Quando se pensa que os jovens estão mais informados e que a gravidez na adolescência não é um problema, os números mostram o contrário: 15% dos bebés nascidos em Portugal em 2010 tinham mães adolescentes, de até 19 anos. De lá para 2018 esta taxa caiu para quase metade.
Em 2020, de acordo com os dados mais recentes, 2,1% dos partos ocorridos foram de mães adolescentes – um total de 1763 partos. Os números colocam Portugal como um dos países com maior taxa de gravidez na adolescência.
Gravidez na adolescência: porque acontece?
Algumas destas gravidezes precoces acontecem por descuido, outras por ignorância, porém, também não faltam casos de adolescentes que decidiram engravidar para marcar uma posição junto dos pais ou até porque julgam que, assim, conseguem a sua liberdade.
De acordo com os dados da Associação para o Planeamento da Família, a maioria dos casos de gravidez na adolescência acontecem na zona de Lisboa, do Alentejo e do Algarve e estão relacionadas com famílias mais carenciadas e com baixo nível de formação mas não só.
10 Dicas para evitar uma gravidez na adolescência
1. O que pensa sobre o assunto
Antes de abordar a questão com os seus filhos, faça uma reflexão sobre o que pensa sobre o assunto para organizar ideias. O que pensa sobre jovens sexualmente ativos?
Qual é a solução quando acontece uma gravidez na adolescência? Com que idade iniciou a sua vida sexual? O que pensa sobre a abstinência sexual na adolescência? Qual é a sua opinião sobre contraceção nestas idades?
2. Fale sobre sexo antes da adolescência
Na adolescência já é tarde para falar sobre sexo com os seus filhos. Nesta fase, é possível que já tenha acontecido e, além disso, os adolescentes valorizam mais os seus pares do que os pais. Aproveite que as crianças começam cedo a ter dúvidas sobre sexo e use cada uma delas para os esclarecer.
Ao contrário do que pode julgar, a maioria dos adolescentes afirma que preferia ter tirado todas as dúvidas sobre sexo com os pais, no entanto, espera que a iniciativa parta dos mais velhos. Se não sabe por onde começar, aproveite uma situação num filme ou numa série, por exemplo.
E se os seus filhos apresentarem dúvidas para as quais não tem resposta, não tenha receio de revelar o seu desconhecimento, porém, procure informar-se para mais tarde os conseguir esclarecer. Faça deste tema, uma conversa e nunca uma lição.
Pergunte-lhes opinião e sobre aquilo que já sabem sobre sexo para que possa esclarecer qualquer ideia errada que possam ter. Por fim, não apresente a questão apenas pelo lado negativo e explique as razões porque o sexo é tão atraente.
3. Estabeleça regras e expectativas
É importante manter o canal de comunicação aberto com os seus filhos, para que eles saibam que podem sempre contar consigo para tirar dúvidas ou resolver problemas, no entanto, as regras são essenciais.
É necessário estabelecer regras, horários para saídas e de deitar, assim como ter bem definido aquilo que espera do seu comportamento. Supervisione e controle aquilo que o seu filho faz dentro e fora de casa, saiba sempre onde estão e com quem questão. Não, isso não faz de si um bisbilhoteiro, faz de si um pai. Um dia mais tarde eles agradecem.
4. Conheça os seus amigos e as suas famílias
Porque é que isto é importante para prevenir uma gravidez na adolescência? A sabedoria popular responde: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Nesta idade, os amigos representam uma grande influência nas suas atitudes e a personalidade do seu filho ainda se está a formar.
É importante que se rodeiem de pessoas que partilhem os mesmos valores e que possam ser bons exemplos. As más influências (ainda que as próprias não tenham perceção que o são) vão sempre existir mas cabe-lhe a si minimizar esses riscos a partir de casa, conversando e sendo também um bom exemplo.
5. Desencoraje relações sérias em tenra idade
Quando alguém se apaixona, seja em que idade for, acredita que esse amor será para durar toda a vida. Naturalmente, proibir um namoro pode trazer mais mal do que bem, no entanto, relações firmes e duradouras ainda antes dos 16 anos são de desencorajar.
