 283 |
Fígado de porco, grelhado | 267 |
Lula grelhada | 260 |
Mousse de chocolate | 256 |
Manteiga com / sem sal | 230 |
Leite creme | 227 |
Pão-de-ló | 214 |
Pota crua | 209 |
Com efeito, durante muito tempo os alimentos mais ricos em colesterol, em particular ovos, marisco e moluscos, foram praticamente abolidos da alimentação, apesar de terem um perfil nutricional interessante no que diz respeito a proteína e micronutrientes, por se pensar que eram os responsáveis diretos do aumento do colesterol LDL no sangue.
No entanto, sabe-se, atualmente, que alimentos ricos em colesterol, mas que simultaneamente sejam pobres em gorduras saturadas, têm um impacto muito residual no colesterol sanguíneo.
Por esse motivo, mais relevante do que restringir a ingestão de alimentos ricos em colesterol, importa limitar o consumo de alimentos ricos em gordura saturada e trans e que, em muitos casos, são também ricos em colesterol.
- Carne: sobretudo de animais ruminantes, como bovinos, borrego e cabrito, e pele de aves.
- Enchidos / produtos de charcutaria: chouriço, farinheira, morcela e produtos semelhantes.
- Vísceras.
- Laticínios gordos.
- Manteiga.
- Produtos de pastelaria e confeitaria.
- Alimentos processados – algumas bolachas, chocolates, salgadinhos, molhos e gorduras vegetais modificadas (principalmente margarinas utilizadas para fins industriais).
- Produtos de fast food – pizzas, hambúrgueres, sopas e refeições pré-feitas e congeladas).
Artigo originalmente publicado em Janeiro de 2021. Atualizado em Novembro de 2022.