Esse é um trabalho que começa muito cedo, ainda na infância e é por isso que é crucial manter o diálogo aberto com os seus filhos.
6. Atenção à diferença de idades
Não permita que a sua filha namore um rapaz muito mais velho, nem que o seu filho namore uma rapariga muito mais nova. Qual é a forma de fazer isto? Estando muito atento às amizades e às saídas. Sim, é o (um dos) seu trabalho enquanto pai.
A diferença de idades pode influenciar e exercer pressão na decisão sobre ter relações sexuais, levar a situações perigosas de abuso ou de sexo sem proteção.
7. Mostre-lhes o futuro de forma clara
As estatísticas mostram que adolescentes sem perspetivas de futuro, sem um plano de estudos ou profissional, são os que avançam com uma gravidez na adolescência. Para estes jovens, essa é a sua única saída, a maternidade apresenta-se como o único projeto de vida possível e, muitas vezes, é a forma que vêm de oferecer a outro ser uma vida diferente da sua.
Com isto não queremos dizer que a maternidade não deve ou pode ser um projeto de vida, pelo contrário. Porém, há um tempo para tudo na vida e, na adolescência, nem rapazes nem raparigas estão preparados física ou psicologicamente para serem pais. Aliás, a gravidez na adolescência é considerada uma gravidez de risco.
8. A educação como o único caminho
Por isso, encoraje e ajude os seus filhos a levar a escola a sério. Também aqui, não basta dizer é preciso fazer. Se o seu filho sentir que a escola foi e é importante para si, se sentir que os seus sucessos escolares são uma prioridade e se notar que, em casa, aprender é importante, vão automaticamente absorver esse comportamento.
Incentivar e partilhar em família o gosto pela leitura é uma forma de o fazer.
9. Esteja atento ao que veem e leem
Se, em determinadas fases da vida, conteúdo explícito sobre sexo pode ser ótimo para a sua vida sexual, em tenra idade isso trará danos irreversíveis na vida de uma criança, quando ainda não tem maturidade para destrinçar o certo do errado.
Nos dias em que vivemos, tudo está à distância de um clique, por isso, é importante monitorizar o que os seus filhos leem e veem. Lembre-se que nem só na pornografia pode estar o mal, há programas televisivos (em canais generalistas e em horário nobre) ou mesmo músicas que podem passar uma ideia errada a crianças e adolescentes.
Naturalmente, será difícil controlar aquilo a que a têm acesso quando com os amigos, por isso, mais do que monitorizar o conteúdo que consomem, é importante conversar sobre o que é certo, o que é errado e promover um pensamento crítico para que tomem as suas próprias decisões e não se deixam influenciar por terceiros, levando-os a fazer algo que não queiram.
10. A educação sexual começa em casa
Para além de tudo isto (sabemos que não é pouco!), explique aos seus filhos, sejam rapazes ou raparigas algumas coisas básicas e essenciais:
- Como funciona o seu corpo;
- O que é o período fértil;
- Quando acontece a ovulação;
- O que é de verdade a menstruação;
- Que cuidados devem ter com os seus aparelhos reprodutores (muito descurado no caso de meninos mas absolutamente essencial);
- Que métodos contracetivos têm à disposição.
Apesar de muitos destes temas serem abordados na escola, faça este trabalho em casa e quebre mitos, explique as consequências de uma gravidez e tudo o que vão ter que abdicar, entre tantas outras questões práticas que também importa abordar.
Conclusão
Esforce-se por manter um relacionamento com os seus filhos que assente numa disciplina firme mas com comunicação permanente, confiança e respeito mútuos. Tenha consciência que, no que diz respeito ao sexo, não basta ter “a conversa”, assustar quanto às doenças sexualmente transmissíveis e as consequências de uma gravidez indesejada.
A educação para a sexualidade comece em tenra idade e, como em tudo, será melhor ou pior sucedida de acordo com o exemplo que as crianças e adolescentes têm em casa. Os seus filhos precisam, em qualquer idade, de manter uma relação próxima com os pais que devem ser o seu pilar de segurança e o farol de orientação.